Opinião: "30 ANOS"
Alberto João Jardim assinalou ontem 30 anos de governação regional sob a sua liderança. É inquestionável que foi decisivo o papel que ele desempenhou na mudança da Madeira, mesmo que tenha recorrido, e certamente que o fez, ao longo destes anos todos, a estratégias e métodos políticos que saíram fora do chamado “politicamente correcto” e não agradaram a Lisboa, desde logo aos seus correligionários de partido. O que é facto, é que Jardim soube sempre colocar a Madeira à frente de tudo o resto, soube pressionar Lisboa, foi importante nas negociações com Bruxelas socorrendo-se dos seus inúmeros contactos ao nível de organismos comunitários ligados as regiões, soube negociar com sucesso, ou sem ele, com os sucessivos governos que desfilaram pelo Terreiro do Paço desde 1976, puxou sempre pelo orgulho próprio dos madeirenses apelando à sua afirmação enquanto povo com direito a escolher em liberdade soluções diferentes das que imperaram ao longo destes 30 anos na república. Foi importante a sua política na transformação da realidade regional, aproximando o “campo” da “cidade”, dignificando os milhares de madeirenses que desprezados viviam no campo, muitas esperanças, injustiçados, explorados, desprezados, sem sonhos, sem dignidade, sem um mínimo de condições de vida com dignidade, conjugação de factores e realidade que acabaram por estar na origem, durante décadas, ao fenómeno da emigração que acompanha a história das ilhas e que nos levou praticamente a toldos os continentes.
Certamente que cometeu erros – ninguém é infalível, muito menos na política – quer enquanto governante e dirigente partidário. Mas foi também injustiçado e utilizado como arma de arremesso contra a Madeira, a Autonomia e os próprios madeirenses, tantas vezes acusados de viverem à custa do orçamento de Estado, depois de terem sido esmagados pelo colonialismo centralista do regime anterior, sem que em Lisboa alguém se tivesse alguma vez preocupado com isso minimamente. Mas isso faz parte do ónus que um político com responsabilidades públicas e com carisma, regra geral carrega consigo. Foram certamente muitos os momentos de silêncio, em que teve que decidir sozinho pensando em muitos factores, sendo regra geral nesta altura que uma pessoa se sente e quer ficar só. Mas foram muitos os sucessos conquistados. Não creio que Alberto João Jardim, que politicamente insiste numa bipolarização, alimenta um conflito constante coma comunicação social ou que se socorra de um discurso com uma agressividade acima do que se passa no Continente, seja olhado de diferentes formas. E que a oposição não seja capaz de lhe reconhecer qualquer mérito.
Vemos frequentemente, partidos e políticos regionais, que há trinta anos somam derrota atrás de derrota, pelo simples facto de que não foram credores da confiança do eleitorado, criticar muitos aspectos da governação dos quais nem, testemunhas foram. Obviamente, e eu si que ele pensa assim, que Alberto João Jardim dispensa qualquer apoio junto de partidos contra os quais sempre esteve e sempre combateu no quadro de uma bipolarização que ele propositadamente alimentou, e alimenta, dada a intenção, sobretudo quando era (é) a Autonomia a estar em causa, de, neste contexto, separar claramente o PSD das restantes forças políticas.
Sucessivamente eleito, entre 1980 (em 1976 não foi o presidente do primeiro governo regional, mas apenas líder parlamentar regional, numa altura em que a produção legislativa regional seria de fundamental e decisiva importância para a afirmação do processo autonómico, particularmente a definição constitucional e estatutária das competências da Região e, no quadro delas, a negociação do processo de transferência de competências do Estado para a Região) e 2007 (neste caso depois de pela primeira vez se ter demitido em conflito com Lisboa, por causa da Lei de Finanças Regionais, obrigando a eleições antecipadas nas quais o PSD acabou por esmagar a oposição – então dispondo da tão reclamada nova lei eleitoral - ter quantitativamente a maior votação de sempre) Jardim foi acusado, repetidamente, de não permitir a alternância democrática no poder – como se isso resultasse não da vontade do eleitorado mas de uma decisão de secretaria – perspectiva que viria a estar na origem do famoso “défice democrático” descoberto por Mário Soares e hoje banalizado em termos de utilização.
Jardim entendeu que, agora e finalmente, chegou a sua hora de abandonar o barco, criando um problema (eu gosto de chamar as coisas pelo seu nome) ao PSD, fomentando uma profunda mudança no seio do partido, até pelo desgaste que muitos protagonistas causam junto dos cidadãos. Jardim terá que ser substituído no partido por uma pessoa que ele pretende tenha o perfil adequado a que o PSD possa ganhar junto do povo, continuando no poder e a afirmar-se como a força liderante e dinamizadora do processo autonómico.
Paradoxalmente, tudo indica que será neste momento de saída, que Alberto João Jardim provavelmente enfrentará dos maiores desafios: o da mudança do modelo económico regional, que ele repetidamente tem vindo a falar nos últimos tempos, que rapidamente exigirá desafios e adaptações e que poderão causar situações mais complicadas, a incerteza quanto à ameaça de uma nos países europeus e ao seu impacto nas economias pequenas e dependentes como a madeirense; o da proposta de revisão constitucional a ser levada a Lisboa em 2010; o da urgente necessidade, de uma vez por todas, do relacionamento financeiro entre o Estado e a Região e, finalmente, a resolução da questão da sua sucessão e do encaminhar do PSD, sem ter um envolvimento directo nesse processo, para a solução interna que melhor sirva não a sobrevivência de grupos de pressão e de interesses no seio do partido, mas a solução que vá ao encontro das pessoas e que seja por estas respeitada e apoiada eleitoralmente.
Certamente que cometeu erros – ninguém é infalível, muito menos na política – quer enquanto governante e dirigente partidário. Mas foi também injustiçado e utilizado como arma de arremesso contra a Madeira, a Autonomia e os próprios madeirenses, tantas vezes acusados de viverem à custa do orçamento de Estado, depois de terem sido esmagados pelo colonialismo centralista do regime anterior, sem que em Lisboa alguém se tivesse alguma vez preocupado com isso minimamente. Mas isso faz parte do ónus que um político com responsabilidades públicas e com carisma, regra geral carrega consigo. Foram certamente muitos os momentos de silêncio, em que teve que decidir sozinho pensando em muitos factores, sendo regra geral nesta altura que uma pessoa se sente e quer ficar só. Mas foram muitos os sucessos conquistados. Não creio que Alberto João Jardim, que politicamente insiste numa bipolarização, alimenta um conflito constante coma comunicação social ou que se socorra de um discurso com uma agressividade acima do que se passa no Continente, seja olhado de diferentes formas. E que a oposição não seja capaz de lhe reconhecer qualquer mérito.
Vemos frequentemente, partidos e políticos regionais, que há trinta anos somam derrota atrás de derrota, pelo simples facto de que não foram credores da confiança do eleitorado, criticar muitos aspectos da governação dos quais nem, testemunhas foram. Obviamente, e eu si que ele pensa assim, que Alberto João Jardim dispensa qualquer apoio junto de partidos contra os quais sempre esteve e sempre combateu no quadro de uma bipolarização que ele propositadamente alimentou, e alimenta, dada a intenção, sobretudo quando era (é) a Autonomia a estar em causa, de, neste contexto, separar claramente o PSD das restantes forças políticas.
Sucessivamente eleito, entre 1980 (em 1976 não foi o presidente do primeiro governo regional, mas apenas líder parlamentar regional, numa altura em que a produção legislativa regional seria de fundamental e decisiva importância para a afirmação do processo autonómico, particularmente a definição constitucional e estatutária das competências da Região e, no quadro delas, a negociação do processo de transferência de competências do Estado para a Região) e 2007 (neste caso depois de pela primeira vez se ter demitido em conflito com Lisboa, por causa da Lei de Finanças Regionais, obrigando a eleições antecipadas nas quais o PSD acabou por esmagar a oposição – então dispondo da tão reclamada nova lei eleitoral - ter quantitativamente a maior votação de sempre) Jardim foi acusado, repetidamente, de não permitir a alternância democrática no poder – como se isso resultasse não da vontade do eleitorado mas de uma decisão de secretaria – perspectiva que viria a estar na origem do famoso “défice democrático” descoberto por Mário Soares e hoje banalizado em termos de utilização.
Jardim entendeu que, agora e finalmente, chegou a sua hora de abandonar o barco, criando um problema (eu gosto de chamar as coisas pelo seu nome) ao PSD, fomentando uma profunda mudança no seio do partido, até pelo desgaste que muitos protagonistas causam junto dos cidadãos. Jardim terá que ser substituído no partido por uma pessoa que ele pretende tenha o perfil adequado a que o PSD possa ganhar junto do povo, continuando no poder e a afirmar-se como a força liderante e dinamizadora do processo autonómico.
Paradoxalmente, tudo indica que será neste momento de saída, que Alberto João Jardim provavelmente enfrentará dos maiores desafios: o da mudança do modelo económico regional, que ele repetidamente tem vindo a falar nos últimos tempos, que rapidamente exigirá desafios e adaptações e que poderão causar situações mais complicadas, a incerteza quanto à ameaça de uma nos países europeus e ao seu impacto nas economias pequenas e dependentes como a madeirense; o da proposta de revisão constitucional a ser levada a Lisboa em 2010; o da urgente necessidade, de uma vez por todas, do relacionamento financeiro entre o Estado e a Região e, finalmente, a resolução da questão da sua sucessão e do encaminhar do PSD, sem ter um envolvimento directo nesse processo, para a solução interna que melhor sirva não a sobrevivência de grupos de pressão e de interesses no seio do partido, mas a solução que vá ao encontro das pessoas e que seja por estas respeitada e apoiada eleitoralmente.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 18 de Março de 2008)
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