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segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O Grande Terror da filha de um "inimigo do povo"

"Olha para o céu, ali entre a estrela polar e a Ursa Maior, e lembra-te de mim. De lá de cima, eu estou agora a ver-te." A nota rabiscada à pressa pela mãe de Lisa Delybach e retirada às escondidas do campo de prisioneiros de Solovetski, no Nordeste da Rússia, em Novembro de 1937, tinha na parte de trás outra mensagem destinada à sua avó. "Estou a morrer. Toma conta da minha filha." Lisa tinha então nove anos. A sua mãe foi uma das sete mil pessoas mortas e enterradas nas valas comuns de Sandormokh, na floresta perto de Medvejegorsk. Hoje, com 79 anos, Lisa é uma das pessoas que prestam homenagem a essas vítimas, lembrando a entrada em vigor, a 5 de Agosto de 1937, do prikaz 00447, um decreto que ordenava a repressão dos "elementos anti-soviéticos e socialmente perigosos". Um documento, assinado pelo chefe da polícia secreta (NKVD), Nikolai Ejov, que deu início às purgas estalinistas em grande escala. A mãe de Lisa, professora, morreu fuzilada, com outros 1100 prisioneiros de Solovetski: nua, de mãos atadas e olhos vendados. O destino do pai, professor de Economia em Leninegrado (actual Sampetersburgo), não foi diferente. Alexandre Iosselevetch também foi fuzilado em 1937. "Eu era filha de um inimigo do povo", contou Lisa à AFP, recordando que o pai participou na Revolução Russa (1917), mas opôs-se à chegada de Estaline ao poder (1923). Ontem, os russos começaram a prestar homenagem às vítimas do Grande Terror. As cerimónias religiosas e laicas decorreram na floresta perto de Sandormokh, na presença de cerca de 500 pessoas. Este dia da memória é organizado anualmente pela Memorial, uma organização russa de direitos humanos que, após longas buscas, encontrou em 1997 as valas comuns. Actualmente, centenas de cruzes marcam o local no meio dos pinheiros. "Nós não podemos esquecer que este mal aconteceu. Se não, esse mal dará origem a mais mal", afirmou Lisa Delybach. Está também prevista um marcha de memória, na cidade de Sampetesburgo, e uma procissão em Moscovo, com uma cruz de cedro com 12,5 metros de altura e 7,6 de largura. (fonte: SUSANA SALVADOR, DN de Lisboa)

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