Opinião:SONDAGENS E AVISOS
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Eu não sei se Filipe Meneses dá credibilidade a estas sondagens – eu desconfio que mesmo que as venha a desvalorizar é em grande parte refém destes indicadores. Mas, verdade seja dita, confesso que pouco me importa saber o que ele pensa sobre isto, até porque estas sondagens realizam-se com frequência pelo que podem constituir sempre uma ferramenta de ajuda aos dirigentes partidários para avaliarem os resultados do seu comportamento. O que eu sei, porque os dados são estes, é que numa conjuntura de forte contestação social, onde o governo socialista é sistemática e diariamente visado com acções de rua e outras, o PSD tarda em, afirmar-se, em ganhar a confiança as pessoas, em dar uma imagem de partido liderado por uma personalidade forte e carismática. Pior de tudo isso, é que os resultados desta sondagem feita pela Universidade Católica – entidade respeitável – mostra um Filipe Meneses muito distante de Sócrates, inclusivamente em itens onde seria suposto que fosse substancialmente mais curta essa diferença.
Numa análise fria, pragmática e calculista, se quiserem, qualquer pessoa diria que Filipe Meneses tem que perceber estes sinais, tem que definir prioridades, tem que saber o que pensam as pessoas, o que querem, que frustrações lhes têm sido causadas pela governação socialista, tem que perceber que as pessoas precisam de um PSD alternativa, de facto, e não um PSD dependente do PS, que anda a reboque da agenda política estabelecida pelo governo. Tem que perceber que os portugueses precisam de saber que medidas concretas e que prioridades, tem o PSD para o caso de vir a ser poder em 2009. Qualquer pessoa normal e atenta, apercebe-se do oportunismo de quem em função dos acontecimentos, ora reúne-se com enfermeiros, onde corre para os braços dos professores, ora elogia os médicos, etc. Qualquer pessoal normal e atenta, recusaria aceitar que a promessa de retirada da publicidade da RTP – fora de um contexto de uma discussão mais ampla, a de saber se o Estrado quer ou deve manter um serviço público de televisão, e em que moldes – seja uma prioridade para um povo saturado de promessas não cumpridas, de perda do poder de compra, de medidas sistematicamente punitivas, e que nesses dias foi confrontado com a ameaça de aumentos de 50% do preço do pão ou com o agravamento do preço do petróleo para valores recordes nunca antes imagináveis, enfim, para uma realidade social, e económica que exigia mais do líder da oposição.
E eu? Que querem que vos diga de um líder que não teve o meu voto? Querem, que diga que está tudo bem ou que são as sondagens que não valem nada pelo simples facto de não serem favoráveis ao meu partido? Querem que eu afirme que a estratégia de Meneses está correcta, que gera confiança, que mobiliza as pessoas, que despoleta uma onda de confiança e de apoio? Se é por obrigação, então faz-se de conta que disse tudo isso. Mas se é respeitando a liberdade de pensar de cada um, então podem ter a certeza que perdem o vosso tempo porque recuso, repito, recuso dizer semelhante disparate. Mesmo que tema pelo PSD, como temo, mesmo que tenha pena, como tenho, mesmo que esteja preocupado, como estou, com o que pode acontecer ao PSD em 2009, sabendo-se como todos sabemos que o ano eleitoral é sempre utilizado pelo partido no poder, e por este, para ensaiar decisões de charme, promover festanças e tomar medidas populares que acabam por propiciar votos.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 03 de Março de 2008)
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