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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Opinião: ENTREVISTAS

Dizia alguma comunicação social, depois da entrevista do primeiro-ministro a uma estação de televisão, que a oposição criticou em bloco as declarações de José Sócrates. Este, por seu turno, diz a imprensa, passou a entrevista a elogiar todas as suas políticas deixando como novidade, o anúncio de que não decidiu se se recandidatará ao cargo nas legislativas do próximo ano, ou sejam, criando a exemplo de outros antecessores um tabu. Mas porventura alguém esperaria que qualquer partido de oposição, sobretudo a pouco mais de um ano de novas eleições legislativas nacionais, viesse aplaudir a governação do PS e subscrever as ideias centrais do discurso político e do programa governativo do primeiro-ministro ou do partido que o suporta, que naturalmente serão os alvos privilegiados do confronto eleitoral que aos poucos vai sendo preparado e se vai desenhando? Por isso, quando vejo um jornal noticiar, por exemplo, “Oposição critica em bloco entrevista”, espremido, o que é que isso significa, quer em termos de novidade, quer em termos de significado político? Rigorosamente nada.
Depois, há uma coisa que continua a fazer-me uma confusão. Será que os partidos políticos nacionais, sejam ele do poder ou da oposição, ainda pensam que, neste Portugal a caminho de 2010, os portugueses eleitores, com o acesso que têm hoje à informação, com a multiplicidade de alternativas informativas e tecnológicas que têm à sua disposição, precisam dos partidos ou dos seus dirigentes para saberem em quem vão votar, como vão votar ou porque vão votar da forma que o vão fazer? Eu creio, pelo contrário, que o voto é cada vez mais, nos tempos que correm, uma genuína expressão da afirmação de uma vontade livremente pensada e assumido pelo eleitor no seu silêncio na urna, um voto que reflecte sobretudo uma opção, o que implicitamente deixa de parte a ideia de um arrebanhamento de gente menor ou sem conhecimento.
Mas afinal o que é que eu quero dizer?
Essencialmente que cabe aos portugueses, enquanto cidadãos eleitores preocupados com a sua sociedade, avaliar o que o governo de Sócrates fez de bom ou de mau, desde Março de 2005, as expectativas defraudadas ou não, as dificuldades que cada família passou ou não e que cada empresa teve ou não que enfrentar, o desemprego que aumentou ou não, os estudantes que se formam e têm ou não saídas profissionais adequadas, a educação se funciona ou não como deve, a política de saúde se corresponde ou não aos desejos das populações, os municípios e demais autarcas que conseguem, ou não, cumprir perante as pessoas o que prometem por causa do apoio que lhes foi dado ou recusado, etc. Tudo isto é que conta e ajudará a construir aos poucos, o juízo do cidadão quando for chamado a votar Os partidos são meras peças num complexo xadrez de interesses, onde se cruzam demagogia, hipocrisia, verdade, mentira, deturpações, manipulações, etc., mas onde essencialmente se pretende, sem sucesso, controlar, mesmo que indirectamente, a vontade de decisão e de pensamento e votação de cada cidadão. Eu quero lá saber o que dizem os partidos da oposição de Sócrates? Repito, porventura alguém pensava, dissesse o primeiro-ministro o que dissesse na tal na entrevista a uma na televisão, que ele teria os partidos da oposição de joelhos, submissos, pateticamente elogiosos, confundindo o eleitorado, por exemplo, se, perante esses factos todos e tão hipotética alargada consensualidade, afinal existia ou não alternativa e, pior do que isso, se valeria ou não a pena optar por essa alternativa, sobretudo em caso de descontentamento, reforçando desta forma a abstenção? Ao criticarem Sócrates, os partidos dizem o que lhes compete. O que cada cidadão português, quer tenha ouvido ou não a entrevista, tem é que se sentir absolutamente livre de pressões, de compromissos ou desmotividade, no momento em que for votar, para que seja capaz, de contribuir para a melhor solução para o país. Eu nem estou sequer a dizer qual delas será. Estou apenas a afirmar que um acto eleitoral é para dotar o país de condições de crescimento, de estabilidade e de desenvolvimento.
O que a estrutura partidária que a nível nacional combate os socialistas, nas suas contradições, precisa de se preocupar não é com os elogios ou ataques a Sócrates, ou entre si. O que os partidos precisam de fazer, para que tenham alguma utilidade e não se transformem (ou sejam vistos) apenas em meros trampolins para a conquista do poder, é mobilizar as pessoas, assumir um comportamento pedagógico de motivação dos cidadãos, chamando-os a participar nas eleições, chamá-los ao exercício da cidadania enquanto direito constitucional ao dispor de cada um de nós. Tudo o resto vale zero. Sócrates não vai ganhar ou perder eleições por causa da entrevista agora dada, desta ou de outras que venha a conceder, por causa dos auto-elogios – queriam, que o primeiro-ministro atacasse o seu próprio governo e a sua própria política? Os partidos da oposição não vão ganhar ou perder eleições se falarem mais alto ou de atacaram mais ou menos Sócrates e o PS. Tudo assenta na credibilidade, numa espécie de pacto de confiança que se estabelece naturalmente entre o político-candidato e o cidadão-eleitor, que precisa de respostas, quer que lhe resolvam os problemas, quer viver melhor, quer precisa de voltar a sonhar.

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 22 de Fevereiro de 2008)

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