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Opinião e coisas do nosso mundo...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Opinião: DE FORA…

Tal como se previa, confirmou-se ontem a decisão de Alberto João Jardim de se colocar hoje fora da corrida pela liderança do PSD, e, mais do que isso, de não saber ainda se marcará presença no Congresso Nacional a ter lugar em Guimarães. Numa declaração lida ontem no Funchal, em conferência de imprensa, João Jardim disse ter reflectido muito, durante estes dias acabando por concordar com a opinião dominante (dos seus companheiros de partido, na Madeira) “de eu não dever me envolver no estado em que o PSD está mergulhado. Antes, o que se entende necessário e prioritário, é fazer com que o Partido, ultrapassados este tempo e estas pessoas, assuma caminhos novos e se revigore através de outro projecto, que não estes, um projecto de reencontro com o sentir e vontade dos Portugueses. Há passos que só se dão pela certa, e muito menos se dão quando o terreno está armadilhado, desgraçadamente a partir de fora do Partido". O que é facto, é que fiquei com a clara sensação que Alberto João Jardim – que garantiu ao PSD da Madeira o seu não envolvimento com qualquer das candidaturas em confronto – pretendeu deixar portas abertas, particularmente por insistir na afirmação, já anteriormente feita, de que o primeiro trimestre de 2009 será decisivo, sobretudo se o PSD constatar que o líder eleito não tem condições políticas para derrotar o PS e José Sócrates nas legislativas que prevejo venham a realizar-se em Outubro: "Fiquem os meus adversários e detractores a saber que continuarei a lutar por Portugal, sempre na primeira linha do combate político e ideológico, sem medos do que ou quem quer que seja". Aliás, na fase de perguntas e respostas, e interrogado acerca de declarações proferidas nos Açores por Manuela Ferreira Leite (…”é preciso que os militantes e o resto dos portugueses voltem a olhar para o PSD como sendo capaz de enfrentar o primeiro-ministro, José Sócrates, nas eleições em 2009, objectivo só alcançável com a eleição de um líder forte que não pode deitar a toalha ao chão cada vez que é criticado"), João Jardim foi contundente: “Não deitarei a toalha ao chão sobretudo se a senhora (Manuela Ferreira Leite) for eleita líder do partido e eu verificar que não tem condições para derrotar o PS e José Sócrates".
Mas sobre este tema prefiro que sejam os meios de comunicação, que estiveram presentes na conferência de imprensa, a abordá-lo e a destacar o que eles consideram ter sido os aspectos ou as passagens (da declaração) mais importantes. Há muito que as pessoas perceberam o que eu penso de todo este processo. E fosse qual fosse a decisão tomada por Alberto João Jardim - esta que ontem revelou, a opção pensada e reflectida por uma posição de expectativa, estrategicamente pensada, fosse a decisão de avançar com a sua candidatura, independentemente de se tratar de um perigoso aventureirismo e de não se conhecerem os resultados que dela resultariam - eu estaria ao seu lado, apoiando-o. Salvo quanto a uma opção por ele tomada, na medida em que, com a mesma liberdade que reconheço a qualquer pessoa de escolher e decidir em função da sua consciência, ao contrário do que o Presidente do PSD da Madeira revelou – o seu apoio a Santana Lopes – recuso, em consciência e com convicção, dar o meu voto a uma pessoa, contra a qual nada de move em termos pessoais, como aliás facilmente se imagina, mas porque no plano político e partidário, além de não o considerar uma mais-valia para o PSD, não concebo que a revolução que eu entendo que o PSD precisa, urgentemente, nunca se fará com pessoas que protagonizam a continuidade, mais do mesmo, um passado desastroso do qual foi protagonista. Ou será que podemos esquecer, três escassos anos depois (!) que foi com Santana Lopes que o PSD obteve um dos seus piores resultados de sempre e, pior do que isso, que foi com Santana Lopes que os socialistas conseguiram o que nunca antes lograram alcançar, nem com o líder histórico e seu fundador, Mário Soares: uma maioria absoluta em nome da qual conseguiram, há que reconhecer, alguns aspectos positivos, mas em nome da qual, também cometeram também alguns abusos perfeitamente dispensáveis sobretudo quanto à forma como trataram com a Madeira.
Por natural falta de espaço, e para não ser muito incomodativo, particularmente para os que se derem ao trabalho de me lerem, limitar-me-ei, nesta parte final, a afirmar que continuo a pensar que Cavaco Silva, directa ou indirectamente, até pelo relacionamento que tem com Manuela Ferreira Leite, não pode deixar de ter sido ouvido previamente pela candidata quanto à decisão tomada. Confesso que não acredito que o Presidente das República, naturalmente que não nessa qualidade, mas enquanto amigo pessoal da sua conselheira de Estado (Ferreira Leite é membro do Conselho de Estado por escolha directa de Cavaco Silva), e independentemente do facto de tudo ter feito, durante a sua visita à Madeira – altura em que começaram estes problemas todos – para distanciar-se de tudo o que se passava no PSD, não tenha sido abordado, situação que me parece, pelo que referi anteriormente, perfeitamente natural. A questão que gostaria de colocar - mas que desenvolverei amanhã - tem a ver com o facto de saber o que é que mais interessa a Cavaco Silva na perspectiva da reeleição, se um PSD com capacidade de vencer as eleições legislativas, hipótese que em certa medida ameaçaria o seu natural desejo de reeleição em 2010, ou se um PSD enfraquecido e na oposição, hipótese que estaria mais próxima da opção dos portugueses que sempre recusaram a possibilidade – sonhada por Sá Carneiro – de uma maioria, um Governo e um Presidente, todos da mesma área política. Ou seja, importaria saber se a Cavaco Silva, para viabilizar a reeleição presidencial, o importante será ou não uma realidade política e parlamentar idêntica, ou próxima da actual, sendo quem, neste caso, a fragilidade dos social-democratas estaria directamente relacionada com a respectiva liderança. Parece complicado? Garanto que não .Como veremos….

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 15 de Maio de 2008)

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