Opinião: EQUÍVOCOS?
Ouvi há dias a entrevista de João Carlos Gouveia na RTP-Madeira e confesso que fiquei sem perceber que objectivos e propósitos o actual líder socialista tem em mente, já que não apresentou uma ideia concreta e sustentada quanto ao de alternativa que pretende ser e construir. Pelo contrário, acho que Gouveia perdeu uma oportunidade para esclarecer, desde logo perante o seu partido e os seus eleitores, o que pretende para 2009 e 2011, porque no fundo é esse ciclo eleitoral que interessa ao PS da Madeira e do qual muita coisa pode depender. Ficamos a saber, por exemplo, que Gouveia será candidato em São Vicente parecendo-me mais um ajuste de contas com o actual edil que o derrotou (quando Gouveia não era líder regional do partido) do que uma necessidade política, salvo se tem a convicção da vitória. Não tenhamos dúvidas: uma derrota de JCG em São Vicente, num cenário, que ele próprio admite, do PS não ganhar nada, pode ser o primeiro passo para um Congresso socialista e para uma quase inevitável mudança de líder.
Não foi com surpresa, por exemplo, que ouvi João Carlos Gouveia defender a ideia de uma autonomia “enquanto projecto nacional” e não ”isolacionista”, porque essa noção da autonomia vem no seguimento de uma visão restritiva e pouco ousada que caracteriza o PS nesta matéria. Eu até sou capaz de perceber o que está subjacente, no caso de JCG, a esta ideia, a de que os socialistas querem uma Autonomia interligada com o Terreiro do Paço para melhor aproveitar (?) os apoios que lhe poderão ser disponibilizados pela República. O problema é que essa perspectiva parece ter mais a ver com a cumplicidade entre partidos no poder do que propriamente com princípios, pois basta ver o que se tem passado nos últimos anos em relação à Madeira no que às relações com Lisboa diz respeito.
Outra questão que me pareceu absurda, mas que não sou capaz de aquilatar no real impacto no seio dos socialistas – e é preciso ter presente que o PS, depois da humilhante derrota sofrida nas regionais de 2007, é um partido ferido no seu orgulho no seio do qual continuam a subsistir grupos mais ou menos organizados em conflito pela conquista de espaços e de influências, o que naturalmente fragiliza a liderança, seja a de Gouveia, seja a de qualquer outro que estivesse no seu lugar – tem a ver com os objectivos eleitorais do partido para 2009. Recordo, a propósito, declarações recentes de Bernardo Trindade: “Houve uma eleição de um nova direcção que está com certeza a fazer o seu papel e o seu trabalho no sentido de, em função de um mau resultado eleitoral, reerguer o PS. É uma matéria que não se resolve num par de dias e espero que venha a ser feita competentemente (…)”.
Como é possível que o líder do maior partido da oposição regional, a pouco mais de um ano de um ciclo eleitoral de 2009 (europeias, legislativas nacionais e autárquicas) que será exigente, complicado e decisivo para a sua sobrevivência, afirme que o objectivo eleitoral do PS “não é o de ganhar Câmaras Municipais ou Juntas de Freguesia” – embora já tivesse afirmado recentemente que o PS local não estava em condições de ganhar o que quer que fosse - mas apenas o de derrubar top regime jardinista, aliás a expressão que foi a mais usada na entrevista? É que há desde logo uma enorme contradição: como é que Gouveia pensa derrubar o regime político regional em 2011 – “queremos disputar taco-a-taco como PSD o poder em 2011”, disse ele – se não for capaz de construir, já em 2009, a alternativa que diz querer? Já agora, como é que se constrói uma alternativa, que tem que ser sempre política mas sobretudo eleitoral e não apenas filosófica, prescindindo de ganhar autárquicas, sejam Câmaras ou Juntas de Freguesia?
João Carlos Gouveia tem que perceber uma coisa: a política exige aos partidos a construção de um discurso político coerente, convincente e assimilável pelas pessoas passível de ser assimilado pelo público-alvo e de gerar confiança nas bases eleitorais de apoio a esses partidos. Um discurso que, tanto quanto possível, assegure alguma ou de penetração no chamado eleitorado flutuante – o “centrão” eleitoral – que vagueia de acto eleitoral em acto eleitoral, sem um vínculo específico a um partido, antes pelo contrário, optando em função de factores exógenos, influenciado em grande medida pelos seus níveis de satisfação e, no caso de partidos da oposição, pela atractividade das alternativas construídas e pelo distanciamento face ao poder.
Perante um discurso contraditório, paradoxal por vezes, sem novidades, sem apresentar qualquer esboço de alternativa, como foi o caso, admito que, para além de desmotivar, com antecedência as bases de um partido que diz querer disputar o poder já em 2011, acaba por questionar a própria estratégia. JCG cometeu o mesmo erro, em meu entender, que Meneses, quando este afirmou que o PSD não estava preparado para ganhar eleições e ser poder. No caso do líder do PSD, detectado o erro, surgiu dias depois a rectificá-lo, mesmo correndo o risco, como foi o caso, de ser acusado de contradição inexplicável, e neste caso óbvia. Como é que o PS quer ganhar eleições regionais em 2011., se em 2009, segundo JCG, não quer ganhar Câmaras Municipais ou Juntas de Freguesia ou, como ele próprio o referiu antes da entrevista, o PS não está preparado para ganhar cosia nenhuma e ser poder? Eu acho que neste meu comentário estou a ser o mais pragmático possível sem qualquer outra intencionalidade subjacente que não seja a de colocar em evidencia aspectos que retive da presença de JCG na RTP-Madeira que, pelos motivos apontados, foi uma oportunidade perdida.
Isto leva-me a citar, de novo, Bernardo Trindade que certamente não se estava a dirigir para fora do seu partido: “Acho importante é que o PS continue a fazer um trabalho que se exige, de fazer uma oposição diária, cada vez mais credível, com propostas que sejam alternativas a um programa de Governo para que um dia possa cumprir com aquilo que é vital, ser a alternância política na Região”.
Luís Filipe Malheiro (in "Jorn al da Madeira, 17 de Março de 2008)
Não foi com surpresa, por exemplo, que ouvi João Carlos Gouveia defender a ideia de uma autonomia “enquanto projecto nacional” e não ”isolacionista”, porque essa noção da autonomia vem no seguimento de uma visão restritiva e pouco ousada que caracteriza o PS nesta matéria. Eu até sou capaz de perceber o que está subjacente, no caso de JCG, a esta ideia, a de que os socialistas querem uma Autonomia interligada com o Terreiro do Paço para melhor aproveitar (?) os apoios que lhe poderão ser disponibilizados pela República. O problema é que essa perspectiva parece ter mais a ver com a cumplicidade entre partidos no poder do que propriamente com princípios, pois basta ver o que se tem passado nos últimos anos em relação à Madeira no que às relações com Lisboa diz respeito.
Outra questão que me pareceu absurda, mas que não sou capaz de aquilatar no real impacto no seio dos socialistas – e é preciso ter presente que o PS, depois da humilhante derrota sofrida nas regionais de 2007, é um partido ferido no seu orgulho no seio do qual continuam a subsistir grupos mais ou menos organizados em conflito pela conquista de espaços e de influências, o que naturalmente fragiliza a liderança, seja a de Gouveia, seja a de qualquer outro que estivesse no seu lugar – tem a ver com os objectivos eleitorais do partido para 2009. Recordo, a propósito, declarações recentes de Bernardo Trindade: “Houve uma eleição de um nova direcção que está com certeza a fazer o seu papel e o seu trabalho no sentido de, em função de um mau resultado eleitoral, reerguer o PS. É uma matéria que não se resolve num par de dias e espero que venha a ser feita competentemente (…)”.
Como é possível que o líder do maior partido da oposição regional, a pouco mais de um ano de um ciclo eleitoral de 2009 (europeias, legislativas nacionais e autárquicas) que será exigente, complicado e decisivo para a sua sobrevivência, afirme que o objectivo eleitoral do PS “não é o de ganhar Câmaras Municipais ou Juntas de Freguesia” – embora já tivesse afirmado recentemente que o PS local não estava em condições de ganhar o que quer que fosse - mas apenas o de derrubar top regime jardinista, aliás a expressão que foi a mais usada na entrevista? É que há desde logo uma enorme contradição: como é que Gouveia pensa derrubar o regime político regional em 2011 – “queremos disputar taco-a-taco como PSD o poder em 2011”, disse ele – se não for capaz de construir, já em 2009, a alternativa que diz querer? Já agora, como é que se constrói uma alternativa, que tem que ser sempre política mas sobretudo eleitoral e não apenas filosófica, prescindindo de ganhar autárquicas, sejam Câmaras ou Juntas de Freguesia?
João Carlos Gouveia tem que perceber uma coisa: a política exige aos partidos a construção de um discurso político coerente, convincente e assimilável pelas pessoas passível de ser assimilado pelo público-alvo e de gerar confiança nas bases eleitorais de apoio a esses partidos. Um discurso que, tanto quanto possível, assegure alguma ou de penetração no chamado eleitorado flutuante – o “centrão” eleitoral – que vagueia de acto eleitoral em acto eleitoral, sem um vínculo específico a um partido, antes pelo contrário, optando em função de factores exógenos, influenciado em grande medida pelos seus níveis de satisfação e, no caso de partidos da oposição, pela atractividade das alternativas construídas e pelo distanciamento face ao poder.
Perante um discurso contraditório, paradoxal por vezes, sem novidades, sem apresentar qualquer esboço de alternativa, como foi o caso, admito que, para além de desmotivar, com antecedência as bases de um partido que diz querer disputar o poder já em 2011, acaba por questionar a própria estratégia. JCG cometeu o mesmo erro, em meu entender, que Meneses, quando este afirmou que o PSD não estava preparado para ganhar eleições e ser poder. No caso do líder do PSD, detectado o erro, surgiu dias depois a rectificá-lo, mesmo correndo o risco, como foi o caso, de ser acusado de contradição inexplicável, e neste caso óbvia. Como é que o PS quer ganhar eleições regionais em 2011., se em 2009, segundo JCG, não quer ganhar Câmaras Municipais ou Juntas de Freguesia ou, como ele próprio o referiu antes da entrevista, o PS não está preparado para ganhar cosia nenhuma e ser poder? Eu acho que neste meu comentário estou a ser o mais pragmático possível sem qualquer outra intencionalidade subjacente que não seja a de colocar em evidencia aspectos que retive da presença de JCG na RTP-Madeira que, pelos motivos apontados, foi uma oportunidade perdida.
Isto leva-me a citar, de novo, Bernardo Trindade que certamente não se estava a dirigir para fora do seu partido: “Acho importante é que o PS continue a fazer um trabalho que se exige, de fazer uma oposição diária, cada vez mais credível, com propostas que sejam alternativas a um programa de Governo para que um dia possa cumprir com aquilo que é vital, ser a alternância política na Região”.
Luís Filipe Malheiro (in "Jorn al da Madeira, 17 de Março de 2008)
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