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sexta-feira, 9 de maio de 2008

Brasil: Atirada do 6º andar? (I)

Segundo a imprensa brasileira, num texto da jornalista Maria da Paz Tréfaut, "o país que mais exporta telenovelas comove-se com uma tragédia da vida real: a morte de Isabella Nardoni, a menina de cinco anos que a polícia acredita ter sido atirada do sexto andar pelo pai e pela madrasta que, contudo, alegam inocência Nas primeiras horas da manhã do último domingo de Abril, 100 polícias e 200 jornalistas cercaram o edifício London, na zona norte de São Paulo. Estava prestes a dar-se início à simulação do crime que mobiliza o Brasil há mais de um mês: a morte de Isabella Nardoni, de cinco anos, atirada do sexto andar enquanto passava o fim-de-semana com o pai e a madrasta. A imagem do prédio azul de varandas brancas com a rede de protecção cortada numa das janelas, repetida infinitas vezes em todas as emissoras de televisão, capitaliza mais audiência do que a trama de qualquer novela em horário nobre. No mundo das celebridades instantâneas, os Nardoni vivem um momento de exposição máxima. Para se deslocarem, e enquanto tentam fugir à imprensa e aos curiosos, precisam de protecção policial. Apesar desses cuidados, um cartaz onde se lê «assassinos» e «justiça» acompanha-lhes os movimentos. Até prova em contrário, são inocentes. Mas quase ninguém parece acreditar nessa possibilidade perante as evidências dos resultados da investigação da polícia: um corpo com ferimentos, manchas de sangue visíveis no carro, no apartamento, e outras que apesar de terem sido lavadas foram detectadas por aparelhos especiais, marcas no pescoço da menina, compatíveis com as mãos da madrasta, e partículas da rede de nylon, que protegia a janela, na blusa do pai. Apesar de tudo isto, Alexandre Nardoni e Anna Carolina pregam a sua inocência. Pelos depoimentos conhecidos até agora, a mãe de Isabella, a bancária Ana Cunha de Oliveira, 24 anos, terá dito que a madrasta tinha muitos ciúme da menina e que uma vez a criança chegou com marcas de dentadas - que foram atribuídas a um dos irmãos menores. Alguns vizinhos também descrevem a relação entre o pai e a madrasta como tempestuosa, permeada por brigas e palavrões. Alexandre Nardoni é um consultor jurídico que não ganha o suficiente para sustentar a família e dependia financeiramente do pai (o avô de Isabella é advogado e a polícia considera-o suspeito de ter tentado modificar a cena do crime quando foi ao apartamento do filho duas horas depois do enterro) até para pagar a pensão de Isabella. À polícia, apesar de reafirmar que a mulher gostava muito da enteada, disse que Anna Carolina andava muito nervosa, não dormia e tomava medicamentos.
O mundo não pode ser tão mau? Mas é!
«Até agora ninguém pode afirmar com certeza o que houve, mas a frieza dos suspeitos deixa a sociedade perplexa», comenta ao «Expresso» o advogado criminalista Eduardo Mulayert.
Na sua opinião, o crime é hediondo e deveria servir como reflexão para a sociedade. «Quando a gente assiste a uma história assim é como se dissesse: ‘O mundo não pode ser tão mau’. Mas este caso é um exemplo da violência contra a criança, muito frequente dentro da própria família, e que constitui um problema social seríssimo, para o qual deveríamos acordar.» A constatação da violência é irrefutável diante do exame do corpo, da pele e das unhas da menina. Mas, apesar das observações dos médicos de Medicina Legal, uma sucessão de erros atribuídos à investigação compromete a conclusão do inquérito. Para os especialistas, os dois mais importantes foram não isolar a área onde o corpo caiu e a demora de quatro dias para selar o apartamento do casal, o que pode ter permitido a alteração da cena do crime".

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