Opinião: Um flop?
Dizia há dias um jornal local quem, afinal, “pode estar em risco uma coligação à esquerda”, depois de João Carlos Gouveia não ter gostado da análise política feita pelo secretário-geral do Partido Comunista durante uma recente deslocação à Madeira. Gouveia, pelos vistos – e no quadro de uma sucessão de declarações absurdas, deixou claramente perceber que esperava um outro discurso do líder nacional do PCP, encarando os comunistas como uma espécie de partido menor, obrigado a determinados comportamentos, por melhor servirem o actual PS local, PCP que na Região nunca terá possibilidades de ser poder, mas que hipoteticamente estaria interessado e disponível para coligar-se aos socialistas, no quadro de um projecto eleitoral global da esquerda, visando mais 2011 do que 2009, o que não deixa de ser curiosamente estranho. Ou melhor, provavelmente deixando de o ser se nos lembrarmos que Gouveia afirmou na RTP, recentemente, que em 2009 o PS local não faz questão de ganhar Câmaras ou Juntas de Freguesia, assim como recusa ”mendigar” candidaturas elegíveis para o Parlamento Europeu, defendendo que os candidatos à Assembleia da República tem que ser representantes da Autonomia e não defensores de governos da República.
O líder socialista, segundo aquele jornal que citava declarações de JCG a uma estação de rádio, garante indelicadamente, diga-se em abono da verdade, que o “PS está disposto a conjugar esforços com outros partidos" para chegar ao poder, mas diz que alguns partidos até parece que estão satisfeitos com a governação de Alberto João Jardim". Obviamente que Edgar Silva – consciente da importância do trabalho discretamente realizado pelos comunistas, que quase lhe dava um terceiro deputado em 2007 mas lhe deu um vereador na Câmara do Funchal, em 2005 – parece consciente que, na actual conjuntura política nacional, um “encosto” do PCP ao PS, poderia ser prejudicial. Edgar e o PCP não andam propriamente a dormir à sombra de uma bananeira, pelo que atiram para os socialistas a responsabilidade pelo sucesso de qualquer coligação, assegurando que “só haverá entendimento num projecto de esquerda, e se o Partido Socialista "mudar de rumo”. Gouveia, nesse programa na RTP-Madeira, disse estar disponível para encontros exploratórios com toda a oposição não excluiu o CDS/PP), mas condicionou qualquer entendimento de coligação a uma aceitação, por parte dos partidos envolvidos nesse projecto, da liderança do PS, que não definiu.
Também o Bloco de Esquerda, pelos vistos em vésperas de mudança de liderança e de rejuvenescimento, recusa entendimentos com o PS, sobretudo depois de conhecer as inconcebíveis declarações do líder do maior partido da oposição regional, relativamente aos seus objectivos e aos propósitos do seu partido para as autárquicas de 2009. Os bloquistas perceberam a contradições – JCG não? – que retiram espaço de manobra e consistência a um projecto de alegadamente quer disputar em 2011 o poder regional, mas já admite que nem uma Junta de Freguesia poderá ganhar dois anos antes. Um total absurdo que transforma esta perspectiva política e eleitoral da liderança de JCG, num “case study”. Por outro lado, há que dizê-lo, mais do que recordar que o PS tem, neste momento, o mesmo número de deputados dos pequenos partidos da oposição regional juntos, o método de Hondt retira ao PS qualquer certeza antecipada de sucesso eleitoral de uma coligação alargada à esquerda.
Eu estou convencido que as mudanças no Bloco de Esquerda são necessárias para que o partido entre numa nova fase, política e eleitoral, depois de uma liderança de Paulo Martins que perdura exactamente o mesmo tempo que a liderança de Alberto João Jardim no PSD. E na política o desgaste das pessoas aplica-se a todos os protagonistas e não apenas a uns porque são poder ou a outros só porque são oposição. O Bloco de Esquerda está hoje pressionado, penso eu, pela realidade eleitoral que nada tem a ver com o que se passa com a extinta UDP – depois da extensão à Madeira do projecto político do Bloco de Esquerda – e que tinha uma dimensão eleitoral que o BE nunca se aproximou. Mais do que o desgaste de 30 anos, o Bloco precisa de entender que, à esquerda, e graças à situação no PS, poderão ser necessárias outras soluções para além do PCP obviamente interessado em capitalizar a seu favor, em exclusividade, uma eventual fuga, pela esquerda de eleitorado socialista não vinculado ao partido mas que nele vota estrategicamente (em Maio de 2007 de certeza que não o fez…). Isso provavelmente explica alguns “arrufos” entre PCP e Bloco na sequência de uma iniciativa deste de promover, à esquerda, uma comemoração do 25 de Abril, como forma de responder ao PSD. A resposta do PCP, de acordo com o jornal que já citei, parece não deixar dúvidas: “O PCP não considera "coerente" qualquer acordo com os socialistas madeirenses, devido ao que considera ser uma ofensiva anti-social do Governo da República e às responsabilidades governativas do PS na concretização de políticas contrárias a Abril". Paulo Martins, de acordo com a mesma fonte, “não compreende a posição dos comunistas”. Apesar de ter alguma razão – “a questão do Governo da República, que é um governo neoliberal de direita, pesa tanto hoje, como pesava há dois anos, quando se juntaram os partidos da esquerda para celebrar o 25 de Abril" – Martins deixa no ar uma dúvida: será que também o Bloco pretende determinar as regras de conduta dos comunistas na perspectiva do ciclo eleitoral regional 2009-2011?
Pela experiência que tenho de acompanhamento de mais de 30 anos de política regional, pela recordação do insucesso passado de tentativas de coligações de esquerda já antes tentadas, pelos objectivos eleitorais diferentes, pela necessidade de terem um protagonismo político separado, pelas apostas que certamente querem fazer isoladamente nas regionais de 2011, dificilmente poderemos ter em 2009 uma coligação eleitoral de esquerda na Madeira, ainda por cima sem garantia prévia de que essa opção representa uma mais-valia eleitoral. Julgo que será tudo uma questão de tempo para deixarmos de ouvir falar deste tema.
O líder socialista, segundo aquele jornal que citava declarações de JCG a uma estação de rádio, garante indelicadamente, diga-se em abono da verdade, que o “PS está disposto a conjugar esforços com outros partidos" para chegar ao poder, mas diz que alguns partidos até parece que estão satisfeitos com a governação de Alberto João Jardim". Obviamente que Edgar Silva – consciente da importância do trabalho discretamente realizado pelos comunistas, que quase lhe dava um terceiro deputado em 2007 mas lhe deu um vereador na Câmara do Funchal, em 2005 – parece consciente que, na actual conjuntura política nacional, um “encosto” do PCP ao PS, poderia ser prejudicial. Edgar e o PCP não andam propriamente a dormir à sombra de uma bananeira, pelo que atiram para os socialistas a responsabilidade pelo sucesso de qualquer coligação, assegurando que “só haverá entendimento num projecto de esquerda, e se o Partido Socialista "mudar de rumo”. Gouveia, nesse programa na RTP-Madeira, disse estar disponível para encontros exploratórios com toda a oposição não excluiu o CDS/PP), mas condicionou qualquer entendimento de coligação a uma aceitação, por parte dos partidos envolvidos nesse projecto, da liderança do PS, que não definiu.
Também o Bloco de Esquerda, pelos vistos em vésperas de mudança de liderança e de rejuvenescimento, recusa entendimentos com o PS, sobretudo depois de conhecer as inconcebíveis declarações do líder do maior partido da oposição regional, relativamente aos seus objectivos e aos propósitos do seu partido para as autárquicas de 2009. Os bloquistas perceberam a contradições – JCG não? – que retiram espaço de manobra e consistência a um projecto de alegadamente quer disputar em 2011 o poder regional, mas já admite que nem uma Junta de Freguesia poderá ganhar dois anos antes. Um total absurdo que transforma esta perspectiva política e eleitoral da liderança de JCG, num “case study”. Por outro lado, há que dizê-lo, mais do que recordar que o PS tem, neste momento, o mesmo número de deputados dos pequenos partidos da oposição regional juntos, o método de Hondt retira ao PS qualquer certeza antecipada de sucesso eleitoral de uma coligação alargada à esquerda.
Eu estou convencido que as mudanças no Bloco de Esquerda são necessárias para que o partido entre numa nova fase, política e eleitoral, depois de uma liderança de Paulo Martins que perdura exactamente o mesmo tempo que a liderança de Alberto João Jardim no PSD. E na política o desgaste das pessoas aplica-se a todos os protagonistas e não apenas a uns porque são poder ou a outros só porque são oposição. O Bloco de Esquerda está hoje pressionado, penso eu, pela realidade eleitoral que nada tem a ver com o que se passa com a extinta UDP – depois da extensão à Madeira do projecto político do Bloco de Esquerda – e que tinha uma dimensão eleitoral que o BE nunca se aproximou. Mais do que o desgaste de 30 anos, o Bloco precisa de entender que, à esquerda, e graças à situação no PS, poderão ser necessárias outras soluções para além do PCP obviamente interessado em capitalizar a seu favor, em exclusividade, uma eventual fuga, pela esquerda de eleitorado socialista não vinculado ao partido mas que nele vota estrategicamente (em Maio de 2007 de certeza que não o fez…). Isso provavelmente explica alguns “arrufos” entre PCP e Bloco na sequência de uma iniciativa deste de promover, à esquerda, uma comemoração do 25 de Abril, como forma de responder ao PSD. A resposta do PCP, de acordo com o jornal que já citei, parece não deixar dúvidas: “O PCP não considera "coerente" qualquer acordo com os socialistas madeirenses, devido ao que considera ser uma ofensiva anti-social do Governo da República e às responsabilidades governativas do PS na concretização de políticas contrárias a Abril". Paulo Martins, de acordo com a mesma fonte, “não compreende a posição dos comunistas”. Apesar de ter alguma razão – “a questão do Governo da República, que é um governo neoliberal de direita, pesa tanto hoje, como pesava há dois anos, quando se juntaram os partidos da esquerda para celebrar o 25 de Abril" – Martins deixa no ar uma dúvida: será que também o Bloco pretende determinar as regras de conduta dos comunistas na perspectiva do ciclo eleitoral regional 2009-2011?
Pela experiência que tenho de acompanhamento de mais de 30 anos de política regional, pela recordação do insucesso passado de tentativas de coligações de esquerda já antes tentadas, pelos objectivos eleitorais diferentes, pela necessidade de terem um protagonismo político separado, pelas apostas que certamente querem fazer isoladamente nas regionais de 2011, dificilmente poderemos ter em 2009 uma coligação eleitoral de esquerda na Madeira, ainda por cima sem garantia prévia de que essa opção representa uma mais-valia eleitoral. Julgo que será tudo uma questão de tempo para deixarmos de ouvir falar deste tema.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 21 de Março de 2008)
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