ARTIGO: Uma história
Esta história, com origem no Brasil, chegou-me por correio electrónico, é verdadeira e foi contada na primeira pessoa: “Exactamente na véspera de Natal, eu corri ao mercado para comprar os últimos presentinhos, que eu não havia conseguido comprar antes. Quando eu vi todas aquelas pessoas no mercado, comecei a reclamar comigo mesma: – "Isto vai demorar a vida toda, e eu ainda tenho tantas coisas para fazer, outros lugares para ir. O Natal está ficando pior a cada ano. Como eu gostaria de poder apenas me deitar, dormir e só acordar após tudo isso". Sem notar, eu fui andando até à secção de brinquedos, e lá eu comecei a bisbilhotar os preços, imaginando se as crianças realmente brincam com esses brinquedos tão caros. Enquanto eu olhava a secção de brinquedos, notei um garoto de mais ou menos 5 anos pressionando uma boneca contra o peito. Ele acarinhava o cabelo da boneca e olhava tão triste, e fiquei tentando imaginar para quem seria aquela boneca que ele tanto apertava. O menino virou-se para uma senhora que estava próxima e disse: – "Avó, você tem certeza que eu não tenho dinheiro suficiente para comprar esta boneca?" A senhora respondeu: – "Você sabe que o seu dinheiro não é suficiente, meu querido!" E ela perguntou ao menino, se ele poderia ficar ali olhando os brinquedos por 5 minutos, enquanto ela iria olhar outra coisa. O pequeno menino estava segurando a boneca em suas mãos. Finalmente eu comecei a andar em direcção ao garoto e perguntei para quem ele queria dar aquela boneca. Ele respondeu: – "Esta é a boneca que a minha irmã mais adorava, e queria muito ganhar neste Natal. Ela estava tão certa que o Pai Natal traria esta boneca para ela este ano." Eu disse: "Não fique tão preocupado, eu acho que o Pai Natal trará a boneca para a sua irmã." Mas ele triste disse-me: – "Não, o Pai Natal não poderá levar a boneca onde ela está agora. Eu tenho que dar esta boneca para minha mãe, assim ela poderá dar a boneca à minha irmã, quando ela for lá." Os seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ele falava: – "Minha irmã teve que ir para junto de Deus. O papai me disse que a mamãe também irá embora para perto de Deus em breve. Então eu pensei que a mamãe poderia levar a boneca com ela e entregar a minha irmã.". Meu coração quase parou de bater. Aquele garotinho olhou para mim e disse: – "Eu disse ao papai para dizer a mamãe não ir ainda. Eu pedi-lhe que esperasse até eu voltar do mercado." Depois ele mostrou-me uma foto muito bonita dele rindo: – "Eu também quero que a mamãe leve esta foto, assim ela também não se esquecerá de mim. Eu amo a minha mãe e gostaria que ela não tivesse que partir agora, mas meu pai disse que ela tem que ir para ficar com a minha irmãzinha." Ele ficou olhando para a boneca com os olhos tristes e muito quietinho. Eu rapidamente procurei a minha carteira e peguei algumas notas e disse para o garoto: – "E se nós contássemos novamente o seu dinheiro, só para termos certeza de que você tem o dinheiro para comprar a boneca?" Coloquei as minhas notas junto ao dinheiro dele, sem que ele percebesse, e começámos a contar o dinheiro. O dinheiro daria para comprar a boneca e ainda sobraria um pouco. E o garotinho disse: – "Obrigada Senhor, por atender o meu pedido e me dar o dinheiro suficiente para compra a boneca". Ele olhou para mim e disse: – "Ontem antes de dormir eu pedi a Deus que fizesse com que eu tivesse dinheiro suficiente para comprar a boneca, assim a mamãe poderia levar a boneca. Ele me ouviu... e eu também queria um pouco mais de dinheiro para comprar uma rosa branca para minha mãe, mas eu não ousaria pedir mais nada a Deus. E Ele me deu dinheiro suficiente para comprar a boneca e a rosa branca. Você sabe, a minha mãe adora rosas brancas." Uns minutos depois, a senhora voltou e eu fui embora sem ser notada. Terminei as minhas compras num estado totalmente diferente do que havia começado. Entretanto não conseguia tirar aquele garotinho do meu pensamento. Lembrei-me de uma notícia no jornal local de dois dias antes, quando foi mencionado que um homem bêbado numa camioneta, batera noutro carro, e que no carro estavam uma jovem senhora e uma menininha. A criança faleceu imediatamente, a mãe estava em estado grave nos cuidados intensivos, e que a família decidiu desligar as máquinas, uma vez que a jovem não sairia do estado de coma. E pensei, se seria a família daquele garotinho. Dois dias depois do meu encontro com o garotinho, li no jornal que a jovem senhora tinha falecido. Eu não pude me conter e sai para comprar rosas brancas. Fui ao velório daquela jovem. Ela estava segurando uma linda rosa branca nas suas mãos, junto à foto do garotinho e com a boneca em seu peito. Deixei o local chorando, sentindo que a minha vida havia mudado para sempre. O amor daquele garotinho por sua mãe e irmã continua gravado em minha memória até hoje. É difícil de acreditar e imaginar que numa fracção de segundos, um bêbado tenha tirado tudo daquele pequeno garotinho”. Boas Festas.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 21 Dez 2006
<< Página inicial