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quarta-feira, 27 de junho de 2007

Artigo: Low cost?

As necessidades turísticas da Madeira, associadas às deficiências profundas em matéria de transportes aéreos — que eu prevejo não sejam resolvidas facilmente e a contento — coloca a região à beira do que se poderia designar de ansiedade nervosa, já que as exigências turísticas de uma região, sujeita a pressões várias e que não pode, de forma alguma, pensar que vai conseguir melhores resultados turísticos mantendo o actual cenário deficiente dos transportes aéreos. Dizem os especialistas e os empresários, que num mercado concorrencial, cada vez mais agressivo e mais “pequeno” — alegam, e bem, que a Madeira não concorre, por exemplo nem com o Brasil nem com outros destinos exóticos nas Caraíbas, ou outros — a Madeira não pode esbarrar, bater de frente, se preferirem, em dificuldades nas ligações aéreas. Os turistas querem cada vez mais voos directos, sem atrasos nem transtornos causados por escalas, prescindem inclusivé de determinados serviços que apenas encarecem os custos das viagens, prejudicando os destinos, tornando-os menos aliciantes porque menos concorrenciais.A próxima Secretária Regional do Turismo terá entre mãos, para além de uma dinamização promocional, associada a uma política de respeito integral pela passagem regional e pelo ambiente, dois factores essenciais para a Madeira — se persistem os apetites vorazes de alguns mentecaptos oportunistas que por aí andam, a reclamar a bandalheira, então até o turismo madeirense vai pelo cano-abaixo, será tudo uma questão de tempo — a procura de soluções para os transportes aéreos. Com as dificuldades financeiras da Região — que vão continuar, não tenham ilusões quanto a isso — não vejo o Governo Regional com disponibilidades orçamentais para se associar a um projecto empresarial privado regional que possa propiciar à Madeira uma solução que complemente o papel importante que a TAP desempenha neste contexto (e muitas vezes não percebo a aversão contra a transportadora aérea nacional, pese todas as suas carências), tal como acontece com os Açores, com a SATA, embora neste caso estejamos a falar, na sua génese, de realidades empresariais diferentes (a empresa açoriana foi criada sobretudo para a realização das ligações aéreas inter-ilhas, já que só mais tarde é que alargou a sua actividade, primeiro ao território nacional, depois ao estrangeiro, incluindo ligações charter contratadas.Não sendo especialista neste sector, os meus conhecimentos são meramente empíricos. Por isso, fico com a sensação de que há muita gente a acreditar, porventura demasiado, nas alegadas potencialidades das ligações “low cost” — companhias aéreas de baixo custo — como a solução para as necessidades de um turismo qualitativo (o madeirense) que parece estar a ser obrigado a mudar radicalmente a sua imagem de marca, generalizando-se, ou seja, permitindo uma massificação que alguns andaram anos a tentar combater.Recentemente, vários directores dessas companhias aéreas de baixo custo, nomeadamente a inglesa “EasyJet” e a germânica “Hapag-Lloyd Express”, participaram em diversas reuniões de trabalho com entidades regionais relacionadas com os aeroportos e o turismo. A ANAM tem vindo a realizar diversas iniciativas promocionais visando atrair companhias aéreas, nomeadamente europeias, fazendo-as voar para a Madeira, não só em “charters”, mas apostando sobretudo na criação de novas linhas regulares de aeroportos internacionais. Penso que apesar desses incentivos específicos para as companhias interessadas em novas linhas, em mudar os seus horários para períodos de procura menos intensa do Aeroporto ou que aumentem a sua capacidade, optando por aparelhos de maior capacidade, os resultados concretos desse esforço da ANAM parecem ainda longe das metas traçadas. A “EasyJet”, actualmente a maior companhia de 'low-cost' a operar em Portugal, com voos de Faro e de Lisboa para diversas cidades europeias, já manifestou interesse pela Madeira, mas nada mais de concreto foi anunciado. Eu não tenho nada contra as “low cost”, nem sequer alimento contra elas qualquer espécie de preconceito. Sei, por exemplo, que em 2005 operavam em Lisboa 11 companhias deste segmento, que transportaram 663 mil passageiros — mais 25 por cento que em 2004.Penso que Conceição Estudante terá que dar particular interesse a este dossier dos transportes aéreos, fundamental para que a hotelaria regional consiga manter níveis de ocupação reais ao longo de todo o ano — não os que empoladamente são muitas vezes passados para a comunicação social. E para que as pessoas percebam a importância crescente das operadoras aéreas de baixo custo, lembro que no caso do Aeroporto do Porto, por exemplo, elas já representam mais de 30% dos passageiros ali movimentados — embora a TAP tivesse continuado a ser a principal companhia a operar naquele Aeroporto, seguida da Portugália, da “low cost” Ryanair e da Lufthansa). No caso do Aeroporto de Faro o tráfego de passageiros das “low cost” já representa mais de 40%, com tendência a crescer. Mas uma coisa é a Madeira estar interessada nas “low cost”, outra coisa é a Madeira hostilizar a companhia aérea nacional, que continuará a ser fundamental, só porque os empresários não conseguem colocar a TAP ao serviço daqueles que são os interesses específicos deste ou daquele grupo, isoladamente, ou de todos juntos. Porque, como se isso não bastasse, acresce ainda o Porto Santo, destino que certamente precisa que se olhado de uma outra forma.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 25 de Junho 2007

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