Opinião: PETRÓLEO
Todos os dias os madeirenses são confrontados com notícias na comunicação social dando conta do aumento do preço do barril do petróleo (em média um barril tem 200 litros), acompanhadas da certeza de que muito da nossa vida, das famílias, das empresas e dos países em geral, dependem muito dessa instabilidade, aparentemente relacionada com a valorização do dólar e com alguma especulação no sector. Admito que poucos cidadãos, muito poucos mesmo, percebam do que se passa e do encadeamento que tudo isto tem nas decisões tomadas por instituições financeiras internacionais, incluindo o aumento das taxas de juro que acabam depois por afectar dramaticamente milhares de famílias portuguesas, a braços com o aumento significativo de encargos com o crédito à habitação. Basta ler os relatórios do Banco de Portugal para percebermos que a situação se agrava aceleradamente e que, a continuarmos por este caminho, não tarda muito que o nosso país mergulhe numa crise social de proporções inimagináveis. A passividade por parte de quem tem algum poder de decisão não pode continuar por muito mais tempo.
Sobre este tema, gostaria de realçar dois aspectos importantes, por considerar que elas podem ajudar os leitores a perceber melhor o que está em causa e o que pode acontecer ainda este ano se nada for feito.
Recentemente a OPEP admitiu que se não forem tomadas medidas globais, ao nível da economia mundial, nada impede que o preço do petróleo possa chegar aos 200 dólares no final do ano! Um responsável da OPEP admitiu que esse cenário, independentemente das consequências que daí possam resultar para os mercados e para a economia mundial, só pode ser travado por quem tem possibilidades de o fazer e não pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Esta questão não pode ser vista com tal leviandade, e não é preciso ser especialista em questões económicas para que qualquer cidadão mais atento, perceba que o preço do petróleo – que hoje se situa nos 120 a 122 dólares por barril, valores que já representam recordes absolutos – é fundamental para a economia mundial e condicionador de tudo, desde as previsões governamentais à situação das empresas e das famílias.
Há dias, numa entrevista a um jornal nacional do sector, um analista norte-americano da “WTRG Economics”, admitiu que, caso os preços do petróleo subam ainda mais e não houver um aumento da capacidade de produção, isso significa que “haverá uma recessão mundial se as cotações chegarem aos 200 dólares”: “É perfeitamente possível que aumentem os preços. No entanto, se houvesse três a quatro milhões de barris diários de capacidade extra de produção, a componente especulativa nos preços seria fortemente reduzida. Neste caso, as cotações poderiam cair para os 80 dólares ou menos”. Para XX, existem explicações próximas que explicam esta evolução acelerada do preço do petróleo no mercado mundial: “São essencialmente quatro. Em primeiro lugar, o dólar mais fraco explica um terço deste aumento. Em segundo lugar, a capacidade extra da oferta está actualmente abaixo dos dois milhões de barris por dia, o que significa que a indústria da produção de petróleo está a um ritmo de cerca de 97% de utilização. Esta menor capacidade deve-se ao investimento insuficiente na exploração. As petrolíferas internacionais não estão a investir a um ritmo que se coadune com os preços porque os países onde fazem a exploração continuam a canalizar uma enorme percentagem das receitas brutas para "royalties" mais elevadas, impostos mais altos, ou ambos. Em terceiro lugar, a falta de capacidade extra intensifica o potencial impacto de uma suspensão da produção (Nigéria, Iraque, Venezuela, Irão ou outro furacão devastador no Golfo do México). Por último, o risco associado a essa falta de capacidade e a inexistência de investimentos atractivos além do petróleo, aumentou o número de especuladores no mercado petrolífero. A maior procura "barris de papel" aumenta o preço no mercado, o que, por sua vez, tem impacto sobre o consumidor”.
Mas há outra questão que tem também influência na situação hoje existente: “Temos assistido também a um forte aumento da procura por parte de países menos desenvolvidos, especialmente da Ásia e de nações produtoras de crude. A Índia, a China e praticamente todos os membros da OPEP controlam o preço dos combustíveis, fixando-o abaixo do preço de mercado, o que provoca o aumento da taxa de crescimento do consumo. A eliminação desses subsídios contribuiria para abrandar a procura, o que quebraria os preços”.
Basicamente, e para terminar, parece-me evidente que o mundo continuará refém do petróleo, ainda por cima produzido em regiões marcadas por instabilidade social, política e militar (Médio Oriente, Africa), ou por países cujos sistemas políticos, na sua maioria, estão nas mãos de ditadores sanguinários e de sistemas que são dos mais corruptos do mundo (Angola, Nigéria, Venezuela, etc). E como se isso não bastasse, cruzam-se imensos e múltiplos interesses no Ocidente, determinados pela hipocrisia dos governos, pela ânsia do lucro de multinacionais mais interessadas em continuar a encher a pança e a negociar com base nas teias da corrupção que elas próprias alimentam, indiferentes ás consequências que daí possam advir para a economia mundial e para as populações mais pobres e carenciadas. A crise no petróleo mostra, ainda, uma vulnerabilidade inadmissível por parte do Ocidente, Europa incluída, que não conseguem responder à pressão, ou, a não ser assim, é cada vez mais possível que estamos perante um embuste que esconde motivações políticas, atitudes mafiosas de grupos económicos e algumas cumplicidade camufladas. Enquanto isso, os povos sofrem, particularmente os mais carenciados e pobres, os que sofrem as agruras da fome e da privação e que não conseguem despertar a atenção e o cuidado de quem tem essa obrigação política e moral.
Sobre este tema, gostaria de realçar dois aspectos importantes, por considerar que elas podem ajudar os leitores a perceber melhor o que está em causa e o que pode acontecer ainda este ano se nada for feito.
Recentemente a OPEP admitiu que se não forem tomadas medidas globais, ao nível da economia mundial, nada impede que o preço do petróleo possa chegar aos 200 dólares no final do ano! Um responsável da OPEP admitiu que esse cenário, independentemente das consequências que daí possam resultar para os mercados e para a economia mundial, só pode ser travado por quem tem possibilidades de o fazer e não pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Esta questão não pode ser vista com tal leviandade, e não é preciso ser especialista em questões económicas para que qualquer cidadão mais atento, perceba que o preço do petróleo – que hoje se situa nos 120 a 122 dólares por barril, valores que já representam recordes absolutos – é fundamental para a economia mundial e condicionador de tudo, desde as previsões governamentais à situação das empresas e das famílias.
Há dias, numa entrevista a um jornal nacional do sector, um analista norte-americano da “WTRG Economics”, admitiu que, caso os preços do petróleo subam ainda mais e não houver um aumento da capacidade de produção, isso significa que “haverá uma recessão mundial se as cotações chegarem aos 200 dólares”: “É perfeitamente possível que aumentem os preços. No entanto, se houvesse três a quatro milhões de barris diários de capacidade extra de produção, a componente especulativa nos preços seria fortemente reduzida. Neste caso, as cotações poderiam cair para os 80 dólares ou menos”. Para XX, existem explicações próximas que explicam esta evolução acelerada do preço do petróleo no mercado mundial: “São essencialmente quatro. Em primeiro lugar, o dólar mais fraco explica um terço deste aumento. Em segundo lugar, a capacidade extra da oferta está actualmente abaixo dos dois milhões de barris por dia, o que significa que a indústria da produção de petróleo está a um ritmo de cerca de 97% de utilização. Esta menor capacidade deve-se ao investimento insuficiente na exploração. As petrolíferas internacionais não estão a investir a um ritmo que se coadune com os preços porque os países onde fazem a exploração continuam a canalizar uma enorme percentagem das receitas brutas para "royalties" mais elevadas, impostos mais altos, ou ambos. Em terceiro lugar, a falta de capacidade extra intensifica o potencial impacto de uma suspensão da produção (Nigéria, Iraque, Venezuela, Irão ou outro furacão devastador no Golfo do México). Por último, o risco associado a essa falta de capacidade e a inexistência de investimentos atractivos além do petróleo, aumentou o número de especuladores no mercado petrolífero. A maior procura "barris de papel" aumenta o preço no mercado, o que, por sua vez, tem impacto sobre o consumidor”.
Mas há outra questão que tem também influência na situação hoje existente: “Temos assistido também a um forte aumento da procura por parte de países menos desenvolvidos, especialmente da Ásia e de nações produtoras de crude. A Índia, a China e praticamente todos os membros da OPEP controlam o preço dos combustíveis, fixando-o abaixo do preço de mercado, o que provoca o aumento da taxa de crescimento do consumo. A eliminação desses subsídios contribuiria para abrandar a procura, o que quebraria os preços”.
Basicamente, e para terminar, parece-me evidente que o mundo continuará refém do petróleo, ainda por cima produzido em regiões marcadas por instabilidade social, política e militar (Médio Oriente, Africa), ou por países cujos sistemas políticos, na sua maioria, estão nas mãos de ditadores sanguinários e de sistemas que são dos mais corruptos do mundo (Angola, Nigéria, Venezuela, etc). E como se isso não bastasse, cruzam-se imensos e múltiplos interesses no Ocidente, determinados pela hipocrisia dos governos, pela ânsia do lucro de multinacionais mais interessadas em continuar a encher a pança e a negociar com base nas teias da corrupção que elas próprias alimentam, indiferentes ás consequências que daí possam advir para a economia mundial e para as populações mais pobres e carenciadas. A crise no petróleo mostra, ainda, uma vulnerabilidade inadmissível por parte do Ocidente, Europa incluída, que não conseguem responder à pressão, ou, a não ser assim, é cada vez mais possível que estamos perante um embuste que esconde motivações políticas, atitudes mafiosas de grupos económicos e algumas cumplicidade camufladas. Enquanto isso, os povos sofrem, particularmente os mais carenciados e pobres, os que sofrem as agruras da fome e da privação e que não conseguem despertar a atenção e o cuidado de quem tem essa obrigação política e moral.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 09 de Maio de 2008)
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