PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Opinião: DO COMBÓIO OU DO MAQUINSTA?

Imaginem um comboio, novinho em folha, colorido, que está colocado sobre os carris pronto a iniciativa a sua viagem. O maquinista receber ordem de marcha, mas não consegue. O veículo continua parado. Sem respostas, é substituído por outro maquinista, anda mais experiente. Tudo se repete, como antes. Que raio se estaria a passar. Um comboio novo, maquinistas experimentados, e nada. Um terceiro maquinista, ainda mais experiente é chamado a assumir o comando, mas o trem não se imobiliza. E assim sucessivamente, por pura teimosia. Até que no final da décima tentativa alguém, finalmente, coloca a questão certa: e se o motor do comboio estiver avariado? Estava mesmo, faltava-lhe qualquer peça. Imaginem que o comboio desta história de ficção é o PSD e que os maquinistas foram Marques Mendes, Filipe Meneses e um terceiro que se seguirá, a seu tempo. O problema, neste caso, é saber – até porque os carris estão lá e a direcção há muito que está definida – se finalmente este comboio vai iniciar a sua caminha, tranquila mas determinada, galgando os carris, quilómetro após quilómetro, até chegar sem incidentes ao destino final.
Uma coisa é certa: não pensem que o actual maquinista aceita a substituição de ânimo leve, depois de ter andado anos a engendrar um esquema que o levasse ao poder no partido que ainda lidera. Luís Filipe Meneses não vai deixar o “trono” assim, sem mais nada. A entrevista dele sexta-feira à SIC Notícias foi um espectáculo de porrada nos seus principais adversários internos. Confesso que nalgumas coisas lhe dei razão total. Noutras, obviamente que não. Mas fracamente gostei. Porque acho que os líderes partidários devem abandonar o politicamente correcto e a linguagem oca para partirem para o confronto, devem ter a liberdade de atacar os seus críticos com a mesma veemência utilizada contra eles, devem visar, com nomes e tudo, directamente, sem contemplações quem lhes andou a minar o caminho, em grande medida por alguém lhes facilitou esse trabalho boicotador. Até Paula Teixeira (acusada de gozar de total “impunidade”…) foi acusada, e bem, nomeadamente responsabilizada de ter sido a “coveira do PSD em Lisboa”. Quando a Pacheco Pereira – por ventura o mais contundente dos comentadores críticos do ainda líder do PSD – gostei de Meneses garantir que ele teria chances de ganhar a Junta de Freguesia da Marmeleira…
No mesmo dia em que Meneses se demitiu, escrevi no meu blogue (gostem ou não dele) que era importante que Rui Rio (o Presidente da mais importante Câmara Municipal ainda nas mãos do PSD), Santana Lopes (líder parlamentar na Assembleia da República e último primeiro-ministro do PSD) e Alberto João Jardim (o Presidente do Governo da única região autónoma que continua a ser liderada pelo PSD) - todos eles elementos históricos, personalidades com peso no partido e com visões diferentes dos problemas, com sensibilidades naturalmente distantes, mas cada qual com o peso político pessoal e eleitoral que incontestavelmente têm - se reunissem, para que possam discutir o PSD, falar de tudo e de todos, abertamente, com franqueza, sem hipocrisias, sem constrangimentos, sem qualquer preocupação pelo politicamente correcto, tentando encontrar caminhos para a crise actual. Não estou a dizer que o candidato deveria sair de entre eles, embora todos eles pudessem sê-lo. Estou apenas a afirmar, e a repetir, que provavelmente muito do futuro do partido passará pelo entendimento que estes três homens encontrarem entre si. Disse o que achei que deveria dizer. Portanto, estou-me absolutamente borrifando se disse ou não alguma “asneira” – já não ligo a essas catalogações – ou se tracei um cenário perfeitamente plausível. O que me interessa reafirmar hoje, é que mantenho essa ideia, e que espero que no PSD da Madeira alguém – e há quem no PSD da Madeira possa tratar deste assunto… - permita que isso aconteça rapidamente. Porque entramos numa espiral de nomes, uns auto-promovidos, incapazes de perceberem o que está em jogo, outros fabricados na comunicação social, transformada em palco de experimentações ou numa arena ensaiadora de divisionismos ainda mais acentuados, que fragilizariam ainda mais o PSD, outros geridos por grupos de pressão externos ao PSD, outros sugeridos por grupos de interesse que hesitam entre a colagem oportunista ao PS, a pensar em 2009, e o manter um pé na outra margem, etc.
Confesso que no fim-de-semana passado temi pela possibilidade de podermos estar perante uma descarada fantochada, protagonizada por Meneses e pelos seus apoiantes mais directos que, nesta perspectiva, teria apresentado a demissão da liderança do partido e provocado “directas” com a intenção deliberada de provocar e ajustar contas com os críticos, como se estes fossem obrigados a isso, ou como se o problema do PSD fosse outro que não o próprio Meneses, particularmente a sua estratégia, o seu reduzido espaço de actuação (não está na Assembleia da República onde deveria estar) e algumas das figuras que o rodeiam.
Lamento, sinceramente, o estado a que as coisas chegaram. Alguns dos que hoje detêm o poder no PSD, são pessoas que mostraram, nalguns casos de uma forma dramaticamente evidente, uma especial apetência pelo supérfluo, pela manipulação da imagem, pelo tratamento laboratorial da comunicação política, retirando a naturalidade que um líder tem que ter, numa expressão vocação para manobras tontas que ajudaram a acelerar este desfecho. O problema do PSD nacional tem a ver apenas e só com uma solução falhada, olhando para as sondagens, para os “casos”, e para todos os problemas e contradições que marcaram este percurso de seis meses, tudo por causa de uma indesmentível inabilidade política. Meneses não percebeu duas coisas essenciais: foi eleito por uma facção do partido, graças à capacidade de mobilização desta, mas nem sequer conseguiu unir o partido. E nem estou a valorizar o protagonismo crítico de alguns membros de uma determinada “casta” elitista partidária, porque tenho a convicção que ganham projecção mediática em função do espaço que têm na comunicação social. E nem falo nos que considerando que o grande problema de Meneses estava ao seu lado, o seu secretário-geral. Convocar directas para continuar tudo na mesma, não passando este teatro de uma encenação montada, de um golpe palaciano sem consequências porque os críticos continuariam a ser críticos? Era o que nos faltava. Felizmente que Meneses nessa entrevista á SIC Notícias colocou-se à margem de uma recandidatura, depois do seu secretário-geral - mais uma vez ele! – ter durante a tarde desse mesmo dia tentado confundir os jornalistas, inclusivamente admitindo esse cenário estapafúrdio da recandidatura.
E não me venham, agora com a conversa – porque é disso que se trata – de que o adversário está lá fora, está mesmo, no PS liderado por Sócrates. Pois está. Está, e vai continuar a estar. Mas antes de nos preocuparmos com esse adversário político, que precisa de um combate lúcido, contundente, no local próprio (que não na comunicação social), constante, perceptível junto das pessoas e consistente e credível na argumentação - o que nada tem a ver nem com demagogia nem com o deixar-se ir a reboque de agendas políticas ou de acontecimentos que não controlam - há pequenos outros “adversários” cá dentro, menos importantes, tão ou mais desgastantes que esse PS que está “lá fora”, com os quais temos de que nos preocupar e de combatê-los de forma exemplar, em vez de os varrer para debaixo do tapete para depois, quando nada for possível, por ser tarde demais, tentarmos encontrar bodes expiatórios para erros que foram cometidos graças à nossa cumplicidade.
Meneses teve o mérito, há que o reconhecer, de ter despoletado já esta crise -que se sabia inevitável ao longo de 2009 – agora, no momento próprio, porque o PSD disporá de tempo para reflectir e para resolver esta falta de confiança, tempo que não teria se tudo isto se passasse em finais de 2009. Ninguém ganha um partido, muito menos um país, num ano, pior ainda se dispuser de apenas cinco ou seis meses.

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 21 de Outubro de 2008)

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast