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quarta-feira, 23 de abril de 2008

Opinião: O CONSELHO

Hoje realiza-se em Lisboa um Conselho Nacional do PSD extraordinário, na sequência da demissão de Luís Filipe Menezes. Estatutariamente trata-se de uma reunião obrigatória, já que cabe ao principal órgão partidário entre congressos, a tomada de decisões, nomeadamente a marcação da data de realização das directas, a convocação do próximo Congresso Nacional e a aprovação do respectivo regulamento. Mas para além destas questões processuais e estatutárias, é mais do que evidente que a reunião ficará marcada por intervenções políticas, algumas das quais aguardadas com expectativa.
Desde logo uma, de Luís Filipe Menezes, que acho que deve aproveitar a oportunidade para “abrir o jogo” e explicar aos conselheiros – porque continuamos a desconhecer – quais as principais causas, políticas e/ou outras, que o levaram a tomar a decisão de demitir-se do cargo. O PSD não pode eleger um líder em Outubro e sete meses depois estar envolvido numa crise interna, porque é sabido que as divergências internas existiram sempre e que, regra geral, essas picardias ou conflitos se limitam muitas vezes aos choques mais ou menos barulhentos, à sua capacidade de manipulação, mediatismo e espaço de actuação de grupos elitistas rivais, uns mais organizados que outros, outros mais “esfomeados” de poder ou mais persuasivos que outros, etc. No fundo não saímos disto. O problema é que a legitimidade num partido não pode ser posta em causa. Eu não fui, não sou apoiante de Menezes, como aliás sempre assumi. Entendi que as circunstâncias em que chegou ao poder e o seu próprio percurso político, não o apontavam como a solução mais adequada às exigências que se colocam ao PSD. Mas posso estar equivocado dado que não tenho certezas, até porque só depois de eleições é que podemos tirar conclusões.
A verdade é que Menezes era, para o bem e para o mal, o líder do meu partido, além de que eu sentia que tinha a obrigação de respeitar a vontade da maioria. O problema é que, fora das bases, em patamares mais altos onde sobre a intriga palaciana constante, chegando a meter nojo, as coisas complicaram-se e Luís Filipe Menezes, pelo menos foi essa a sensação com que fiquei, não disse tudo o que lhe apetecia dizer. Mas de uma cosia não tenho dúvida: o seu regresso, como candidato, seria a maior palhaçada a que este partido poderia sujeitar-se. Resta, portanto, que o Conselho Nacional em vez de se perder com teorias ou fazer a apologia ou apelo a consensos impossíveis e outras idiotices, tenha a coragem de exigir essas explicações a Menezes e tenham, os conselheiros, a coragem de ouvir o que o ainda líder do partido lhes tem a dizer. Aguardo com expectativa, na esperança de que não se transforme este Conselho Nacional numa espécie de arena romana, onde os gladiadores combatem para gáudio de assistências histéricas que freneticamente exigem a morte de todos os combatentes.
A mim interessa-me saber, por outro lado, o posicionamento de Alberto João Jardim no meio desta crise, expectativa que resulta sobretudo do discurso que proferiu segunda-feira na Ribeira Brava e que eu considero ter constituído uma deliberada e intencional antecipação à reunião de hoje em Lisboa, claramente com o propósito de indicar caminhos, enumerar soluções, no fundo destacar os princípios de um projecto programático de actuação política para o partido e apostando em 2009. Ou seja, Jardim quis mostrar antes do Conselho Nacional que tem ideias concretas e que sabe o que quer e para onde quer ir. Eu sei que ele tem sido fortemente pressionado, sobretudo nos últimos dois dias, para se candidatar. Julgo que os apoiantes de Menezes, afastados do poder nas circunstâncias conhecidas e apostados, eventualmente, pela via de uma candidatura não emergente do próprio grupo, em fomentar um ajuste de contas com os principais responsáveis por este desfecho – dado que eles não têm no seu seio qualquer personalidade capaz de se assumir como uma cativante candidatura alternativa, e com possibilidades de ganhar as ”directas” no partido – estariam a ponderar a possibilidade de fomentarem uma candidatura alternativa que, em meu entender, estaria ferida de morte logo à partida, pelo facciosismo que a mesma comportaria e sobretudo pela ligação que facilmente seria feita com os actuais dirigentes. Estas dúvidas levam-me a uma questão essencial, a garantia de total lisura, transparência, liberdade e seriedade no processo eleitoral, sem manipulação da vontade e das consciência dos militantes, quer por via de estratagemas que todos sabemos darem resultados, quer opor via de outras “habilidades” que distorcem a realidade e conduzem os partidos para más escolhas, regra geral olhando para o seu umbigo, escolhendo as pessoas que eles julgam ser as melhores, mas ignorando o sentir da sociedade civil, sem por esta se deixarem ser pressionados ou manipulados, mas onde se encontram, de facto, os eleitores que lhes propiciam vitórias ou impõem derrotas.
Finalmente o que penso de João Jardim? Julgo que este será talvez o momento político onde mais facilmente poderia aspirar à liderança do partido, caso tivesse tempo para a preparar antecipadamente (num mês alguém consegue cativar as bases de um partido seja ele qual for, salvo se estivermos perante um acto de desespero?). Mas há uma questão premente, e que nada tem a ver com outra forma egoísta de ver as coisas, mas tão-somente com o pragmatismo realista que temos que manter nestes momentos, e que tem a ver com a realidade partidária regional. Saído de um Congresso regional há duas semanas, o PSD da Madeira aprovou uma moção de estratégia e uma calendarização interna, elaborada e aprovada em função de uma realidade que se alteraria profundamente – isto no caso João Jardim se candidatar e ser eleito líder nacional do partido. Desde logo teríamos o PSD da Madeira envolvido em novas “directas”, com um novo Congresso e, provavelmente, antecipando toda a polémica que indiscutivelmente vai ter que enfrentar a seu tempo. Pelo simples facto de que o partido não está preparado, para, de um momento para outro, tomar decisões que sabe que em 2010 lhe serão exigidas. Isto em condições normais…
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 23 de Abril de 2008)

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