Opinião: Novo ciclo?
Hoje, segunda-feira, desconheço quem ganhou as “directas” no PSD. Considero que a normalização da vida interna no PSD, o maior partido da oposição, é importante, para a democracia e para os portugueses, que cada vez mais percebem que precisarão de uma alternativa em 2009, que provavelmente nem se fica pela certeza de que os socialistas já perderam a maioria absoluta com que sonham repetir. Uma sondagem recente – o que justifica um nervosismo que começa a ficar bem patente – colocava PS e o PSD praticamente "empatados" nas intenções de voto dos portugueses, com os socialistas a registarem o valor mais baixo desde as últimas legislativas, em 2005. Curiosamente – realidade que também incomoda o PS, porque revela que, à esquerda, estarão a dar “dentadas” no eleitorado socialista – os dois partidos mais à esquerda (PCP e Bloco), juntos, alcançavam 24%. Os dados deste barómetro político mantém o PS, apesar de tudo, na primeira posição em termos de intenção de voto, mas praticamente "empatado" com o PSD (os resultados de Maio dão às intenções de voto no PS 33%, menos 13,2% que no mês anterior e menos 29,5% relativamente a Maio do ano passado. O PSD mantinha o segundo lugar, com uma intenção de voto de 32%, mais 1,6% que em Abril e mais 17,2% comparativamente a Abril de 2007.
É para esta realidade que – seja qual for o líder eleito – o PSD tem que estar atento. Os social-democratas não podem pensar, passadas as “directas”, e pelo simples facto de, pretensamente, terem resolvido um problema interno, que se podem acomodar ou admitir que, pelo facto de terem agora um novo líder – seja ele qual for, porque todos eles garantiam mais sucesso que o demissionário Meneses - já ganharam as eleições. O SD continua a precisar de resolver o seu problema de fundo, o da unidade interna, da estabilidade, mas isso tem muito a ver com a dimensão da vitória do eleito – que na altura que escrevo este texto desconheço e da configuração, que pode ser altamente manipuladora e castradora, do Congresso em termos delegados eleitos ou com direito a voto, já que àqueles se juntam inerências.
Pressionando, à direita e à esquerda - mas sobretudo aqui, onde se encontrará a parcela mais significativa de eleitorado flutuante que mais naturalmente pode ser considerado potencial eleitor dos socialistas - é evidente que o PS e o Governo de Sócrates, apesar dos efeitos da crise internacional, que podem condicionar toda uma estratégia já delineada para 2009, devido ao facto da crise estar a ter um impacto superior ao que eles esperavam, tudo farão parda recuperar posições, embora não lhes reconheça muito espaço de manobra, principalmente se esta situação se prolongar por muito mais tempo. O PS ficou a saber que os comunistas reocuparam nesta sondagem que venho citando, a terceira posição em termos de intenção de voto, com quase 13% (12,8%). Além de que foram eles a protagonizar a maior subida homóloga (52,4%). O Bloco de Esquerda desceu para quarto lugar, com uma intenção de voto ligeiramente superior a 11% (11.3%), um pouco abaixo dos 11,5% registados no mês anterior. Curiosamente o CDS-PP, continua mergulhado na última posição, embora tivesse obtido este mês 6,7%, o valor mais elevado desde Setembro de 2007, e que representou a maior subida mensal comparativamente aos demais partidos com assento parlamentar (55,8%). Admito que uma estabilização destes valores, já que é de mandatos que importa falar e não de percentagens eleitorais, poderá garantir uma maioria de esquerda envolvendo PS, PC e Bloco, o que significa dizer que a tarefa do PSD não se me afigura fácil. As ideias terão que aparecer, as alternativas terão que começar a ser devidamente preparadas e apresentadas de forma fundamentada e acessível, a demagogia tem que ser banida e os erros do passado não podem ser escamoteados. Julgo que a manutenção desta queda da imagem do governo, bem como das intenções de voto no PS, podem ajudar a construir as bases para um novo entendimento entre o PSD e o CDS/PP, até porque estes valores estão muito longe de garantirem aos social-democratas uma vitória expressiva.
Caso o PSD, regresse à rotina da barafunda, da disputa por influências regionais, da instabilidade, em que alguns sectores mais elitistas se julgam no direito de desestabilizar, pelo simples facto de não serem capazes de viver longe das luzes da ribalta - leia-se fora do mediatismo propiciado pelos meios de comunicação social, se por cada declaração mais crítica ou polémica o seu autor encontrar na comunicação social a caixa de ressonância que transforma uma insignificância e um insignificante num facto político à escala nacional, se continuarem a existir os diferentes grupos de interesse e de pressão, que há mais de dez anos condicionam e manipulam o PSD, então teremos mais do mesmo, porque será tudo uma questão de tempo. Tenho fortes dúvidas que o PSD tenha capacidade para resistir a uma nova derrota, em 2009, com a amplitude da que sofreu em 2005. Julgo que se isso acontecesse – não vai acontecer - não seria demagógico, nem descabido nem muito menos utópico colocar o desafio seguinte do PSD, num patamar muitíssimo mais elevado, o de lutar pela garantia da sua própria sobrevivência enquanto força política dotada de um programa de uma ideologia e de um espaço próprio na sociedade portuguesa.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 02 de Junho de 2008)
É para esta realidade que – seja qual for o líder eleito – o PSD tem que estar atento. Os social-democratas não podem pensar, passadas as “directas”, e pelo simples facto de, pretensamente, terem resolvido um problema interno, que se podem acomodar ou admitir que, pelo facto de terem agora um novo líder – seja ele qual for, porque todos eles garantiam mais sucesso que o demissionário Meneses - já ganharam as eleições. O SD continua a precisar de resolver o seu problema de fundo, o da unidade interna, da estabilidade, mas isso tem muito a ver com a dimensão da vitória do eleito – que na altura que escrevo este texto desconheço e da configuração, que pode ser altamente manipuladora e castradora, do Congresso em termos delegados eleitos ou com direito a voto, já que àqueles se juntam inerências.
Pressionando, à direita e à esquerda - mas sobretudo aqui, onde se encontrará a parcela mais significativa de eleitorado flutuante que mais naturalmente pode ser considerado potencial eleitor dos socialistas - é evidente que o PS e o Governo de Sócrates, apesar dos efeitos da crise internacional, que podem condicionar toda uma estratégia já delineada para 2009, devido ao facto da crise estar a ter um impacto superior ao que eles esperavam, tudo farão parda recuperar posições, embora não lhes reconheça muito espaço de manobra, principalmente se esta situação se prolongar por muito mais tempo. O PS ficou a saber que os comunistas reocuparam nesta sondagem que venho citando, a terceira posição em termos de intenção de voto, com quase 13% (12,8%). Além de que foram eles a protagonizar a maior subida homóloga (52,4%). O Bloco de Esquerda desceu para quarto lugar, com uma intenção de voto ligeiramente superior a 11% (11.3%), um pouco abaixo dos 11,5% registados no mês anterior. Curiosamente o CDS-PP, continua mergulhado na última posição, embora tivesse obtido este mês 6,7%, o valor mais elevado desde Setembro de 2007, e que representou a maior subida mensal comparativamente aos demais partidos com assento parlamentar (55,8%). Admito que uma estabilização destes valores, já que é de mandatos que importa falar e não de percentagens eleitorais, poderá garantir uma maioria de esquerda envolvendo PS, PC e Bloco, o que significa dizer que a tarefa do PSD não se me afigura fácil. As ideias terão que aparecer, as alternativas terão que começar a ser devidamente preparadas e apresentadas de forma fundamentada e acessível, a demagogia tem que ser banida e os erros do passado não podem ser escamoteados. Julgo que a manutenção desta queda da imagem do governo, bem como das intenções de voto no PS, podem ajudar a construir as bases para um novo entendimento entre o PSD e o CDS/PP, até porque estes valores estão muito longe de garantirem aos social-democratas uma vitória expressiva.
Caso o PSD, regresse à rotina da barafunda, da disputa por influências regionais, da instabilidade, em que alguns sectores mais elitistas se julgam no direito de desestabilizar, pelo simples facto de não serem capazes de viver longe das luzes da ribalta - leia-se fora do mediatismo propiciado pelos meios de comunicação social, se por cada declaração mais crítica ou polémica o seu autor encontrar na comunicação social a caixa de ressonância que transforma uma insignificância e um insignificante num facto político à escala nacional, se continuarem a existir os diferentes grupos de interesse e de pressão, que há mais de dez anos condicionam e manipulam o PSD, então teremos mais do mesmo, porque será tudo uma questão de tempo. Tenho fortes dúvidas que o PSD tenha capacidade para resistir a uma nova derrota, em 2009, com a amplitude da que sofreu em 2005. Julgo que se isso acontecesse – não vai acontecer - não seria demagógico, nem descabido nem muito menos utópico colocar o desafio seguinte do PSD, num patamar muitíssimo mais elevado, o de lutar pela garantia da sua própria sobrevivência enquanto força política dotada de um programa de uma ideologia e de um espaço próprio na sociedade portuguesa.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 02 de Junho de 2008)
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