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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Opinião: AS “LOW COST” E A TAP

Há dias ficamos a saber – mas como ninguém conta nada pelo que nestes casos a especulação acaba por ser legitimada pelo silêncio – que uma das causas das “zaragatas” que terão levado á demissão, depois anulada, do Presidente da ACIF, teve a ver com as verbas pagas pela Região a um dos novos operadores “low cost” que operam para a Madeira (a “EasyJet”), já que alguns empresários hoteleiros locais terão sustentado que existem outras companhias de voos charter que operam para a Madeira já há muitos anos e que nunca receberam quaisquer estímulos financeiros. Isto poderá ter a ver com notícias que li, no final do ano passado –mas sobre s quais nada ouvi desde então –dando conta que algumas companhias áreas não regulares poderão deixar de voar para a Madeira ainda este ano, colocando por isso problemas acrescidos aos hoteleiros madeirenses com dependem dessas frequências e dessas companhias. O que é facto é que fico sem saber se estarei ou não a referir correctamente o que se passou nessa conturbada reunião no âmbito da Agência de Promoção da Madeira.
Sou, e várias vezes o tenho afirmado, um defensor assumido, e sem qualquer hesitação ou complexos, da TAP e do seu relacionamento empresarial com a Madeira. Penso que seria grave se uma Região como a nossa, totalmente dependente (e não só turisticamente) das ligações aéreas, de um momento para outro pensasse que descobriu a solução para os problemas apostando nas “low cost”, sabe-se lá à custa de quanto em termos de participação financeira do orçamento regional, deixando no ar a dúvida sobre se julga que pode (ou deve) prescindir da companhia aérea de bandeira. Eu sei que a Secretaria regional de Turismo celebrou recentemente um acordo com a transportadora aérea nacional com incidência na promoção. O que é revelador do pensamento oficial neste domínio. Mas sempre que ouvirem um hoteleiro falar da situação no sector, pode crer que a TAP será, inevitavelmente, o “bombo da festa”, como se uma política de promoção de um destino e de cativação de turistas, num mercado cada vez mais globalizado e onde a concorrência não conhece regras ou limites, tivesse apenas a ver com as ligações aéreas, embora estas sejam reconhecidamente uma componente fundamental.
A TAP tem uma rede de ligações, não só para o Continente mas sobretudo para o estrangeiro, que nunca uma ”low cost” igualará, dado que são estruturas empresariais minimalistas que apostam no primado economicista, onde os resultados de exploração positivos e os lucros são o centro da sua actividade. Para estas companhias, não há sentimentalismos operacionais nem serviço público nem nada. Ou a ligação é rentável e manter-se-á enquanto assim for, ou deixa de ser, e não hesitam em “fechar a loja” e procurar novos destinos. Não se iludam, não nos iludamos. Sou, por tudo isso, um adepto da TAP, defensor do papel decisivo que esta companhia teve, tem e continuará a ter para com a Madeira, o que não significa que seja uma companhia isenta de erros, que o serviço prestado não tenha muitas insuficiências e que não estejamos longe dos níveis qualitativos que se exige ao serviço que presta, particularmente a questão do tarifário e dos atrasos, impropriamente atribuídos a problemas com a gestão rotativa da frota nalguns destinos europeus, onde segundo a operadora se localizam as causas dos atrasos. Não creio que a TAP possa estar ao serviço de interesses específicos deste ou daquele grupo hoteleiro, apostado em manter taxas de ocupação que dependem das frequências entre a Região e determinado (s) destino (s), nem a operadora nacional pode andar a vaguear na elaboração do seu plano operacional ao sabor de interesses divergentes e de egoísmos, que regra geral colidem, de hoteleiros, agentes de viagens ou outros operadores do sector. Não sou um especialista no sector, nem sequer a ele estive ou estou ligado. Limito-me a dar expressão a um conjunto de ideias e de opiniões construídas ao longo dos anos em função do que se ouve e lê, embora isso não impeça que possa estar enganado. Admito até que, para os que estão mais identificados com todos estes problemas e que de uma forma isenta estão aptos a abordá-los, esteja a dizer alguma asneira. Apesar de continuar a pensar que não andarei longe da realidade se afirmar, repetidamente e as vezes que forem necessárias, que colocar a Madeira na dependência excessiva das ”low cost”,desprezando a TAP, será um erro grave com consequências gravosas para a Madeira e para o sector. Tendo presente que, sempre que se falar em transportes aéreos não se fala apenas nos interesses dos hoteleiros, nas taxas de ocupação que eles ambicionam ou nos destinos preferenciais deste ou daquele grupo. Quando se fala em transportes aéreos fala-se também nos madeirenses, que precisam do avião para sair da Madeira e que se estão a borrifar para as “guerras” entre grupos ou entre as elites do sector.
Obviamente que os custos estão a atingir – ou já atingiram – valores exorbitantes, perfeitamente absurdos e injustificáveis. Julgo que é este o “calcanhar de Aquiles” para os residentes. Ninguém sabe ainda qual o impacto da liberalização do sector e do facto do denominado “serviço público” deixar de ter a configuração que até hoje teve. Porventura para os hoteleiros e para os turistas os problemas sejam outros. Por isso, quando se fala nas ”low cost” temos que manter em relação a elas o mesmo patamar de exigência qualitativa e de segurança que temos em com a TAP, mesmo que pagando menos e tendo menos serviços a bordo ou assistência em terra mais reduzida. Se os problemas são apenas os atrasos das ligações, então elas colocam-se quer seja a TAP, quer seja qualquer das operadoras “low cost” com um relacionamento comercial mais estreito com a Madeira, caso da “Easy Jest”, já que alegadamente as causas desses atrasos estão relacionados com a gestão do tráfego aéreo no espaço europeu em determinadas horas do dia.
E nada melhor do que olhar para situações noticiadas neste jornal e que recomendam uma complementaridade entre a TAP e as “low cost”, sem atropelos, sem exigências diferenciadas para uma em relação ás outras, sem uma política discriminatória e não recomendada de incentivos passíveis de gerar conflitualidades de difícil resolução: “a companhia de aviação “Fischer Air Polska” deixou de voar para a Madeira. A última viagem agendada para a região, que deveria ter acontecido a 18 de Janeiro já não aconteceu. Tudo se fica a dever à falência da companhia que voava semanalmente entre Varsóvia e a Madeira. A transportadora havia iniciado a operação para a ilha em Novembro de 2007, realizando desde então realizou 11 voos. Uma fonte disse mesmo que a Fischer Air Polska já havia falido o ano passado e que a Prima Charter teria ficado com a operação, mas esta acabaria por colapsar. Neste momento, não se sabe, ao certo se alguma companhia vai substituir a Fischer Air Polska”…

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 28 de Janeiro de 2008)

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