PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Artigo: Três notas

I. O vice-presidente do Governo Regional afirmou recentemente - par do pressuposto que está ultrapassado o desafio do desenvolvimento, que a Madeira tem agora um segundo desafio pela frente, “o de adaptar um novo modelo de desenvolvimento económico à nova conjuntura e às novas circunstâncias resultantes da falta de apoio do Estado e da redução dos fundos europeus”. Para o efeito, segundo João Cunha e Silva, «é preciso mudar um pouco as mentalidades e começar a ter a consciência que nenhuns dos novos desígnios são incompatíveis com a nossa realidade de arquipélago pequeno, perdido no meio do Atlântico, que luta contra a ultraperiferia que nos caracteriza e que nunca nos abandonará».
Eu creio que é bom que as pessoas com responsabilidades falem assim, com franqueza, com realismo, porque é chegado o tempo em que os políticos regionais precisam de ter, cada vez mais, maior ousadia, quer no apontar de novos rumos a seguir, quer no mobilizar dos madeirenses para uma nova era que indiscutivelmente caminha a passos largos, e que certamente terá implicações na mudança de hábitos e de algumas situações que naturalmente não poderão perdurar por mais tempo.
Sem querer ser pessimista, é bom que se tenha presente uma realidade incontornável: a Madeira, pela sua dimensão e pela sua própria realidade económica e empresarial, dificilmente poderá gerar mais receitas próprias, porque se o fizer, fá-lo-á sempre à custa das pessoas e das empresas, penalizando-as, o que neste momento me parece absolutamente contraproducente.
Por outro lado, embora a “facada” europeia não tenha sido a que inicialmente se previa, é um facto que a região ficará privada de significativos montantes, antes transferidos pelos fundos estruturais e programas comunitários. Finalmente, apesar de tudo o que se passou, incluindo a realização de eleições, lamento ter que reconhecer, pelo menos até hoje, que parece óbvio que a questão da lei de finanças regionais se mantém rigorosamente no mesmo impasse – o orçamento de Estado para 2008 será a prova final, ou não, do que afirmo – já que não me parece que exista, nem do governo socialista de Lisboa, nem do próprio Cavaco Silva – que recentemente no Algarve foi claro e não deixou dúvidas quanto ao seu pensamento sobre esta matéria – qualquer sinal de que a situação se alterará.

II. Na minha opinião, e para além de questões de conteúdo que não só o nervosismo explica, João Carlos Gouveia cometeu o erro, no discurso feito na festa socialista, de ter repetido exactamente o mesmo dos seus antecessores, particularmente de Jacinto Serrão, que nunca perceberam que, mais importante do que colocar-se ao lado de Lisboa, apenas porque agora está no poleiro um governo socialista, é preciso estar ao lado da Madeira, independentemente do facto de serem profundas as críticas políticas ao poder político regional. Uma coisa são essas divergências políticas, que existiram, existem e existirão sempre, porque não há consensos possíveis entre partidos que pensam legitimamente de forma diferente, outra coisa é considerar, por exemplo, que mais importante do que garantir recursos financeiros que a Madeira precisa, e que lhe foram sonegados por critérios politicamente adoptados com propósitos inquestionáveis, é mandar mais Polícia Judiciária e Ministério Público, como se não passássemos todos de uma corja de bandalhos à solta.
Eu não tenho nada contra o facto de JCG pensar como pensa e de estabelecer prioridades que, sendo para mim esquisitas, segundo ele são as que mais importam à Madeira e aos madeirenses. O que lamento é que João Carlos Gouveia não tivesse sido claro e conciso, naquilo que é o seu pensamento (?) quanto ao relacionamento entre o Estado e a Região, quanto ao que os Madeirenses podem esperar (se é que podem esperar alguma coisa) deste “novo” PS local, agora liderada por JCG e que presumo pretende ser alternativa ao PSD da Madeira.

III. Um amigo meu, ligado ao ramo das agências de viagens, perguntou-me há dias se eu era contra a presença das “low cost” na Madeira. Obviamente que não sou, nem tenho nada contra as companhias de baixo custo. Até o Vaticano a elas já se rendeu! Durante anos falou-se nos voos “charters” que, sem serem o que as “low cost” hoje representam, na prática constituíam uma forma de propiciar aos turistas uma conjugação de preços de viagem e de estadia nos hotéis, a baixos custos, permitindo assim um incremento da procura. Penso que a Madeira dificilmente poder-se-á aguentar, num mercado turístico cada vez mais global e fortemente concorrencial, fora da disputa das rotas cobertas pelas principais operadoras “low cost”. Por isso, nada tenho a obstar a que isso aconteça. O que eu afirmo - e nada me fará mudar de opinião – é que isso não pode, não deve, nem sequer tem que ser feito á custa da TAP. Se um dia a Madeira ficasse privada da TAP, é indiscutível que teríamos problemas bem mais graves, bem mais complexos do que aqueles que hoje existem. Além de que as “low cost”, no seu processo decisório de escolha de rotas conjugadas com a rentabilidade das mesmas, não cobrem todos os destinos turísticos europeus que nos interessam.
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 30 de Agosto 2007

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast