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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Opinião: CANDIDATURAS REFÉNS? (I)

Retomo hoje o tema com que encerrei o meu texto de opinião de ontem. Dirão alguns – porventura mais atentos, conhecedores e sabedores da realidade do que eu – que estou apenas a especular por não ter uma consistente base que fundamente o que afirmo. Sim senhor, não tenho essa base, optando apenas por tentar desenvolver uma teoria que, não sendo nova, nem sequer sendo minha, não deixa de, ao menos, suscitar uma reflexão, por muito maquiavélica que ela possa parecer. Em política, e particularmente em determinadas conjunturas político-partidárias mais agrestes, tudo é possível, parecendo que não há limites, nem para o imaginário ou ficcional. Falo da eventual relação indirecta, nos moldes que cada um entender estabelecer, entre a candidatura de Ferreira Leite, tida como a mais favorita nas sondagens, publicadas ou nas que foram guardadas na gaveta, e Cavaco Silva, numa ligação pessoal e política que alguns admitem poder ser suficiente para influenciar as bases do PSD, mas que outros não excluem possa construir razão de desconfiança e de fragilização da candidata.
Não é novidade para ninguém que Ferreira Leite – e ela não esconde isso, porque também não se trata de nenhum crime – está ligada a Cavaco Silva por relações de amizade, pessoais e familiares, que não são de hoje, que foi sua ministra e que, por tudo isso, foi convidada pelo Presidente a integrar o Conselho de Estado. Portanto, negar o “cavaquismo”, digamos assim, de MFL seria negar a evidência. Todos se recordam que Cavaco Silva, durante a sua recente visita à Madeira, fez um grande esforço para não abordar o tema – lembro que foi durante essa visita que os acontecimentos no partido se precipitaram e o nome de Ferreira Leite começou a aparecer na comunicação social como potencial candidata – embora alguns tivesse ficado com a convicção de que, pelo menos alguns membros do seu “staff” estariam a fazê-lo e, mais do que isso, estariam convencidos que a ex-Ministra da Educação e das Finanças, não avançaria. A evolução dos acontecimentos, apontando noutra direcção, indicia – ou pelo menos deixam essa dúvida – que a candidatura de Manuela Ferreira Leite esteja longe de constituir uma aventura, o que implicaria uma prévia preparação da mesma, uma auscultação ao partido e a garantia de apoios que necessariamente teriam que ser assegurados, neste caso, visando a operacionalidade (no terreno) de uma candidatura à liderança de um partido.
É um dado adquirido que o PSD chegou a um estado tal que, sem uma verdadeira revolução interna, emanada a partir das bases para o topo e não uma revolução se sentido inverso, elitista, imposta por aqueles que, desde sempre têm ocupado os patamares superiores de influência e de protagonismo mediático, que desta forma tudo fariam para garantir a sua sobrevivência e a estabilidade de posições, por via da manipulação do processo de decisões. Uma revolução no PSD implica uma mudança de protagonistas, uma nova estrutura, uma nova forma de funcionamento, um novo modelo de ligação entre eleitos e eleitores mais eficaz e verdadeiro, uma aposta numa nova participação dos militantes não apenas no processo formal de consulta interna por constituir a aplicação obrigatória de disposições estatutárias, mas inclusivamente noutros processos decisórios que em momentos particularmente importantes não podem estar reservados a dirigentes iluminados ou a nomenclaturas pouco interessadas em ir ao encontro dos tais patamares mais inferiores, onde se localizam as bases, no fundo, a essência dos partidos. Uma revolução que respeite apenas a ideologia, os princípios programáticos essenciais e ao símbolos. Não se revoluciona um partido, nem se altera a amplitude do seu grau de receptividade e de credibilidade junto da opinião pública, mudando símbolos, contratando agências de comunicação, valorizando o supérfluo em detrimento do essencial, alterando cores, ou pintando as caras dos dirigentes ou dos candidatos. Essa operação de cosmética, nunca propiciará os resultados esperados, porque facilmente desmistificável e olhada como uma mera tentativa de iludir (ou enganar) o eleitorado.
Mas o PSD enfrenta outra realidade, que eu reconheço incómoda, e que alguns não desejam abordar, não só pelas suas implicações mas, sobretudo, pela complexidade que a mesma comporta. Refiro-me ao facto de serem muitos os que hoje têm a convicção que o PSD dificilmente consegue dissociar este seu actual processo interno de disputa da liderança, dos projectos, naturais e legítimos – atendendo à tradição dos seus antecessores – de Cavaco Silva no que a uma reeleição pacífica em 2011 diz respeito. Neste contexto, e admitindo uma componente especulativa que apenas o próprio poderia negar ou confirmar, a tradição eleitoral portuguesa mostra que, desde que os candidatos presidenciais, civis e ligados a partidos políticos, passaram a concorrer a Belém, abandonando-se a ideia de que aquele palácio era reserva exclusiva de candidatos militares, nunca os portugueses atribuíram, à direita ou à esquerda, a tal maioria total – “uma maioria (parlamentar), um governo e um Presidente” – uma máxima lançada por Francisco Sá Carneiro em 1980, já em desespero, quando começou a verificar que o candidato apoiado pela então AD (por sinal um general, Soares Carneiro) não conseguia vencer o candidato, (outro general, Ramalho Eanes) apoiado pela esquerda, nomeadamente pelo PS. Sá Carneiro jogou nas presidenciais de 1980, tudo o que tinha e não tinha – aliás viria a morrer quando viajava de Lisboa para o Porto, em plena campanha eleitoral, para participar num comício nos Aliados – mas a Aliança Democrática não conseguiu concretizar os seus objectivos eleitorais. Deixando para o próximo texto a conclusão desta temática (inclusivamente recordando protagonista se indicadores estatísticos), limito-me a deixar uma questão para a reflexão: o que será mais importante para Cavaco Silva e para a sua estratégia de reeleição considerando a tradição eleitoral portuguesa? Um PSD dotado de uma liderança forte, quero lá saber se populista, e com possibilidades de ganhar as legislativas de 2009, ou um PSD liderado por uma pessoa séria, com fama de “dura”, admito que dotada de algum carisma mas sem possibilidade de destronar o PS e José Sócrates em 2009? Assim sendo, acham que uma corrida com as características da disputa pela liderança do PSD pode passar assim tão despercebida ou ser “ignorada” por Belém ou por sectores afectos ao Presidente e que naturalmente continuam no PSD ou a movimentar-se na periferia do PSD? Mais. Até que ponto uma derrota de Manuel Ferreira Leite poderá ser “colada” a Cavaco Silva ou até que ponto uma menos provável vitória de Santana Lopes poderá ser considerada uma “derrota” de Cavaco, tudo por causa da polémica entre ambos surgida antes de barroso ter ido para Bruxelas, mas quando já se discutiam potenciais candidatos presidenciais apoiados pelo PSD? Lembram-se da célebre eleição presidencial de Mário Soares, que se candidatou com menos de 6% do eleitorado, mas que foi por ”ali fora” até se sentar em Belém? Penso que essa eleição presidencial – verdadeiro “case study” - não foi até hoje devidamente analisada em todos os seus pormenores.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 16 de Maio de 2008)

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