Opinião: "A LIÇÃO ESPANHOLA"
Sinceramente acho que as eleições em Espanha, que deram a Zapatero e ao PSOE uma vitória por maioria – não absoluta, o que obriga os socialistas a negociações à esquerda ou com os pequenos partidos nacionalistas – deveriam constituir um exemplo para Portugal, principalmente para o PSD e o seu líder Meneses.
Durante quatro anos, desde que Zapatero afastou Aznar e o PP do poder, Mariano Rajoy, líder da direita, usou um discurso radicalizado, muito assente numa imagem pré-fabricada, num discurso político sem grande novidade ou conteúdo. O que é facto é que o PP e Rajoy construíram uma alternativa que, apesar de tudo, os espanhóis, no momento decisivo das eleições recusaram, pese o facto do PP ter aumentado a sua votação e o número de eleitos. Mas não conseguiu suster uma subida também evidente do PSOE, em votos e mandatos. Dizem os especialistas que foi tudo uma questão de falta de confiança do eleitorado no PP e sobretudo no seu líder. Recordo, a propósito, que esta foi a segunda derrota consecutiva de Mariano Rajoy (2004 e 2008), situação que não o impede de se candidatar a um novo mandato na liderança dos populares, embora sem a garantia de reeleição. Mas o PP conseguiu cerca de 10 milhões de votos, o melhor resultado da história do partido, superando mesmo a votação do partido quando foi liderado por Aznar e obteve a maioria absoluta em 2000.
O problema foi que a Rajoy faltou alguma coisa, decisivamente. Mais do que ter segurado o eleitorado natural do PP e de ter captado à direita votos dispersos pelos pequenos partidos, não impediu que acontecesse o mesmo com o PSOE. E foi nesse imenso “centrão” onde se localiza o eleitorado flutuante que o PSOE entrou melhor que o PP. Os socialistas somaram 11 milhões de votos numa economia com inflação, aumento do desemprego, crise no imobiliário e ameaça de uma recessão no sector da construção que, a confirmar-se, será catastrófica para Portugal, já que se fala no regresso antecipado ao nosso país de mais de 40 mil emigrantes portugueses que se encontram nas “obras” no país vizinho. Em 2004 os pouco mais de 11 milhões de votos contra os 9,7 milhões de votos do PP, mostram uma certa estabilidade eleitoral nos dois grandes partidos e que pouca coisa mudou em termos eleitorais.
Porque é que eu acho que as eleições espanholas deveriam ser olhadas com atenção? Porque a e eu acho que o que ali se passou entre 2004 e 2008, faz-me lembrar rigorosamente o que se tem passado em Portugal desde 2005 e até 2009: a oposição fala, crítica, mobiliza-se, contesta, mas continua com um discurso muito disperso por várias questões, muitas vezes com um discurso mais virado para a comunicação social, para o protagonismo nos meios de comunicação mas que diz pouco às pessoas, quase nada. Não podemos ter, à direita ou à esquerda, discursos partidários generalistas, destinados a uma parcela muito pequena de militantes ou simpatizantes, como se a alternativa se construísse com meia dúzia de membros elitistas das nomenclaturas partidárias. Rajoy falhou, dizem os especialistas, no contacto que devia ter mantido, e não conseguiu ter, de forma reforçada com o povo. Rajoy cometeu o erro de querer colocar o PP e a si próprio num mesmo plano comparativo que o PSOE e Zapatero, esquecendo que o poder tinha (tem) armas que a oposição nunca disporia. Isto vai acontecer exactamente com Portugal, e não duvidem que será tudo uma questão de tempo.
Mas há uma outra questão, não menos importante, que constitui um dos aspectos mais intrigantes da vitória dos socialistas e de Zapatero: os indicadores sociais e económicos de uma Espanha em crise ou a caminho dela. Esse foi um dos temas da campanha porventura menos valorizado, por Rajoy, que insistiu num fundamentalismo ideológico direitista pouco convencional e pouco atractivo, valorizando a questão da ETA – porventura importante para Espanha e para os espanhóis – mas não tanto, pelo menos nos últimos tempos, como as dúvidas sobre o real cenário da economia do país e a amplitude da ameaça de uma crise no imobiliário. Zapatero fez três ou quatro promessas essenciais – uma delas foi o aumento das pensões, outra a devolução de 400 euros do imposto sobre rendimentos pagos pelos espanhóis e relativos a 2007 – que o ajudaram a conquistar não só o seu eleitorado normal, e que os resultados mostram ter mantido, como uma parcela de eleitores flutuantes que em 2004 porventura votaram mais à esquerda. Um Rajoy menos fundamentalista e mais virado para as questões económicas – apesar dos especialistas garantirem que há uma grande dificuldade em criar empatia entre a sua figura e o eleitorado não votante no PP – teria eventualmente conseguido superar os socialistas, o que mostra que o discurso e as prioridades são essenciais. Uma coisa são os candidatos julgarem que esses são os temas que mais importam aos eleitores, outra coisa são os candidatos serem “abastecidos” com as questões que realmente interessam à opinião pública. É nesta distância entre uma perspectiva e outra que muitas vezes reside a causa das vitórias ou a origem das derrotas.
Durante quatro anos, desde que Zapatero afastou Aznar e o PP do poder, Mariano Rajoy, líder da direita, usou um discurso radicalizado, muito assente numa imagem pré-fabricada, num discurso político sem grande novidade ou conteúdo. O que é facto é que o PP e Rajoy construíram uma alternativa que, apesar de tudo, os espanhóis, no momento decisivo das eleições recusaram, pese o facto do PP ter aumentado a sua votação e o número de eleitos. Mas não conseguiu suster uma subida também evidente do PSOE, em votos e mandatos. Dizem os especialistas que foi tudo uma questão de falta de confiança do eleitorado no PP e sobretudo no seu líder. Recordo, a propósito, que esta foi a segunda derrota consecutiva de Mariano Rajoy (2004 e 2008), situação que não o impede de se candidatar a um novo mandato na liderança dos populares, embora sem a garantia de reeleição. Mas o PP conseguiu cerca de 10 milhões de votos, o melhor resultado da história do partido, superando mesmo a votação do partido quando foi liderado por Aznar e obteve a maioria absoluta em 2000.
O problema foi que a Rajoy faltou alguma coisa, decisivamente. Mais do que ter segurado o eleitorado natural do PP e de ter captado à direita votos dispersos pelos pequenos partidos, não impediu que acontecesse o mesmo com o PSOE. E foi nesse imenso “centrão” onde se localiza o eleitorado flutuante que o PSOE entrou melhor que o PP. Os socialistas somaram 11 milhões de votos numa economia com inflação, aumento do desemprego, crise no imobiliário e ameaça de uma recessão no sector da construção que, a confirmar-se, será catastrófica para Portugal, já que se fala no regresso antecipado ao nosso país de mais de 40 mil emigrantes portugueses que se encontram nas “obras” no país vizinho. Em 2004 os pouco mais de 11 milhões de votos contra os 9,7 milhões de votos do PP, mostram uma certa estabilidade eleitoral nos dois grandes partidos e que pouca coisa mudou em termos eleitorais.
Porque é que eu acho que as eleições espanholas deveriam ser olhadas com atenção? Porque a e eu acho que o que ali se passou entre 2004 e 2008, faz-me lembrar rigorosamente o que se tem passado em Portugal desde 2005 e até 2009: a oposição fala, crítica, mobiliza-se, contesta, mas continua com um discurso muito disperso por várias questões, muitas vezes com um discurso mais virado para a comunicação social, para o protagonismo nos meios de comunicação mas que diz pouco às pessoas, quase nada. Não podemos ter, à direita ou à esquerda, discursos partidários generalistas, destinados a uma parcela muito pequena de militantes ou simpatizantes, como se a alternativa se construísse com meia dúzia de membros elitistas das nomenclaturas partidárias. Rajoy falhou, dizem os especialistas, no contacto que devia ter mantido, e não conseguiu ter, de forma reforçada com o povo. Rajoy cometeu o erro de querer colocar o PP e a si próprio num mesmo plano comparativo que o PSOE e Zapatero, esquecendo que o poder tinha (tem) armas que a oposição nunca disporia. Isto vai acontecer exactamente com Portugal, e não duvidem que será tudo uma questão de tempo.
Mas há uma outra questão, não menos importante, que constitui um dos aspectos mais intrigantes da vitória dos socialistas e de Zapatero: os indicadores sociais e económicos de uma Espanha em crise ou a caminho dela. Esse foi um dos temas da campanha porventura menos valorizado, por Rajoy, que insistiu num fundamentalismo ideológico direitista pouco convencional e pouco atractivo, valorizando a questão da ETA – porventura importante para Espanha e para os espanhóis – mas não tanto, pelo menos nos últimos tempos, como as dúvidas sobre o real cenário da economia do país e a amplitude da ameaça de uma crise no imobiliário. Zapatero fez três ou quatro promessas essenciais – uma delas foi o aumento das pensões, outra a devolução de 400 euros do imposto sobre rendimentos pagos pelos espanhóis e relativos a 2007 – que o ajudaram a conquistar não só o seu eleitorado normal, e que os resultados mostram ter mantido, como uma parcela de eleitores flutuantes que em 2004 porventura votaram mais à esquerda. Um Rajoy menos fundamentalista e mais virado para as questões económicas – apesar dos especialistas garantirem que há uma grande dificuldade em criar empatia entre a sua figura e o eleitorado não votante no PP – teria eventualmente conseguido superar os socialistas, o que mostra que o discurso e as prioridades são essenciais. Uma coisa são os candidatos julgarem que esses são os temas que mais importam aos eleitores, outra coisa são os candidatos serem “abastecidos” com as questões que realmente interessam à opinião pública. É nesta distância entre uma perspectiva e outra que muitas vezes reside a causa das vitórias ou a origem das derrotas.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 19 de Março de 2008)
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