Opinião: Congresso
Se há Congresso social-democrata onde nem sequer existem motivos, nem condições para as sempre tão apetecíveis divergências internas, para confrontações ou para conflitualidades entre pessoas, grupos, ambições, pretensos candidatos, etc, que reconheço fazem as grandes “caixas” nos meios de informação, é este. Não só porque não existem motivos, neste momento, para que tal aconteça – num quadro de escrupuloso respeito pela liberdade de cada um poder pensar da forma que entender e poder discordar seja sobre o que for, já que não cultivamos, nem podemos, nem devemos cultivar, o primado do unanimismo à martelada – mas porque a duração deste encontro (pouco mais de 24 horas), naquele que julgo ser um dos mais curtos, senão mesmo o mais curto, Congresso social-democrata não deixa grande espaço de manobra. Para além disso, existe uma conjugação de factores de diversa índole, internos e externos, que determinam que o PSD da Madeira deva ter, neste momento, outras prioridades, sobretudo políticas e eleitorais, a par da incontornável necessidade de adquirir a consciencialização colectiva, sem hesitações, reverencias, manipulações ou temores, de que se torna necessária uma reflexão interna com vista à tomada de grandes decisões, num processo que todos desejamos ver evoluir sem sobressaltos. Essas prioridades políticas, aliás definidas na moção de Alberto João Jardim, não têm rigorosamente nada a ver com “fait divers” artificiais, muitos deles criados na (ou pela) comunicação social, nem com “histórias da carochinha” que apenas servem para embalar os mais distraídos. Falo de prioridades políticas e eleitorais que são fundamentais ganhar, porque só assim o partido consegue aproximar-se tranquilamente de 2010/2011, dotado da estabilidade emocional que precisa.
Estou certo que não teremos polémicas, conflitos, agressividades excessivas, confrontos, afrontamentos, ataques pessoais, movimentações de grupos de interesses em choque uns com os outros, etc, pelo simples facto de que temos que ser suficiente maturos, sobretudo este momento, para entendermos que as preocupações não se podem concentrar na propalada questão da sucessão e nos folhetins novelescos que à volta deste tema têm sido construídos com mais ou menos dramatismo e/ou artificialismo. Os tempos são outros, não permitem, nem divagações que só nos conduzem para encruzilhadas, nem perdas de tempo.
Quem participa nas reuniões dos Conselhos Regionais, tem, tal como os demais meus companheiros membros deste órgão, a percepção de como as coisas funcionam. Podem acreditar que não é por causa da presença ou da ausência da comunicação social que as pessoas deixam de falar ou de dizer o que bem entenderem. Mas também acho que um congresso partidário não é propriamente uma feira de vaidades, um desfilar de oportunistas ou um palco para exibição de oportunismos. É essencialmente um momento interno, de reflexão – porventura dos poucos momentos em que um partido pode “fechar” a porta e pensar um pouco em si, no que tem feito, de bem ou de mal, no que deve passar a fazer, no que precisa de alterar, etc - em que um partido se vira mais para dentro, embora sem descurar a realidade e a necessidade de saber olhar para fora e para o futuro, não como ele quer, mas tentando perceber a forma como a maioria dos cidadãos e eleitores querem que ele seja olhado.
Tenho repetidamente afirmado, e insisto, que nenhum partido, a começar pelo PSD da Madeira – que por ser na Região um partido de poder tem responsabilidades acrescidas, ainda por cima numa conjuntura política regional que foi, é e continuará a ser de bipolarização política – ganha eleições a contar apenas com os seus militantes. Há um universo eleitoral “lá fora” (que em Maio de 2007 ultrapassou os 90 mil votos, embora considere que estes resultados constituíram uma situação de absoluta excepcionalidade por razões de todos conhecidas e que, curiosamente, um ano depois, continuam a persistir) que terá que ser determinante quando o partido for chamado a tomar uma decisão. Um Congresso, repito, é sobretudo um momento especial para que um partido pense em voz alta, para que discuta, reflicta e saiba reagir, pensando sobretudo consigo próprio e de si próprio, envolvendo todos os seus recursos humanos, os militantes. Ninguém obriga um partido, seja ele qual for, a ter que abrir-se todo, escancarando as portas para que outros, por via da comunicação social, tenham acesso a momentos que não sendo propriamente privados no sentido estrito da palavra, podem natural e compreensivelmente ser restritos, porque dizem respeito aos delegados que ali representam o universo dos pouco mais de 7 mil militantes inscritos.
O PSD da Madeira tem a consciência que a seu tempo - mas só quando o momento chegar e não quando terceiros, sobretudo de fora, entendem - terá que optar internamente, pensando livremente nos tais factores exógenos que são determinantes, decidindo sem emotividades, manipulações, fantasias, facciosismos, falsidades ou pressões, sem hipocrisias, intrigas palacianas ou jogos de bastidores que provocam mais desgaste e destruição em vez de construírem seja o que for, sem “moralismos” ou discursos inflamados que valem o que valem. E muito menos, sem o pretensiosismo de querer mergulhar, masoquistamente, num clima interno de pura luta pela sobrevivência política, deste ou daquele grupo, ou de espalhar “lições” ou moralismos que tresandam à distância, sobretudo quando oriundos de quem não tem moral, numa perspectiva de partido, para enveredar por esses caminhos.
Durante mais de 30 anos o PSD da Madeira acomodou-se sob a capa protectora de um líder forte, carismático, contundente e polémico é certo, mas que colocou sempre a Madeira e as suas gente à frente de tudo, que liderou um processo de desenvolvimento e de mudança da Madeira, certamente não isento de erros, até porque nada nem ninguém é perfeito, e que não superou todas as nossas dificuldades ou condicionalismos, um líder que apesar dessa sua agressividade oratória ou do discurso contundente, teve a habilidade política de saber lidar com sucessivos governos centrais que passaram pelo Terreiro do Paço, de natureza partidária diversa e de reunir e negociar com primeiros-ministros e ministros com sensibilidades, características e motivações diferentes. Por isso, o PSD da Madeira nunca sentiu a necessidade de discutir a liderança ou estratégias, porque contou com um líder que congregou vontades, superou potenciais fenómenos divisionistas, uniu as pontas, neutralizou tensões ou diferendos – que também existiram – mas que se afirmou sempre pela sua capacidade e por ter sido um líder ganhador, que somou sempre maiorias absolutas e manteve o PSD num patamar eleitoral vitorioso que dificilmente será repetido sem a sua presença. E não me venham com conversas fiadas ou a treta de que o PSD da Madeira com Alberto João Jardim será exactamente o mesmo sem Alberto João Jardim. Não será, nunca será. Porque quando se fala numa mudança, ela não pode circunscrever-se apenas à saída de João Jardim ou de alguns dos seus incondicionais apoiantes, os quais, por decisão própria, ou por necessidade evidente de algumas estratégias elitistas de óbvia ambição e necessidade de conquista do poder (e que arrastam consigo submissões intoleráveis), terão que ser colocados à margem. Não, a mudança, quando acontecer, tem que ser mais ampla e não se pode compadecer como estatutos seja de quem for. Mas como dispensamos os recados, não cairei no erro de me contradizer…
Estou em crer que deste Congresso sairão sobretudo orientações e opções estratégicas. No plano político puro, estão identificadas essas prioridades: preparar o exigente ciclo eleitoral de 2009, marcado por três actos eleitorais que o PSD da Madeira precisa de ganhar - qualquer cenário contrário indiciaria uma fragilização que inevitavelmente teria consequências internas – e apostar numa mudança política a nível nacional que traga com ela condições, sobretudo parlamentares, quer para a revisão do Estatuto Político, quer essencialmente no plano da receptividade a uma proposta de revisão constitucional relacionada com a clarificação e consolidação da Autonomia, na qual o PSD da Madeira se empenhará. No plano interno, a dinamização desse processo de reflexão, com total liberdade, visando o Congresso de finais de 2010 ou início de 2011, preferencialmente acompanhado previamente de um reencontro com a sociedade civil para debatermos o tal novo ciclo que Alberto João Jardim fala (e foram muitos e diversos os recados que deu durante a sua estada no Porto Santo, na Páscoa). Mas uma reflexão que não ponha em causa a estabilidade interna (nem falo na unidade, porque muitas vezes sei que ela é artificial) e que não fragilize o partido, para que o prive da confiança e da credibilidade que continua a ter junto da maioria dos eleitores votantes, apostando na recuperação dos demasiados abstencionistas, percebendo os motivos desse distanciamento, etc.
Lembro que o PSD da Madeira tem exemplos do que pode e do que não ser feito, neste domínio. Falo de soluções pensadas apenas na perspectiva do partido e nos interesses internos que melhor servissem pessoas ou grupos, mas que não interessaram ao eleitorado. Nos Açores, desde a saída apressada de Mota Amaral – embora em circunstâncias diferentes, é certo, mas tratando-se do líder carismático do PSD local e o seu principal mentor – vemos um PSD a falhar sucessivas soluções de liderança, perdendo eleições, e a poucos meses de novo acto eleitoral não sabe qual o desfecho de Outubro. A nível nacional, desde a saída de líderes que marcaram a história do partido, vemos um PSD entregue a facções, a ajustes de contas, a mediatismos, a disputas quase permanentes entre as elites, enfraquecido, incapaz de afirmar a nova liderança, pelo menos assim o indiciam sondagens recentes feitas por entidades credíveis. Talvez porque todas as candidaturas que se assumem por uma via de ruptura conflituosa, acabam por dividir em vez de unir, pagando com o tempo um ónus que acaba por prejudicar o partido, enquanto entidade colectiva, e não propriamente o senhor A ou fulano B.
Estou certo que não teremos polémicas, conflitos, agressividades excessivas, confrontos, afrontamentos, ataques pessoais, movimentações de grupos de interesses em choque uns com os outros, etc, pelo simples facto de que temos que ser suficiente maturos, sobretudo este momento, para entendermos que as preocupações não se podem concentrar na propalada questão da sucessão e nos folhetins novelescos que à volta deste tema têm sido construídos com mais ou menos dramatismo e/ou artificialismo. Os tempos são outros, não permitem, nem divagações que só nos conduzem para encruzilhadas, nem perdas de tempo.
Quem participa nas reuniões dos Conselhos Regionais, tem, tal como os demais meus companheiros membros deste órgão, a percepção de como as coisas funcionam. Podem acreditar que não é por causa da presença ou da ausência da comunicação social que as pessoas deixam de falar ou de dizer o que bem entenderem. Mas também acho que um congresso partidário não é propriamente uma feira de vaidades, um desfilar de oportunistas ou um palco para exibição de oportunismos. É essencialmente um momento interno, de reflexão – porventura dos poucos momentos em que um partido pode “fechar” a porta e pensar um pouco em si, no que tem feito, de bem ou de mal, no que deve passar a fazer, no que precisa de alterar, etc - em que um partido se vira mais para dentro, embora sem descurar a realidade e a necessidade de saber olhar para fora e para o futuro, não como ele quer, mas tentando perceber a forma como a maioria dos cidadãos e eleitores querem que ele seja olhado.
Tenho repetidamente afirmado, e insisto, que nenhum partido, a começar pelo PSD da Madeira – que por ser na Região um partido de poder tem responsabilidades acrescidas, ainda por cima numa conjuntura política regional que foi, é e continuará a ser de bipolarização política – ganha eleições a contar apenas com os seus militantes. Há um universo eleitoral “lá fora” (que em Maio de 2007 ultrapassou os 90 mil votos, embora considere que estes resultados constituíram uma situação de absoluta excepcionalidade por razões de todos conhecidas e que, curiosamente, um ano depois, continuam a persistir) que terá que ser determinante quando o partido for chamado a tomar uma decisão. Um Congresso, repito, é sobretudo um momento especial para que um partido pense em voz alta, para que discuta, reflicta e saiba reagir, pensando sobretudo consigo próprio e de si próprio, envolvendo todos os seus recursos humanos, os militantes. Ninguém obriga um partido, seja ele qual for, a ter que abrir-se todo, escancarando as portas para que outros, por via da comunicação social, tenham acesso a momentos que não sendo propriamente privados no sentido estrito da palavra, podem natural e compreensivelmente ser restritos, porque dizem respeito aos delegados que ali representam o universo dos pouco mais de 7 mil militantes inscritos.
O PSD da Madeira tem a consciência que a seu tempo - mas só quando o momento chegar e não quando terceiros, sobretudo de fora, entendem - terá que optar internamente, pensando livremente nos tais factores exógenos que são determinantes, decidindo sem emotividades, manipulações, fantasias, facciosismos, falsidades ou pressões, sem hipocrisias, intrigas palacianas ou jogos de bastidores que provocam mais desgaste e destruição em vez de construírem seja o que for, sem “moralismos” ou discursos inflamados que valem o que valem. E muito menos, sem o pretensiosismo de querer mergulhar, masoquistamente, num clima interno de pura luta pela sobrevivência política, deste ou daquele grupo, ou de espalhar “lições” ou moralismos que tresandam à distância, sobretudo quando oriundos de quem não tem moral, numa perspectiva de partido, para enveredar por esses caminhos.
Durante mais de 30 anos o PSD da Madeira acomodou-se sob a capa protectora de um líder forte, carismático, contundente e polémico é certo, mas que colocou sempre a Madeira e as suas gente à frente de tudo, que liderou um processo de desenvolvimento e de mudança da Madeira, certamente não isento de erros, até porque nada nem ninguém é perfeito, e que não superou todas as nossas dificuldades ou condicionalismos, um líder que apesar dessa sua agressividade oratória ou do discurso contundente, teve a habilidade política de saber lidar com sucessivos governos centrais que passaram pelo Terreiro do Paço, de natureza partidária diversa e de reunir e negociar com primeiros-ministros e ministros com sensibilidades, características e motivações diferentes. Por isso, o PSD da Madeira nunca sentiu a necessidade de discutir a liderança ou estratégias, porque contou com um líder que congregou vontades, superou potenciais fenómenos divisionistas, uniu as pontas, neutralizou tensões ou diferendos – que também existiram – mas que se afirmou sempre pela sua capacidade e por ter sido um líder ganhador, que somou sempre maiorias absolutas e manteve o PSD num patamar eleitoral vitorioso que dificilmente será repetido sem a sua presença. E não me venham com conversas fiadas ou a treta de que o PSD da Madeira com Alberto João Jardim será exactamente o mesmo sem Alberto João Jardim. Não será, nunca será. Porque quando se fala numa mudança, ela não pode circunscrever-se apenas à saída de João Jardim ou de alguns dos seus incondicionais apoiantes, os quais, por decisão própria, ou por necessidade evidente de algumas estratégias elitistas de óbvia ambição e necessidade de conquista do poder (e que arrastam consigo submissões intoleráveis), terão que ser colocados à margem. Não, a mudança, quando acontecer, tem que ser mais ampla e não se pode compadecer como estatutos seja de quem for. Mas como dispensamos os recados, não cairei no erro de me contradizer…
Estou em crer que deste Congresso sairão sobretudo orientações e opções estratégicas. No plano político puro, estão identificadas essas prioridades: preparar o exigente ciclo eleitoral de 2009, marcado por três actos eleitorais que o PSD da Madeira precisa de ganhar - qualquer cenário contrário indiciaria uma fragilização que inevitavelmente teria consequências internas – e apostar numa mudança política a nível nacional que traga com ela condições, sobretudo parlamentares, quer para a revisão do Estatuto Político, quer essencialmente no plano da receptividade a uma proposta de revisão constitucional relacionada com a clarificação e consolidação da Autonomia, na qual o PSD da Madeira se empenhará. No plano interno, a dinamização desse processo de reflexão, com total liberdade, visando o Congresso de finais de 2010 ou início de 2011, preferencialmente acompanhado previamente de um reencontro com a sociedade civil para debatermos o tal novo ciclo que Alberto João Jardim fala (e foram muitos e diversos os recados que deu durante a sua estada no Porto Santo, na Páscoa). Mas uma reflexão que não ponha em causa a estabilidade interna (nem falo na unidade, porque muitas vezes sei que ela é artificial) e que não fragilize o partido, para que o prive da confiança e da credibilidade que continua a ter junto da maioria dos eleitores votantes, apostando na recuperação dos demasiados abstencionistas, percebendo os motivos desse distanciamento, etc.
Lembro que o PSD da Madeira tem exemplos do que pode e do que não ser feito, neste domínio. Falo de soluções pensadas apenas na perspectiva do partido e nos interesses internos que melhor servissem pessoas ou grupos, mas que não interessaram ao eleitorado. Nos Açores, desde a saída apressada de Mota Amaral – embora em circunstâncias diferentes, é certo, mas tratando-se do líder carismático do PSD local e o seu principal mentor – vemos um PSD a falhar sucessivas soluções de liderança, perdendo eleições, e a poucos meses de novo acto eleitoral não sabe qual o desfecho de Outubro. A nível nacional, desde a saída de líderes que marcaram a história do partido, vemos um PSD entregue a facções, a ajustes de contas, a mediatismos, a disputas quase permanentes entre as elites, enfraquecido, incapaz de afirmar a nova liderança, pelo menos assim o indiciam sondagens recentes feitas por entidades credíveis. Talvez porque todas as candidaturas que se assumem por uma via de ruptura conflituosa, acabam por dividir em vez de unir, pagando com o tempo um ónus que acaba por prejudicar o partido, enquanto entidade colectiva, e não propriamente o senhor A ou fulano B.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 04 de Abril de 2008)
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