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quinta-feira, 10 de abril de 2008

Opinião: PARAÍSO E PROPAGANDA

Ficamos ontem a saber que o Fundo Monetário Internacional “reviu fortemente em baixa a sua previsão de crescimento para Portugal este ano, antecipando agora um abrandamento da economia para uma taxa de variação do PIB de 1,3%, contra os 1,9% registados no ano passado”. Quer isto dizer que os que pensavam que finalmente tínhamos chegado ao “paraíso” – influenciados pelo discurso oficial propagandístico que, curiosamente, foi depois cautelosamente substituído por referências a preocupações (Teixeira dos Santos ao Financial Times) – devem ter muita calma e aguardar mais algum tempo, porque ninguém sabe qual o cenário económico, financeiro e orçamental que realmente nos espera em 2008, Garante a imprensa que “no relatório semestral sobre a economia mundial publicado pelo FMI, aponta-se ainda para um crescimento da economia portuguesa de 1,4% em 2009, o que significaria, a confirmar-se, que o país veria suspensa, pelo período de pelo menos dois anos, a recuperação do ritmo da actividade económica que tem verificado desde 2005”. Está tudo dito. Há uma substancial diferença entre o discurso político e governamental, de pura propaganda, que nada tem a ver com, uma realidade concreta, com a agravante comprovada de que ninguém consegue neste momento garantir se vamos ficar por aqui, ou se as coisas ficarão ainda mais “pretas”.
Segundo o “Publico”, “a projecção do FMI para Portugal representa uma correcção acentuada face à variação do PIB de 1,8% que tinha sido antecipada em Outubro passado. O fundo aponta ainda para uma taxa de inflação em Portugal de 2,4 e 2% em 2008 e 2009, respectivamente, e projecta, apesar do fraco ritmo de crescimento económico, uma diminuição ligeira do desemprego durante os dois anos”. Quer isto dizer, segundo o mesmo jornal, que “as perspectivas para Portugal são prejudicadas pela visão bastante negativo que o FMI tem em relação à evolução nos próximos dois anos da economia norte-americana e europeia. O fundo projecta um crescimento de 0,5 e 0,6% para os EUA neste ano e no próximo e coloca a Zona Euro, nos mesmo períodos, a crescer 1,4 e 1,2% (a Espanha é um dos países com uma correcção mais forte nas previsões de crescimento já que depois de um PIB de 3,8% no ano passado, não conseguirá mais do que 1,8% até 2009)”.
O Fundo Monetário Internacional estima, de acordo com as suas previsões, que o nosso país apenas regressará a um ritmo superior à média europeia lá para finais de 2009! Mas há mais. A mesma instituição garante no seu relatório sobre a Estabilidade Financeira Global, que ninguém sabe ao certo a real dimensão da actual crise, embora admita que “o valor das perdas que as empresas financeiras terão de abater às suas contas deve estar muito acima dos 232 mil milhões de dólares já assumidos, ou mesmo dos 600 mil milhões de dólares previstos pelo banco suíço UBS. Contudo, garante o FMI, as perdas deverão chegar aos 945 mil milhões de dólares (cerca de 601.700 milhões de euros), qualquer coisa como quase quatro vezes o PIB português”. Ou seja, estamos falar de questões muito sérias que podem afectar de uma forma dramaticamente intensa economias fragilizadas e dependentes de factores exógenos, como é o caso de Portugal e quem, por isso, podem não estar a ser seguidas com atenção e olhadas de forma superficial e pouco séria, para que os portugueses sejam mantidos à distância, mergulhados na ilusão de que o mal vai apenas afectar a casa dos outros ou que a baixa de 1% na taxa máxima do IVA vai ser a salvação de todos os nossos problemas.
É neste quadro pouco animador que o director-geral do FMI defendeu numa entrevista ao FT “a necessidade de uma intervenção pública mais radical e apontava novas medidas que poderiam ser tomadas. O relatório do FMI reafirmou a necessidade destas medidas e veio confirmar também os receios de que o pior ainda poderá não ter passado, ao admitir que os riscos para a estabilidade financeira se mantêm elevados. Isto porque o FMI sublinha que a actual crise é mais do que um problema de liquidez nos mercados, reflectindo antes fragilidades profundamente enraizadas nos balanços das empresas e fracas bases de capital, o que quer dizer que os seus efeitos deverão ser mais amplos, mais profundos e mais prolongados". Aliás, e a propósito, lembro que já foi noticiado que, devido aos efeitos negativos da difícil conjuntura internacional, o Banco de Portugal será obrigado a rever a sua previsão de crescimento para este ano passando-a dos actuais 2% para um valor da ordem dos 1,7%, ou até menos, expectativas mais distantes que as anunciadas pelo governo socialista e mesmo abaixo do resultado obtido em 2007. Sem entrarmos em pânico mas recomendando às pessoas que sigam a informação que diariamente os meios de comunicação disponibilizam sobre esta temática, parece-me de bom tom, que o governo socialista, incluindo o seu primeiro-ministro e o ministro das finanças, deixem de utilizar discursos excessivamente optimistas sob pena de baterem de frente e porque sabem perfeitamente que a margem de manobra do governo é hoje porventura muito mais reduzida do que era há dois ou três meses atrás.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 10 de Abril de 2008)
P.S. - O Grupo Parlamentar do PSD viu-se na necessidade de esclarecer ontem, em comunicado, a posição (abstenção) assumida na votação de um voto de congratulação que o PS apresentou no parlamento regional e relacionado com a visita de Cavaco Silva à Madeira. É mais do que evidente que um partido, como é o caso do PS local, que manteve sempre um ataque político contra Cavaco Silva, que se dividiu nas últimas presidenciais entre Mário Soares (apoio oficial) e Manuel Alegre (apoio ”subterrâneo”) e o atraque sistemático contra Cavaco Silva, com esta iniciativa tentou, para além do oportunismo hipócrita a ela subjacente “entalar” o PSD, acabando por consegui-lo. Entalar como? Ao não votar a favor uma iniciativa que, em termos de conteúdo, não tinha rigorosamente nenhuma referência ofensiva ou politicamente passível de ser tida por uma ataque a Cavaco, o PSD poderia incomodar não apenas Belém, mas sobretudo Alberto João Jardim que continua a contar com o apoio do Presidente para as suas causas autonómicas e, de uma maneira especial, no assumir-se como uma necessária “ponte” na manutenção de um diálogo com o governo socialista em Lisboa que propicie resultados. Foi nessa perspectiva – até porque, a seu tempo veremos qual será a posição do PS em relação a Cavaco Silva, particularmente nas próximas presidenciais quando os socialistas voltarem a enfrentar o actual Chefe de Estado, apoiando uma outra solução própria – que o PSD da Madeira, para evitar qualquer especulação, viu-se na necessidade de emitir ontem o comunicado que certamente este jornal noticia noutra página.

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