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Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Opinião: DUAS NOTAS

I. Por uma questão de princípio – sobretudo porque qualquer decisão, neste caso em concreto, depende da aceitação do próprio, da conjugação de alguns factores logísticos e políticos e do estabelecimento de “timings” que o próprio entender definir, embora esse calendário possa, ou não, corresponder às exigências do momento e afastar, ou não, qualquer pessoa da possibilidade de sucesso – assumi comigo próprio o compromisso de que não abordaria até 15 de Maio, próxima reunião da Comissão Política regional do PSD da Madeira a questão do envolvimento de João Jardim na corrida para a liderança do PSD. Isto não significa, de modo nenhum, que tenha mudando a minha opinião ou que pense hoje de forma diferente do que pensava no primeiro dia em que este tema começou a ser falado. Pelo contrário, reforcei as minhas convicções, tal como sinto que tenho hoje a necessidade de ser, pragmaticamente, realista, pensando em função dos factos, de uma nova realidade partidária que hoje existe e que não acontecia há duas semanas atrás, de passos que foram dados pelos candidatos já conhecidos e que nada tinham feito há duas semanas, de protagonismos e mediatismos que foram sendo conseguidos hoje e que há duas semanas nem tinham começado a ser construídos, etc.
Entre a reafirmação de tudo o que disse, escrevi e pensei, sem retirar uma vírgula ou hesitar seja no que for, e a constatação de que temos que ser suficientemente inteligentes para recusar aventureirismos que politicamente podem constituir suicídios desgastantes, nalguns casos causadores de situações injustas e polémicas, o que eu continuo a pensar é que o PSD profundo, essa imensa massa humana que representa os militantes, estão claramente à margem de tudo o que se passa, desmotivados, atentos, admito-o, mas distantes de candidatos, de polémicas, de jogos de bastidores, de pressões de grupos de interesses que se digladiam em busca da “demarcação” do seu terreno de actuação e espaço de influência, situação que se alterará aos poucos porque o PSD não pode continuar no estado em que se encontra.
O PSD precisa de renovar-se, de encontrar um novo modelo de fazer política, tem que perceber que a ciência política evoluiu, que coloca desafios diferentes aos responsáveis, que os partidos têm hoje responsabilidades que no passado não tinham – não são, não podem ser meras “máquinas” estáticas, sistematicamente a funcionar da mesma forma durante anos, sem que tenham qualquer mérito específico, salvo se forem liderados por personalidades ganhadores e carismáticas – e que precisam de, em determinados momentos, ter a coragem de dar um passo em frente rumo a essa mudança, mesmo arriscando-se, no imediato, a não ganharem eleições. Mas ganham tempo para lançarem, com a antecedência devida, as sementes de um futuro diferente, ganhador e de exercício de responsabilidades de poder. O que se espera do PSD real perceba, particularmente das suas bases e dos sectores com responsabilidades e que ainda lá estão por questões de princípio e não movidos por interesses sectários de grupo, é que nada pode continuar na mesma, que a urgente renovação partidária não pode vaguear ao sabor dos interesse das pessoas, muito menos de interesses internos que reclamam para eles o direito a definir os conceitos dessa “renovação”, o modo como ela se deve fazer, com quem, etc.
II. Nem mesmo o facto de ter sido noticiado na semana passada que o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, fará esta semana uma declaração aos madeirenses, independentemente de concorrer ou não à liderança nacional do PSD, me fará alterar esta minha decisão pessoal de não abordar este tema, embora reconhecendo hoje que a minha expectativa não tem rigorosamente nada a ver com o que se passava há duas semanas. Talvez porque tenho presente que Sá Carneiro – a grande referência do PSD e tão abusivamente evocado por alguns, às vezes parecendo encontrar na sua imagem e na suja recordação os fundamentos para as decisões que tomam… - e que foi fundador do PSD, tendo abandonado temporariamente a liderança por razões políticas conjugadas com razões de saúde, também em determinado momento da história do partido, perdeu eleições internas, facto que não o impediu de ocupar o seu lugar na história do PSD e do país e que, depois, desse “desaire” conjuntural e momentâneo, tivesse regressado em força, com mais determinação ainda, ganhando eleições legislativas em 1979 e 1980, ascendendo ao cargo de primeiro-ministro e acabando por morrer tragicamente na queda de um pequeno avião, em circunstâncias que o sistema político e a democracia portuguesa até hoje não conseguem desvendar se foi acidente ou se, como ainda hoje se suspeita, existiram motivações criminosas relacionadas com a politica portuguesa em 1980, particularmente com orientações que o Ministro da Defesa (Adelino Amaro), que com ele viajava e faleceu, se preparava para desencadear logo depois das eleições presidenciais de Dezembro de 1980. A História é tantas vezes um ninho excelente de exemplos e uma preciosa ajuda à reflexão.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 12 de Maio de 2008)

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