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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Opinião: OS RECADOS DE CAVACO

O 25 de Abril ficou marcado este ano pela divulgação, pelo Presidente da República, dos resultados de um estudo encomendado pela Presidência da República, intitulado “Os Jovens e a Política” e que parece ter surpreendido todos os presentes, por desconhecimento do documento. Cavaco Silva, mostrou-se "impressionado” com a ignorância de muitos jovens sobre o 25 de Abril e o seu significado e denunciou uma "notória insatisfação" dos portugueses com o funcionamento da democracia”. Mas lembrou uma realidade muitas vezes esquecida, em grande medida devido à partidarização das comemorações da efeméride e ao descarado apropriamento da data por parte de partidos que se julgam os “donos e senhores” da revolução e herdeiros do legado dos protagonistas (MFA) da revolução: “Direi que me impressiona que muitos jovens não saibam sequer o que foi o 25 de Abril, nem o que significou para Portugal. Os mais novos, sobretudo, quando interrogados sobre o que sucedeu em 25 de Abril de 1974 produzem afirmações que surpreendem pela ignorância de quem foram os principais protagonistas, pelo total alheamento relativamente ao que era viver num regime autoritário. Não posso deixar de recordar, que, quando o 25 de Abril ocorreu, uma parcela substancial da nossa população nem sequer era nascida. Quem viveu a revolução, tem a tendência para não se lembrar disso, julgando que essa data, fixada no tempo, possui uma perenidade eterna”. Cavaco Silva divulgou extractos desse estudo que mandou realizar sobre o alheamento da juventude face à política, e atribuiu parte da responsabilidade aos partidos políticos, acusação que a esquerda em particular recusou, embora nenhum partido tenha aceite”enfiar o barrete”: “Os partidos políticos possuem responsabilidades muito claras no combate ao alheamento dos jovens pela vida pública. No fundo, no combate à indiferença que muitos jovens têm pelo futuro do seu País. Tal deve-se, em boa medida, ao facto de não ter havido o necessário esforço para a credibilização da vida política. Esse esforço não dispensa algo de muito simples: ouvir o povo e falar-lhe com verdade. Vender ilusões não é, seguramente, a melhor forma de fortalecer o imprescindível clima de confiança que deve existir entre os cidadãos e a classe política. Do mesmo modo que seria bom acabar com um certo autismo de alguma classe política, levando-a a conhecer melhor a realidade do País, deveríamos pôr cobro ao pessimismo que muitos dizem ser uma característica singular do povo português, desde tempos imemoriais”. Aliás, o PCP e o Bloco de Esquerda como é evidente, foram mais longe, responsabilizando também Cavaco Silva por essa situação, por causa das suas funções governativas e das políticas tomadas pelos seus governos, num período político que, segundo eles (Louça e Jerónimo), terá sido decisivo para este alheamento dos jovens. Como se o PCP e o Bloco de Esquerda fossem ”exemplos” do que é estar na política e constituam partidos atractivos para os jovens… Cavaco acrescentou: “Não é justo para aqueles que se bateram pela liberdade, tantas vezes arriscando a própria vida, que a geração responsável por manter viva a memória de Abril persista em esquecer que a revolução foi um projecto de futuro e que, por ter sido um projecto de futuro, deve continuar a ser um sonho inspirador e um ideal para as gerações vindouras. Um regime político não pode esquecer as suas origens. Não é saudável que a nossa democracia despreze o seu código genético e as promessas que nele estiveram inscritas. Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar. Naquilo que continha em termos de ambição de uma sociedade mais justa, naquilo que exigia de um maior empenhamento cívico dos cidadãos, naquilo que implicava de uma nova atitude da classe política, há ainda um longo caminho a percorrer”. O Presidente explicou os motivos da iniciativa de ter mandado realizar o estudo: “Foi justamente a pensar na importância do 25 de Abril para a juventude dos nossos dias que, no ano passado, procurei suscitar a reflexão sobre o sentido a dar a esta efeméride. Eu próprio reflecti sobre que sentido faz hoje evocar o 25 de Abril. E, como sempre defendi que os agentes políticos devem prestar contas do que fazem, aqui me encontro para dizer aos Portugueses que continuo convencido que a juventude é o horizonte de qualquer comemoração do 25 de Abril verdadeiramente digna desse nome. O 25 de Abril, disse-o há um ano e digo-o de novo, não é monopólio de uma geração nem de uma força política. O pluralismo que inaugurou leva a comemorá-lo pensando na salutar diversidade de opiniões, no confronto de tendências e de visões do mundo, na livre expressão das ideias, no legítimo exercício do direito de criticar e discordar. Acima de tudo, leva a comemorá-lo pensando que o 25 de Abril é cada vez mais daqueles que nem sequer o viveram”. O Presidente chamou a atenção dos deputados para o “alheamento da juventude não pode deixar de nos preocupar a todos, a começar pelos agentes políticos. A começar por vós. Se os jovens não se interessam pela política é porque a política não é capaz de motivar o interesse dos jovens. Interrogo-me que efeitos daqui resultarão para o governo de Portugal num futuro não muito distante”. E sugeriu soluções concretas: “Impõe-se, por isso, que diminua aquilo a que os especialistas chamam a «distância ao poder». Não por acaso, a política local, segundo os elementos daquele estudo, é aquela que mais motiva os cidadãos. Quanto mais próximos estiverem os cidadãos dos centros de decisão, maior será o seu interesse em participar e intervir. Daí que os centros de decisão tenham de procurar uma «política de proximidade» relativamente aos Portugueses”. Não acham que, mais do que comemorar o 25 de Abril, como se de uma rotina se tratasse, com discursos que hoje já nada dizem às pessoas, num ambiente marcado por um misto de saudosismo que perdurará enquanto a geração que viveu os acontecimentos por cá estiver, seria mais adequado que se pensasse em novas formas de levar aos cidadãos, particularmente aos jovens que não estiveram presentes nesse momento decisivo da nossa história, a demonstração de que estes 34 anos valeram a pena? E não acham que a sistemática tentativa de apropriação, ideológica e partidária de uma revolução, branqueando por exemplo tudo o que aconteceu entre 1974 e 1975, contribuiu para que a efeméride fosse perdendo, lamentavelmente, importância no calendário das realizações políticas e comemorativas do nosso País?
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 28 de Abril de 2008)

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