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segunda-feira, 28 de abril de 2008

"O regresso do carvão"

Com este titulo publica o Publico-Economia um texto da autoria do jornalista Steven Mufson, do Wasgington Post, elaborado em colaboração com Blaine Harden (Tóquio), Ariana Eunjung Cha (Xangai), Craig Timberg (Joanesburgo), Shannon Smiley (Berlim), Jill Colvin (Londres) e Rama Lakshmi (Nova Deli), que "o mais poluente dos combustíveis fósseis, está a assumir um novo papel na crise energética. O valor do carvão está cada vez mais elevado, devido ao aumento da procura e falhas na oferta, o que se pode repercutir nos preços da electricidade. Portugal, embora consuma menos, já está a pagar mais. O carvão, considerado até muito recentemente uma fonte de energia abundante, fiável e relativamente barata, passa actualmente por um período em que a forte procura em todo o mundo contrasta com a escassez da oferta. A conjugação de factores inoportunos – mau tempo, politicas energéticas débeis, reservas diminutas e o apetite voraz dos países asiáticos – fez disparar os preços “spot” internacionais em 50 por cento, ou mais, nos últimos cinco meses, tendo já ultrapassado os máximos históricos do barril de petróleo. Os indícios que apontam no sentido de uma crise de carvão têm vindo a manifestar-se nas minas, nas fábricas e nas habitações particulares: pelo menos 45 cargueiros ficaram retidos em portos australianos, aguardando carregamentos de carvão, protelados devido às chuvas torrenciais. E enquanto a China e o Vietname, que devem muito do seu desenvolvimento ao substancial aumento das exportações, decidiram, subitamente, suspender as exportações de carvão, a Índia optou por reforçar as importações deste combustível. Entretanto, muitas fábricas chinesas optaram por reduzir o horário de trabalho. Na África do Sul e em Java, a ilha mais populosa da Indonésia, registaram-se nos últimos tempos diversos cortes de energia. As empresas mineiras vivem actualmente um verdadeiro “boom”. Na região de Appalachia, EUA, vêem-se frotas de camiões cheios de carvão para exportação e no Japão reactivam-se ou expandem-se antigas minas. Compradores europeus e japoneses, preocupados com futuros fornecimentos, já começaram a negociar contratos milionários a longo prazo. O aumento dos preços do aço e do betão também tem contribuído para a subida da inflação. Nos EUA, o “boom” das exportações de carvão e respectivos preços tem ajudado a reduzir o défice comercial, que registou no ano passado, e pela primeira vez desde 2001, um ligeiro decréscimo. Segundo a National Mining Association (NMA), o valor das exportações de carvão, que representam 2,5 por cento do total das exportações norte-americanas, cresceu 19 por cento no ano passado, cifrando-se nos 4,1 mil milhões de dólares. A NMA espera um crescimento superior para este ano. Isto significa que as receitas provenientes das exportações de carvão norte-americanas permitiram cobrir o custo dos iPod importados da China, dos televisores de ecrã plano importados do Japão e da maquinaria vinda da Alemanha. Mas não deixa de ser irónico que o défice comercial da principal economia mundial na primeira década do século XXI tenha sido aligeirado por um combustível do tempo e das páginas dos livros de Charles Dickens. É normal que os preços do carvão e de outras matérias-primas sejam alvo de fortes oscilações. Apesar da ligeira descida dos preços do carvão nas últimas semanas, muitas empresas e analistas perguntam-se se os preços altos não terão vindo para ficar. Numa época em que há cada vez mais cidadãos pobres a ascender à classe média, a aderir à rede eléctrica e a consumir mais produtos transformados, a procura de carvão tem forçosamente de aumentar. O consumo mundial de carvão cresceu 30 por cento nos últimos seis anos, duas vezes mais que qualquer outra fonte de energia. Cerca de dois terços servem para abastecer centrais eléctricas e menos de um terço destina-se a utilizadores industriais, na maior parte dos casos produtores de aço e betão". Um importante documento que vale a pena ler e reflectir.

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