Opinião: "E DE REPENTE…"
Escreveu Antoine Gombaud, (“Do espírito da conversação”): Parece-me que quando se relata uma acção boa ou má não se deve nem louvá-la, nem censurá-la, pois ela faz sentir muito bem o que é, sendo melhor deixar livre o julgamento a seu respeito. E, depois, como a maior parte dos louvores provêm da adulação, a sociedade raramente se compraz com isso, e a maledicência leva a pensar que se é invejoso ou maldoso. É bem possível exaltar as pessoas que se ama, sem falar muito do seu mérito; e para os outros que não se estima, é um favor não dizer nada deles. Acho também que todo o tipo de gente, mesmo a mais modesta, estima que a consideremos e que a tratemos afavelmente. Há poucas pessoas, não obstante, que toleram ser louvadas quando estão presentes, pois, normalmente, procede-se desastradamente, expondo-as e embaraçando-as. Mas os louvores que honram aquele que os faz, assim como aquele que os recebe, agradam muito quando são descobertos por meio de alguém que os relata, e quando não são suspeitos nem de interesse, nem de adulação e particularmente se são de boa origem. Pois, assim como o afecto é bem acolhido apenas quando vem de uma pessoa amável, também é necessário ter mérito, quando se deseja que se estimem os louvores que se faz”.
Vem isto a propósito de uma curiosa conjugação entre duas realidades informativas distintas, recentemente publicadas na imprensa nacional, uma das quais relacionada com declarações estimulantes do primeiro-ministro José Sócrates - proferidas a um ano de um ciclo eleitoral que será decisivo para o PS e para a sua sobrevivência política pessoal - que deste modo garantiu, antecipadamente, os mecanismos necessários à inevitável adopção de um discurso político diferente, que será acompanhado de um pacote de medidas governativas que visarão o aliciamento do eleitorado (compensando desta forma as contrariedades dos últimos tempos) e o atenuar da perda de apoios do PS (e da imagem degradada do governo socialista) junto da opinião pública portuguesa. Porque em matéria de eleitoralismo (ou de oportunismo político), não tenhamos dúvidas que os mesmos que apontam o dedo, por exemplo, a Alberto João Jardim ou a alguns autarcas, serão os primeiros, em 2009, a tudo fazer para ganharem as eleições legislativas nacionais, mesmo que já tenham percebido, que a maioria absoluta cada vez não passa de um cenário irrealizável. E caso tenham dúvidas esperem pelo que vai acontecer já no último trimestre de 2008 mas sobretudo no primeiro semestre de 2009.
Falo, por um lado, do facto do primeiro-ministro, José Sócrates, ter garantido que "a crise orçamental está ultrapassada" e que os portugueses não precisam de se preocupar, alegadamente porque "o Estado não tem nenhuma razão para pensar que a situação se vai repetir". Sócrates afirmou que, em 2005, quando chegou ao poder houve muitas coisas que o preocuparam mas garantiu que agora "a crise orçamental está ultrapassada: os portugueses escusam de se preocupar porque a crise está ultrapassada"! Em qualquer país e para qualquer povo, seria uma boa notícia. O problema é que em Portugal – e os portugueses já se habituaram a isso – entre eles vinga sobretudo a teoria de que “quando a esmola é muita o pobre desconfia”.
Eu sei que Bertrand Russell (“A Última Oportunidade do Homem”) referiu que “o nosso mundo vive demasiado sob a tirania do medo e insistir em mostrar-lhe os perigos que o ameaçam só pode conduzi-lo à apatia da desesperança. O contrário é que é preciso: criar motivos racionais de esperança, razões positivas de viver. Precisamos mais de sentimentos afirmativos do que de negativos. Se os afirmativos tomarem toda a amplitude que justifique um exame estritamente objectivo da nossa situação, os negativos desagregar-se-ão, perdendo a sua razão de ser. Mas se insistirmos em demasia nos negativos, nunca sairemos do desespero”. E sabemos todos que as máquinas de propaganda de qualquer partido, governo ou instituição, pública ou privada, assenta toda a sua estratégia operacional propagandística, nessas premissas. Mas a realidade é a realidade e um país e um povo que vivam de factos, sabem estabelecer a diferença entre qualquer mentira e a verdade, tal como a água nada tem a ver com o vinho. E que realidade é essa num país que deixou de ter (?) problemas orçamentais pelo simples facto de que obrigou os portugueses a pesados sacrifícios e porque teve um governo que explorou criminosamente em seu benefício os rendimentos das famílias, dos cidadãos e das empresas, aumentando impostos quando tinha prometido reduzi-los? A realidade retratada na imprensa nacional, segundo a qual “os resultados de uma sondagem, 81% dos inquiridos acha que Portugal empobreceu, e apenas 6% respondeu que considera que a pobreza diminuiu”. E mais: “Em Portugal, há cerca de 100 mil famílias em situação de grande dificuldade financeira, ou seja, pessoas que enfrentam sérios problemas para pagar a prestação bancária relativa à compra de casa ou por motivos de consumo. A estimativa está nas conclusões de um estudo conjunto do Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores e da Direcção-Geral do Consumidor a divulgar dentro de poucos dias e que mostra uma realidade que os dados oficiais (do Banco de Portugal) relativos ao crédito malparado continuam sem evidenciar: que o incumprimento bancário está a acelerar e afecta já muita gente. Aquele número representará quase 3% do total de famílias em Portugal, segundo os últimos inquéritos do INE. Por seu turno, a Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores (DECO) revela que recebeu quase dois mil pedidos de apoio por causa do sobreendividamento, o dobro do registado em 2006”.
Vem isto a propósito de uma curiosa conjugação entre duas realidades informativas distintas, recentemente publicadas na imprensa nacional, uma das quais relacionada com declarações estimulantes do primeiro-ministro José Sócrates - proferidas a um ano de um ciclo eleitoral que será decisivo para o PS e para a sua sobrevivência política pessoal - que deste modo garantiu, antecipadamente, os mecanismos necessários à inevitável adopção de um discurso político diferente, que será acompanhado de um pacote de medidas governativas que visarão o aliciamento do eleitorado (compensando desta forma as contrariedades dos últimos tempos) e o atenuar da perda de apoios do PS (e da imagem degradada do governo socialista) junto da opinião pública portuguesa. Porque em matéria de eleitoralismo (ou de oportunismo político), não tenhamos dúvidas que os mesmos que apontam o dedo, por exemplo, a Alberto João Jardim ou a alguns autarcas, serão os primeiros, em 2009, a tudo fazer para ganharem as eleições legislativas nacionais, mesmo que já tenham percebido, que a maioria absoluta cada vez não passa de um cenário irrealizável. E caso tenham dúvidas esperem pelo que vai acontecer já no último trimestre de 2008 mas sobretudo no primeiro semestre de 2009.
Falo, por um lado, do facto do primeiro-ministro, José Sócrates, ter garantido que "a crise orçamental está ultrapassada" e que os portugueses não precisam de se preocupar, alegadamente porque "o Estado não tem nenhuma razão para pensar que a situação se vai repetir". Sócrates afirmou que, em 2005, quando chegou ao poder houve muitas coisas que o preocuparam mas garantiu que agora "a crise orçamental está ultrapassada: os portugueses escusam de se preocupar porque a crise está ultrapassada"! Em qualquer país e para qualquer povo, seria uma boa notícia. O problema é que em Portugal – e os portugueses já se habituaram a isso – entre eles vinga sobretudo a teoria de que “quando a esmola é muita o pobre desconfia”.
Eu sei que Bertrand Russell (“A Última Oportunidade do Homem”) referiu que “o nosso mundo vive demasiado sob a tirania do medo e insistir em mostrar-lhe os perigos que o ameaçam só pode conduzi-lo à apatia da desesperança. O contrário é que é preciso: criar motivos racionais de esperança, razões positivas de viver. Precisamos mais de sentimentos afirmativos do que de negativos. Se os afirmativos tomarem toda a amplitude que justifique um exame estritamente objectivo da nossa situação, os negativos desagregar-se-ão, perdendo a sua razão de ser. Mas se insistirmos em demasia nos negativos, nunca sairemos do desespero”. E sabemos todos que as máquinas de propaganda de qualquer partido, governo ou instituição, pública ou privada, assenta toda a sua estratégia operacional propagandística, nessas premissas. Mas a realidade é a realidade e um país e um povo que vivam de factos, sabem estabelecer a diferença entre qualquer mentira e a verdade, tal como a água nada tem a ver com o vinho. E que realidade é essa num país que deixou de ter (?) problemas orçamentais pelo simples facto de que obrigou os portugueses a pesados sacrifícios e porque teve um governo que explorou criminosamente em seu benefício os rendimentos das famílias, dos cidadãos e das empresas, aumentando impostos quando tinha prometido reduzi-los? A realidade retratada na imprensa nacional, segundo a qual “os resultados de uma sondagem, 81% dos inquiridos acha que Portugal empobreceu, e apenas 6% respondeu que considera que a pobreza diminuiu”. E mais: “Em Portugal, há cerca de 100 mil famílias em situação de grande dificuldade financeira, ou seja, pessoas que enfrentam sérios problemas para pagar a prestação bancária relativa à compra de casa ou por motivos de consumo. A estimativa está nas conclusões de um estudo conjunto do Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores e da Direcção-Geral do Consumidor a divulgar dentro de poucos dias e que mostra uma realidade que os dados oficiais (do Banco de Portugal) relativos ao crédito malparado continuam sem evidenciar: que o incumprimento bancário está a acelerar e afecta já muita gente. Aquele número representará quase 3% do total de famílias em Portugal, segundo os últimos inquéritos do INE. Por seu turno, a Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores (DECO) revela que recebeu quase dois mil pedidos de apoio por causa do sobreendividamento, o dobro do registado em 2006”.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 28 de Março de 2008)
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