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Opinião e coisas do nosso mundo...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Opinião: TUDO BEM…

Passada a Páscoa – que certamente serviu de pretexto para uma reflexão acercada nossa realidade social, nomeadamente para pensarmos na pobreza, nos problemas sociais que afectam muitas famílias, nos dramas com os quais, todos os dias, cidadãos que vivem ao nosso lado se confrontam, muitos deles em silêncio, por vergonha e com receio de serem ridicularizados ou marginalizados por uma sociedade cada vez mais patética e egoísta – é tempo de voltarmos à política, nas suas múltiplas vertentes, a da verdade e dos facto, a da manipulação, da ficção, da mentira, da hipocrisia a da futurologia, etc.
Tenho uma grande dificuldade em acreditar que as pessoas manifestem lamentável insensibilidade e sejam capazes de desligar-se, principalmente nestas épocas mais especiais do ano, nas quais a religiosidade mais apela à reflexão interior de cada pessoa, do sofrimento e dos problemas dos outros, dos que estão ao nosso lado e nem por eles damos. Tenho uma grande dificuldade em acreditar que os políticos, pelas responsabilidades acrescidas que têm, pela capacidade de decisão que alguns deles possuem, sejam capazes de passar ao lado dos problemas dos jovens, dos dramas dos idosos em final de vida e que tudo deram, enquanto puderam, aos que lhes pediram, e que hoje são injustiçados, abandonados pelos seus, agredidos, violentados nos seus direitos, que passem ao lado do aumento da violência, da criminalidade, da droga, dos problemas dos jovens cada vez mais desiludidos e proibidos de sonhar, sem saídas profissionais, penalizados por uma política economicista que para eles se está borrifando, que sejam capazes de ignorar o desemprego, a precariedade do trabalho, as mulheres cada vez mais penalizadas por regras laborais que, nalguns casos e pela forma como são aplicadas, comportam uma natureza criminal.
Tenho uma grande dificuldade em entender a insensibilidade de muitos políticos que se agarram aos indicadores estatísticos, como se eles fizessem lei e fossem tudo na vida, mas ignoram a realidade social, de muitos políticos que falam na recuperação da economia, mas são incapazes de reconhecer o aumento do desemprego, que insistem na política economicista e orçamentalista mas ignoram deliberadamente, porque incomodativo, o impacto negativo que tudo isso tem causado nos agregados familiares, sem precaverem uma discriminação positiva, que evitem penalizar os mais pobres ao mesmo nível do que se passa com os mais remediados ou dos ricos.
Por tudo isso acredito que o distanciamento dos jovens da política e dos partidos é uma realidade incontornável que não pode ser desvalorizada que apela à reflexão e a uma profunda mudança de atitudes, provavelmente porque organizações políticas com responsabilidade e que com eles se deveriam preocupar em primeira instância e assumir um persistente e combatido protagonismo reivindicativo, perdem-se em contradições internas, em intrigas, em alimentar patéticas encenações ou dar prioridade ao que realmente não é importante nos dias que correm, em coisinhas que de pouco ou nada valem, que olham deslumbradas para o seu próprio umbigo como se nele vissem o mundo que nos rodeia. Aliás, e aproveitando a realização, em 2009, de três actos eleitorais distintos, que as Câmaras Municipais e as Juntas de Freguesia da Madeira dessem o exemplo e, salvaguardando escrupulosamente a confidencialidade dos indicadores, promovessem um estudo sobre os diferentes níveis de participação, por forma a perceberem, a que todos percebêssemos, de uma vez por todas, quem vota e quem não comparece nas urnas. Por tudo isto, acredito que os partidos, embora continuem a ser um dos pilares essenciais do regime democrático e do sistema político, continuarão a passar dificuldades e dificilmente conseguirão ver aumentadas as suas bases militantes, porque as pessoas mais depressa se afastam, desiludidas, e muitas delas traídas nas suas expectativas e nos seus sonhos, que se aproximam, por causa da frustração causada por respostas que procuram há muito tempo, há demasiado tempo, e que ninguém lhes consegue dar.
Vivemos tempos que se adivinham bastante complicados para o meu partido e para o futuro do seu projecto político, que na Madeira vive há mais de 30 anos na sombra e à imagem de Alberto João Jardim. São tempos em que se adivinham mudanças significativas – e que não concebo que se limitem a Alberto João Jardim e a Miguel Mendonça, porque tudo o resto vai continuar na mesma, como se não tivéssetmos vulnerabilidades para assumir e combater e vícios para acabar de uma vez por todas. As bases do PSD da Madeira têm que perceber que nada do que acabo de referir tem a ver com o facto de continuar a acreditar na capacidade do partido em prosseguir como partido vitorioso e liderante. Mas terão que ser adultas, e serão suficientemente maturas, para entenderem que falamos em concreto de duas realidades distintas, do PSD com Alberto João Jardim e das quase 40 vitórias eleitorais desde 1975, e de um partido renovado que deve continuar a trilhar os mesmos caminhos, a defender os mesmos princípios e o mesmo programa, mas que vai para o combate político e eleitoral privado da sua grande referência histórica ao longo de todo este tempo. Por circunstâncias várias, nomeadamente não querer ser mal interpretado ou injustamente pressionado, não falarei mais do PSD da Madeira até ao próximo Congresso de Abril.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 24 deMarço de 2008)

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