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segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Artigo: GOUVEIA “MAIS DO MESMO”?

É mais do que evidente que tudo o que se passa no PS local diz respeito sobretudo aos seus militantes e simpatizantes, numa expressão aos eleitores socialistas. Em política é normal a disputa entre partidos, mal andaríamos se tal não acontecesse. Obviamente que há partidos de projecto e partidos de demagogia, partidos de poder e partidos de sistema, que não sendo, nem nunca chegando a ser, partidos de poder, acabam por assumir, alguns deles, e em determinadas circunstâncias, uma posição charneira que lhes dá uma importância acrescida. Veja-se o que aconteceu ao CDS/PP de Paulo Portas, na última coligação com o PSD. Tudo porque os social-democratas precisavam dos populares para garantirem a maioria absoluta o que garantiu aos centristas uma visibilidade governamental, empolada relativamente á sua real dimensão eleitoral e parlamentar.
No caso concreto da Madeira, é sabido, porque isso não constitui surpresa nem novidade para ninguém, que as ”coisas” entre PSD e PS nunca funcionaram bem. Houve sempre uma bipolarização que teve (tem) nos dois partidos os seus principais pólos e protagonistas e pólos de uma disputa que conheceu alguns e baixos, que aos poucos se foi acentuando e radicalizando, transformando-se numa bipolarização praticamente assumida por socialistas e social-democratas. Portanto, é lógico pensar que ao PS pouco ou nada interesse o que acontece no PSD, assim como para os social-democratas, seja indiferente o que se relacione com o PS pouco.
Vem isto a propósito do último Congresso do PS local no qual foi eleito João Carlos Gouveia, uma candidatura longe de ser consensual, que surpreendeu por ter sido a única a resistir à onda de desistência e a pressões diversas para que abandonasse a corrida. Estamos a falar de um líder surpreendente, sem um percurso histórico e tradicional nos socialistas, e que durante muito tempo personificou o radicalismo que o próprio PS hesitava entre adoptar ou renegar. O caso do processo judicial movido pelo Presidente do Governo e do qual resultou a condenação do agora líder socialista, por declarações proferidas ainda na campanha eleitoral de 2004, antes de ter sido eleito pela primeira vez deputado regional ou as suas declarações sobre a justiça, são dois exemplos de uma agressividade deslocada, que são certamente a sua imagem de marca, mas que podendo ser toleradas no deputado João Carlos Gouveia, tenho a convicção que deixam de o sem, naturalmente, no João Carlos Gouveia Presidente do PS. Ou seja, embora possa pensar da mesma maneira – e certamente que o fará – Gouveia tem que perceber que há uma mudança de estatuto pessoal no seio do PS. Mas quando se constata que Gouveia manterá Vítor Freitas, líder parlamentar – correndo este o risco de sair do parlamento em 20089 quando Bernardo Trindade e Jacinto Serrão reassumirem os seus lugares na Assembleia Legislativa – assim como insiste na inadequada candidatura de Bernardo Martins, ignorando os anti-corpos, não só políticos, como também pessoais, que certamente impedem que o deputado de Machico seja eleito, pelo menos com os votos do PSD e creio mesmo que pelo MPT, seja hoje, em Outubro ou daqui a cem anos, Gouveia dá uma ideia penalizadora, de pretender ser “mais do mesmo” e, pior do que isso, de estar refém do sistema que porventura o levou transitoriamente ao poder. Admito que sectores vários exijam de Gouveia um discurso mais radicalizador, mais contundente, mais agressivo, que certamente não constituirá nenhuma mais-valia política e eleitoral para o PS. Mas daí o que resultará de certeza absoluta será o desgaste pessoal de Gouveia, porventura o que esperam os seus “apoiantes” quando lhe dão o “gás” todo. Quando deixar de interessar, quando for “descartável”, Gouveia aperceber-se-á então do lôgro de tudo isto.
O PS precisa de mudar de discurso, precisa de se reorganizar, precisar de ter um aparelho liberto de condicionalismos ou manipulações, precisa de se posicionar, a pensar em 2011, entre uma submissão permanente a Lisboa, e um certo grito de libertação, colocando os interesses da Madeira em primeiro plano sem temer quem, em determinados momentos que o interesse regional o justifique e exija, mesmo que existam pensamentos comuns aos do PSD ou dos outros partidos. Quando se trata de defender a Madeira o que pode haver são visões diferentes dos problema se de resolução desses problemas. Mas o cerne da questão, a defensa da Madeira e dos interesses do seu Povo, tem que está acima dessas diferentes formas de encarar os problemas ou de pretender resolvê-los.
João Carlos Gouveia tem certamente a noção de que é um líder a prazo, que não pode dar a ideia de que anda “amarrado de curto”., que não pode pisar o risco, que não deve permitir que o PS da Madeira possa pensar e comportar-se de forma diferente do que aconteceu no passado. Não se trata de ter um PS ”vira-casacas” que ninguém está à espera disso, nem ficaria bem aos socialistas tal situação. Trata-se apenas de reposicionar-se na política regional, de ocupar um espaço próprio, de impedir que as tácticas, as estratégias, os programas de governo, etc, sejam “impostos” por pessoas que tanto “fogem” nos momentos da derrota, como tentam, a meio caminho de uma disputa pela liderança partidária, neutralizar as candidaturas anunciadas para fossem eles as tais alternativas pretensamente consensuais.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 6 de Agosto 2007

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