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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Tropa brasileira vigia mina de ouro na Amazónia

As Forças Armadas e polícia brasileiras começaram a patrulhar a zona da efervescente mina de ouro conhecida como Novo Eldorado e situada nas profundezas da floresta amazónica. O objectivo é impedir a escalada do crime, controlar a disseminação de doenças e zelar pela protecção ambiental, informaram as autoridades. São cerca de 6000, segundo as estimativas oficiais, os garimpeiros acampados numa zona de floresta situada a cerca de 80 quilómetros de distância (por estrada e pelo rio) da cidade de Apuí, estado do Amazonas, Brasil.
"Controlamos as estradas e cursos de água que dão acesso ao local, impedindo a circulação de armas de fogo, drogas e prostitutas", explicou Mauro Sposito, o agente da polícia federal responsável pela operação. "É preciso agir já, caso contrário as minas transformam-se numa grande confusão. Perto de 90 agentes federais armados, com o apoio de helicópteros da Força Aérea, patrulham a região.m Sposito disse que a criminalidade já estava a subir. Em Apuí, ladrões assaltaram um mineiro, levando consigo três quilos de ouro, num valor próximo de 117.000 reais (cerca de 40.500 euros). Como termo de comparação, o salário médio mensal de um trabalhador rural é de 350 reais. Desde que, em Dezembro, se tornou pública a descoberta de jazidas de ouro na região, camponeses, políticos e até padres pegaram em pás e picaretas para se lançarem na tarefa de cavar no duro solo de barro e peneirar a terra nas águas do vizinho rio Juma. As autoridades estão preocupadas com um surto de malária e outras doenças, uma vez que as condições sanitárias se vão degradando e os fossos da mina se vão enchendo de águas estagnadas, onde se multiplicam rapidamente os mosquitos que disseminam estas doenças mortais.
"Estou preocupado. O nosso hospital já está cheio de mineiros com malária, hepatite e doenças venéreas, é uma tragédia", desabafa o prefeito de Apuí, António Roque Longo. As autoridades estão apostadas em evitar a repetição do que aconteceu na Serra Pelada, outra mina na Amazónia que atraiu milhares de garimpeiros (cerca de 30.000) na década de 80 do século XX.
Imagens das condições de trabalho dignas do tempo da escravatura, com mineiros andrajosos e cobertos de lama carregando aos ombros sacos de terra tornaram-se famosas a nível mundial, após serem captadas pela objectiva do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Responsáveis ambientais garantem que, apesar de terem sido derrubadas árvores numa área equivalente à de dois campos de futebol, não há indícios de que os garimpeiros estejam a utilizar mercúrio (uma substância tóxica) para forçar o ouro a aglutinar-se em pepitas.
"Até agora, o impacto é limitado. Proibimos os mineiros de entrar com maquinaria pesada, o que previne danos mais extensos", explicou Mário Jorge, inspector-chefe em exercício da agência de protecção ambiental Ibama, em Manaus. Os mineiros formaram uma cooperativa e é-lhes permitido escavar à procura de ouro, enquanto o Governo decide se lhes será atribuída uma licença de exploração. Com o preço do ouro a subir nos mercados internacionais, cada vez mais pessoas da região se lançam à terra na busca do seu bilhete para fugir à pobreza. Mas o prefeito de Apuí diz que esta exploração desordenada das minas traz mais problemas do que vantagens. "Os mineiros entram em frenesim e a minha cidade fica à mercê do crime, da prostituição e das drogas", lamenta. "Quem me dera que desaparecessem."
Fonte: Raymond Colitt, Jornalista da Reuters, Publico

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