Opinião: BALANÇOS…
Fiquei sempre com a sensação que a recente visita oficial do Presidente da República à Madeira teve duas componentes distintas, no plano da projecção e análise informativa – uma regional e outra nacional – e igualmente dois tempos distintos: um primeiro, que antecedeu a chegada de Cavaco Silva ao Funchal, e que teve como ponto gerador de comentários, não as declarações de João Jardim sobre a oposição (embora tenham tudo algum impacto mediático) – até porque já ouvi declarações do mesmo calibre, ou piores, em sentido contrário (ou é racional sistematicamente chamada Jardim de “ditador” e comparar, por exemplo, a Madeira ao Zimbabwe?) – e outro que se centrou no facto do Presidente não fazer comentários que sistematicamente eram reclamados, quer por meios de comunicação social, quer por políticos da oposição.
Não me repugna nada reconhecer (até porque nem estive na Região nestes dias) que, em termos nacionais, a visita presidencial esteve sempre rodeada de um manto de suspeição e de críticas e insinuações, que em certa medida funcionou como instrumento de opressão sobre Cavaco, mas essencialmente como uma tentativa de desvalorizar a visita e de tentar centrar o essencial em aspectos que ultrapassados no tempo, continuaram contudo a ser o essencial em vez de serem, o acessório. Aliás hoje na Assembleia Legislativa, teremos a continuidade desta visita presidencial, depois de concluída, já que há pelo menos um voto de protesto do Bloco de Esquerda que promete, no mínimo, que tenhamos polémica. A ver vamos.
Enganam-se os que julgam que Cavaco Silva “caiu” na Madeira sem antes, e como me dizem costuma ser seu hábito, se ter munido de informações analíticas da realidade regional a vários níveis, desde o politico ao social, do financeiro ao orçamental. Em termos programáticos a visita decorreu tal como estava estabelecida e nada mais há a acrescentar. Podem os partidos, podem algumas pessoas ou até os jornalistas, questionar se poderiam ter sido incluídas no programa, ou não, outras visitas – a tal “Madeira real” que alguns falam, como se Cavaco Silva tivesse visitado uma Madeira virtual ou artificial ou se essas obras não tenham contribuído para o desenvolvimento dos concelhos visitados - e se deveriam ou poderiam ter sido retiradas algumas das deslocações que foram cumpridas pelo Presidente, como se uma oposição regional que não apoiou Cavaco Silva, que não votou em Cavaco Silva, que politicamente não o considera o seu Presidente - pudera! – viesse agora reclamar qualquer legitimidade, que não tem, para impor seja o que for, ou assumir o papel, por vezes teatralizado ao extremo, de vitimização para consumo mediático e reclamar de Cavaco Silva uma postura mais consentânea com o que a oposição diz, faz ou quer. Parece-me evidente que se entrarmos por aí, descontroladamente, e com hipocrisia q.b., qualquer um pode dizer o que bem entender. O problema reside na necessidade de sabermos até que ponto há alguma lógica das minorias políticas em quererem impor ao presidente uma agenda e um programa, como se Cavaco Silva não tivesse qualquer poder de decisão e a liberdade de escolher o seu próprio programa. Nada de polémicas desnecessárias. Aliás persistem dois “mistérios” desta visita – e baseio-me apenas nos títulos de jornais lidos na Internet – que curiosamente ninguém mais se preocupou em descodificá-los e desenvolver informativamente: por um lado a recomendação alegadamente feita por Cavaco aos partidos da oposição para apostarem no futuro; em segundo lugar, o facto, também noticiado, de que nenhum dos partidos se terá queixado no encontro que alguns mantiveram com o Presidente, da não realização da badalada sessão solene no Parlamento. Acho, salvo opiniões contrárias, que são dois aspectos que deveriam merecer uma outra atenção, sobretudo nas análises, em forma de balanço, feitas à visita de Cavaco à Madeira.
Associada a esta questão, não posso deixar de trazer a este meu espaço de opinião, a perspectiva de Miguel Sousa Tavares, com o qual, regra geral estou em desacordo, sobretudo quando aborda a realidade madeirense, na medida em que acho que o jornalista e escritor continua a ter uma enorme dificuldade em separar um qualquer o litígio, pessoal e/ou político, que eventualmente possa ter com o Presidente do Governo, da realidade regional mais generalizada. O excerto que darei conta revela, para além do conteúdo insultuoso para os madeirenses em geral – todos, sem excepção, por muito que alguns indivíduos da oposição regional achem piada e até aplaudam essas declarações – uma lamentável forma de olhar para a autonomia regional, particularmente a madeirense, a par da insistência na teoria maquiavélica de que não passamos de uma cambada de “chulos” do orçamento de Estado, vivendo à custa de Lisboa e dos impostos e favores dos continentais, e que, por isso, deveríamos obrigatoriamente continuar a assumir uma atitude de submissão ante a magnânima Lisboa, ajoelhar perante ela para agradecer todas as benesses abençoada pelo divino, a que se juntam absurdas opiniões sobre o separatismo e a independência, reveladoras de um carácter xenófobo, rancoroso e insultuoso, que certamente deveria ofender e incomodar cada um de nós, na sua dignidade, mas que certamente serão aplaudidas por indivíduos da oposição regional que julgam que conseguem colocar-se à margem do insulto. E que aplaudem, porque estão habituados a fazê-lo desde sempre, a tudo o que vá contra o Governo Regional, o PSD e Alberto João Jardim. E o que fizeram, em Lisboa, aos milhares de contos anuais que Salazar - tudo por causa a revolta da Madeira de 1931 – durante décadas roubou a esta Região, pretensamente para castigá-la por “prejuízos de guerra”? Onde foram eles aplicados? Em benefício de quem? O que teria sido possível fazer na Madeira com essas verbas? Sem mais comentários, é a seguinte a passagem do tal infeliz artigo de opinião de MST que entendi deixar-vos para uma reflexão mas para que possam também aquilatar da amplitude da ofensa por parte de quem nos pretende dar lições de moral ou ensinamentos sobre ética e princípios na política: “(…) O que eu gostava que um Presidente da República do meu país fosse fazer à Madeira era que, em lugar de se juntar ao coro dos elogios à ‘obra’ do dr. Jardim, tivesse um elogio para os portugueses que, trabalhando e pagando impostos ao longo de trinta anos, contribuíram para que a ‘obra’ se fizesse e para que o dr. Jardim fosse sucessivamente reeleito à conta disso. Que tivesse a coragem de resgatar a dívida de gratidão que a Madeira tem para com Portugal e que tem sido paga pelo dr. Jardim com intermináveis insultos e provocações, como se fosse nosso dever pagar e calar em troca do privilégio de a Madeira continuar portuguesa. Gostava que o Presidente explicasse aos madeirenses que ser português não é o resultado de uma conta de merceeiro, em que se pesa o deve e o haver e em que se reivindicam todos os direitos e se exige isenção de todos os deveres. E que, a continuar por este caminho, chegará o dia em que os portugueses vão exigir, não a “autonomia sem limites” de que falava o infeliz Luís Filipe Menezes, mas sim a independência da Madeira: a independência declarada por Portugal, entenda-se; não a independência declarada pela Madeira. Que chegará o dia em que os portugueses se vão perguntar por que é que hão-de continuar a sustentar o poder, os negócios e o exibicionismo mediático daquelas figuras patibulares que esperavam Cavaco no aeroporto do Funchal. A mim, se me perguntarem se quero continuar a pagar impostos para sustentar esta ‘autonomia’ da Madeira, representada e usufruída por aquela gente, eu respondo já que não. Que vão à vida deles e que arranjem quem lhes pague as contas, porque a mim nunca me pagaram para ser português nem eu aceitaria. Cavaco Silva deveria ter mais cuidado, mais sensibilidade política e mais noção de Estado ao afirmar que “nenhum português contesta hoje a autonomia regional”. Qual autonomia: a que custa 60, a que custa 90 ou a que custa 120 milhões por ano?”
Não me repugna nada reconhecer (até porque nem estive na Região nestes dias) que, em termos nacionais, a visita presidencial esteve sempre rodeada de um manto de suspeição e de críticas e insinuações, que em certa medida funcionou como instrumento de opressão sobre Cavaco, mas essencialmente como uma tentativa de desvalorizar a visita e de tentar centrar o essencial em aspectos que ultrapassados no tempo, continuaram contudo a ser o essencial em vez de serem, o acessório. Aliás hoje na Assembleia Legislativa, teremos a continuidade desta visita presidencial, depois de concluída, já que há pelo menos um voto de protesto do Bloco de Esquerda que promete, no mínimo, que tenhamos polémica. A ver vamos.
Enganam-se os que julgam que Cavaco Silva “caiu” na Madeira sem antes, e como me dizem costuma ser seu hábito, se ter munido de informações analíticas da realidade regional a vários níveis, desde o politico ao social, do financeiro ao orçamental. Em termos programáticos a visita decorreu tal como estava estabelecida e nada mais há a acrescentar. Podem os partidos, podem algumas pessoas ou até os jornalistas, questionar se poderiam ter sido incluídas no programa, ou não, outras visitas – a tal “Madeira real” que alguns falam, como se Cavaco Silva tivesse visitado uma Madeira virtual ou artificial ou se essas obras não tenham contribuído para o desenvolvimento dos concelhos visitados - e se deveriam ou poderiam ter sido retiradas algumas das deslocações que foram cumpridas pelo Presidente, como se uma oposição regional que não apoiou Cavaco Silva, que não votou em Cavaco Silva, que politicamente não o considera o seu Presidente - pudera! – viesse agora reclamar qualquer legitimidade, que não tem, para impor seja o que for, ou assumir o papel, por vezes teatralizado ao extremo, de vitimização para consumo mediático e reclamar de Cavaco Silva uma postura mais consentânea com o que a oposição diz, faz ou quer. Parece-me evidente que se entrarmos por aí, descontroladamente, e com hipocrisia q.b., qualquer um pode dizer o que bem entender. O problema reside na necessidade de sabermos até que ponto há alguma lógica das minorias políticas em quererem impor ao presidente uma agenda e um programa, como se Cavaco Silva não tivesse qualquer poder de decisão e a liberdade de escolher o seu próprio programa. Nada de polémicas desnecessárias. Aliás persistem dois “mistérios” desta visita – e baseio-me apenas nos títulos de jornais lidos na Internet – que curiosamente ninguém mais se preocupou em descodificá-los e desenvolver informativamente: por um lado a recomendação alegadamente feita por Cavaco aos partidos da oposição para apostarem no futuro; em segundo lugar, o facto, também noticiado, de que nenhum dos partidos se terá queixado no encontro que alguns mantiveram com o Presidente, da não realização da badalada sessão solene no Parlamento. Acho, salvo opiniões contrárias, que são dois aspectos que deveriam merecer uma outra atenção, sobretudo nas análises, em forma de balanço, feitas à visita de Cavaco à Madeira.
Associada a esta questão, não posso deixar de trazer a este meu espaço de opinião, a perspectiva de Miguel Sousa Tavares, com o qual, regra geral estou em desacordo, sobretudo quando aborda a realidade madeirense, na medida em que acho que o jornalista e escritor continua a ter uma enorme dificuldade em separar um qualquer o litígio, pessoal e/ou político, que eventualmente possa ter com o Presidente do Governo, da realidade regional mais generalizada. O excerto que darei conta revela, para além do conteúdo insultuoso para os madeirenses em geral – todos, sem excepção, por muito que alguns indivíduos da oposição regional achem piada e até aplaudam essas declarações – uma lamentável forma de olhar para a autonomia regional, particularmente a madeirense, a par da insistência na teoria maquiavélica de que não passamos de uma cambada de “chulos” do orçamento de Estado, vivendo à custa de Lisboa e dos impostos e favores dos continentais, e que, por isso, deveríamos obrigatoriamente continuar a assumir uma atitude de submissão ante a magnânima Lisboa, ajoelhar perante ela para agradecer todas as benesses abençoada pelo divino, a que se juntam absurdas opiniões sobre o separatismo e a independência, reveladoras de um carácter xenófobo, rancoroso e insultuoso, que certamente deveria ofender e incomodar cada um de nós, na sua dignidade, mas que certamente serão aplaudidas por indivíduos da oposição regional que julgam que conseguem colocar-se à margem do insulto. E que aplaudem, porque estão habituados a fazê-lo desde sempre, a tudo o que vá contra o Governo Regional, o PSD e Alberto João Jardim. E o que fizeram, em Lisboa, aos milhares de contos anuais que Salazar - tudo por causa a revolta da Madeira de 1931 – durante décadas roubou a esta Região, pretensamente para castigá-la por “prejuízos de guerra”? Onde foram eles aplicados? Em benefício de quem? O que teria sido possível fazer na Madeira com essas verbas? Sem mais comentários, é a seguinte a passagem do tal infeliz artigo de opinião de MST que entendi deixar-vos para uma reflexão mas para que possam também aquilatar da amplitude da ofensa por parte de quem nos pretende dar lições de moral ou ensinamentos sobre ética e princípios na política: “(…) O que eu gostava que um Presidente da República do meu país fosse fazer à Madeira era que, em lugar de se juntar ao coro dos elogios à ‘obra’ do dr. Jardim, tivesse um elogio para os portugueses que, trabalhando e pagando impostos ao longo de trinta anos, contribuíram para que a ‘obra’ se fizesse e para que o dr. Jardim fosse sucessivamente reeleito à conta disso. Que tivesse a coragem de resgatar a dívida de gratidão que a Madeira tem para com Portugal e que tem sido paga pelo dr. Jardim com intermináveis insultos e provocações, como se fosse nosso dever pagar e calar em troca do privilégio de a Madeira continuar portuguesa. Gostava que o Presidente explicasse aos madeirenses que ser português não é o resultado de uma conta de merceeiro, em que se pesa o deve e o haver e em que se reivindicam todos os direitos e se exige isenção de todos os deveres. E que, a continuar por este caminho, chegará o dia em que os portugueses vão exigir, não a “autonomia sem limites” de que falava o infeliz Luís Filipe Menezes, mas sim a independência da Madeira: a independência declarada por Portugal, entenda-se; não a independência declarada pela Madeira. Que chegará o dia em que os portugueses se vão perguntar por que é que hão-de continuar a sustentar o poder, os negócios e o exibicionismo mediático daquelas figuras patibulares que esperavam Cavaco no aeroporto do Funchal. A mim, se me perguntarem se quero continuar a pagar impostos para sustentar esta ‘autonomia’ da Madeira, representada e usufruída por aquela gente, eu respondo já que não. Que vão à vida deles e que arranjem quem lhes pague as contas, porque a mim nunca me pagaram para ser português nem eu aceitaria. Cavaco Silva deveria ter mais cuidado, mais sensibilidade política e mais noção de Estado ao afirmar que “nenhum português contesta hoje a autonomia regional”. Qual autonomia: a que custa 60, a que custa 90 ou a que custa 120 milhões por ano?”
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 22 de Abril de 2008)
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