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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Opinião: A SOMBRA DE GUANTÁNAMO

A notícia que de Portugal “terá tido um papel muito mais relevante do que se sabia no transporte de prisioneiros de guerra e/ou suspeitos de terrorismo pelos EUA para a prisão de Guantánamo” promete dar que falar. Não duvidem. Mas pior do que tudo isso, é que à medida que se forem conhecendo os contornos de tudo isto, Portugal pode ser incluído numa qualquer lista do terrorismo internacional apostado na vingança contra o “colaboracionismo”. Tudo isto aconteceu depois de um relatório da ONG britânica “Reprieve”, segundo a qual 728 dos 744 prisioneiros transportados para esta unidade militar norte-americana em Cuba passaram por "jurisdição portuguesa", ou seja, ou pisaram mesmo solo nacional aterrando em pistas nacionais ou cruzaram o espaço aéreo. Confesso-vos que não sei que mais dizer, até porque são escassas as informações disponíveis., Mas temo que, conforme a evolução deste “caso”, sejamos obrigados a olhar para as questões da segurança interna de uma forma diferente do que fizemos até hoje, pelo menos enquanto subsistir a instabilidade sanguinária que reina no Médio Oriente e da qual parece não haver qualquer saída.
Não deixa também de ser estranho que o referido relatório vá ao pormenor de revelar os nomes dos prisioneiros transportados bem como os sítios de onde partiram, identificando os 48 voos onde esses prisioneiros foram alegadamente transportados, factos que até à data, não tinham sido revelados. Dizem alguns meios de comunicação social de ontem, que dos 48 voos realizados, nove aterraram em Portugal (todos nos Açores, nos aeroportos das Lajes e Santa Maria). Desconheço a reacção do Governo Regional dos Açores, pelo menos até o momento em que escrevo este texto, a tudo isto que obviamente também coloca aquela Região numa posição difícil. Tudo isto se terá passado, segundo as denúncias, entre Janeiro de 2002 e Maio de 2006, ou seja, “apanhando” os governos de António Guterres (parte final porque se tinha demitido depois das autárquicas de Dezembro de 2001 e aguardava as eleições de 2002 que o PSD viria ganhar), o governo da coligação PSD/CDS, com Barroso e Santana Lopes, que caiu em Fevereiro de 2005, e o actual empossado na sequência da vitória nas legislativas de Fevereiro desse ano. Contudo, diz a organização, foi com o governo de José Sócrates que teve lugar o maior número de aterragens em Portugal (5). Repito: eu não sei o que vai acontecer, não sei qual a evolução deste caso, não sei mesmo se algumas cabeças cairão, nem sei até se Durão Barroso poderá ser apanhado com Guterres e Sócrates numa qualquer tempestade que movimentos políticos mais radicais queiram promover. Uma coisa é certa: os portugueses, situados perante estas novas denúncias, quererão cada vez mais saber realmente o que aconteceu. Desconheço qual o espaço de manobra que o actual governo e os responsáveis dos anteriores governos terão, neste momento. Direi apenas que é uma situação incómoda. No mínimo.
Numa primeira reacção, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus disse que “naturalmente, repudiamos as conclusões a que esse relatório chega”, acrescentando que o governo português “manifesta a nossa condenação, a nossa rejeição e também a nossa indignação (...) tendo em conta que o governo português prestou todas as informações de que dispunha, com toda a transparência”. Não me custa aceitar que possamos estar perante um caso de manipulação, até porque não sei qual a credibilidade da organização autora do documento. Mas que o governo v ai ter que ensaiar uma estratégia eficaz de resposta, disso não duvido.

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira, 30 de Janeiro de 2008)

P.S. Quando me preparava para terminar este texto, eis que sou confrontado com a notícia de uma remodelação no actual governo socialista, sempre negada pelo seu líder: basicamente o primeiro-ministro solicitou ao Presidente da República a exoneração dos ministros da Saúde, Correia de Campos, da ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, e do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, João Amaral Tomás. Para os substituir, José Sócrates indicou Ana Jorge, José António Pinto Ribeiro, Carlos Lobo, respectivamente. Sócrates acabou por fazer o que os meios de comunicação social já tinham anunciado há bastante tempo. A novidade resulta apenas do facto de serem apenas estes dois ministros os visados e de terem sido escolhidos nomes absolutamente “desconhecidos” para as respectivas pastas. Resta saber se o governo actual de Sócrates, terminada a presidência da União Europeia, e “regressado” à realidade nacional, vai resistir noutras áreas sob pressão, até às eleições legislativas de 2009, ou se Sócrates preferiu ensaiar uma remodelação faseada. Uma coisa é certa: pelos vistos as coisas não estavam a funcionar tão bem como o próprio primeiro-ministro dizia. A grande dúvida é saber se na política de saúde, tão contestada em todo o país, o governo vai recuar a pensar nas eleições e na recuperação da imagem, ou se vai manter a mesma linha de orientação, contestada até por vários sectores do PS.

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