PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Opinião: A DECLARAÇÃO E O ESTOIRO

I. Alberto João Jardim faz hoje a anunciada declaração aos madeirenses, na sede do PSD da Madeira, na qual abordará a sua posição relativamente à situação interna no PSD nacional e anunciará a sua decisão. Creio, até pelas declarações feitas depois de ter regressado de Londres, que João Jardim vai colocar-se à margem do processo, o que implica a constatação de que recebeu indicações que não davam como garantida a sua vitória, dado que ele próprio tinha revelado aos jornalistas que só seria candidato se tivesse a certeza que ganharia o partido. Pessoalmente, e considerando a conjugação de vários factores, sobre os quais não vou me pronunciar, até porque resultam de uma opinião pessoal que, por isso, vale o que vale, acho que faz bem, mais não seja, na perspectiva, ela própria pouco consistente dada a memória curta e os malabarismos que caracterizam o PSD nacional, de se reservar para 2009, altura em que o partido provavelmente quererá dar a grande safanão que precisa e que não pode ser feito pelos sectores elitistas, grandes responsáveis pelo actual estado de coisas e muito menos pelos protagonistas que há décadas, rotativamente, disputam entre si protagonismos, influencias, maiores ou menores capacidades de manipulação, e o poder.
Há claramente no partido uma tentativa de branqueamento de responsabilidades e de incompetentes, que regressam ao palco como se não tivessem sido eles os causadores do maior desastre eleitoral do PSD e como se não tivesse sido, com eles e por causa deles, que os socialistas obtiveram, o que nunca antes tinham conseguido, a maioria absoluta parlamentar que hoje usam a seu bel-prazer. Tal como referi antes, em determinados momentos, há sempre um momento próprio para se tomarem decisões, por muito arriscadas que elas sejam. Basta olhar o percurso de Francisco Sá Carneiro no PPD – e há dias recordei-o num outro espaço de opinião – e ter presente que ele acabou por impor-se e por ser o líder da antiga AD e chegar a primeiro-ministro, para ternos presente isso mesmo. Qualquer hesitação, qualquer necessidade de esperar, ou para ganhar tempo ou recolher mais informações, acaba por ser fatal, até porque o movimento, normal e natural, relativo aos processos internos nos partidos não para, rola normalmente, e a candidaturas envolvidas (e empenhadas) numa disputa pela liderança, rapidamente disputam entre si, protagonismo, capacidade de manobra e espaço de movimentação e/ou de manipulação. Acho que Alberto João Jardim, caso seja essa a sua decisão, como prevejo, ao afastar-se toma a única opção que neste momento se lhe colocava, provavelmente tendo agora a convicção e a consciência de que, aos poucos – embora desconheça os seus objectivos partidários a curto prazo (mesmo aceitando que eles estarão fortemente condicionados pelo desfecho do ciclo eleitoral de 2009) – precisa de estar mais presente num partido (nacional), cuja maioria da sua base militante provavelmente se divide por escalões etários que nada têm a ver com os primórdios do partido, e que, por isso, maior relutância demonstram em gerar empatias com personalidades do partido, sendo por isso menos susceptíveis de serem influenciadas à distância. Uma coisa eu tenho a certeza: em caso de novo desaire eleitoral do PSD, em 2009, que desejamos não ocorra, provavelmente ouviremos falar, com particular insistência, na sobrevivência do partido, porque nenhuma força partidária resiste a uma sucessão de “directas” e de congressos, para depois bater sistematicamente contra a parede, sem que as opções tomadas pelas elites ou pelo restrito universo militante, tenham qualquer correspondência com as opções, o sentir, as expectativas e a forma de pensar do eleitorado. Neste contexto, não tenho a certeza se o PSD está preparado para iniciar em 2009 mais 4 anos de travessia no deserto, ainda por cima fragilizado e ridicularizado por previsíveis acontecimentos internos, de ajuste de contas, associadas a algum conflito geracional e a uma confrontação mais ampla entre concepções e estratégias políticas, as quais inevitavelmente terão que afastar uma cambada que permanece no partido, apoderando-se dos seus processo de decisão e de eleição, prejudicando-o deliberadamente.

II. Fiquei ontem a saber, pelo Diário Económico, que os quatro maiores bancos privados lucraram menos 182,2 milhões de euros no primeiro trimestre (só o BCP caiu 92,3%!). Ora nem preciso de dizer os efeitos desta situação na política que passará a ser adoptada, concertadamente pela banca portuguesa, e que incidirá, mais uma vez, sobre os clientes, no fundo, sobre os mesmos que normalmente acabam por ser responsabilizados pela “normalização” dos lucros vergonhosos acumulados por uma banca portuguesa que se esquece frequentemente em que país exerce a sua actividade. O referido jornal recorda que os banqueiros já tinham alertado para uma crise financeira no sector e para o impacto que a mesma teria na economia. Os resultados dos quatros maiores bancos privados – BCP, BES, Santander Totta e BPI – caíram, globalmente, 32,6% para os 376,2 milhões de euros nos primeiros três meses de 2008, valor que representa uma perda de 182,2 milhões de euros face aos 558,4 milhões alcançados pelas instituições no primeiro trimestre do ano passado (o Santander Totta e o BES foram os menos penalizados, já que registaram uma subida nos resultados, de 7,5% e 4,4%, respectivamente). Os dois bancos que estiveram envolvidos numa encenação em torno de uma OPA falhada e de uma tentativa de fusão fracassada, a que se junto uma série de escândalos e uma crise de liderança (BCP), acabaram por ser os mais fortemente penalizados. Num país que frequentemente alguns querem confundir com o “paraíso” e onde ninguém teve a coragem de reconhecer que a crise que sacudiu a banca, o sector imobiliário e a economia mundial na generalizada, dificilmente deixaria de ter influência na madeira, estas notícias são deveras esclarecedoras e indiciam a inevitabilidade de um conjunto de medidas que garantam aos bancos alterar esta tendência quem, a manter-se, poderá criar uma crise, que não seria nova na Europa, que acabaria por questionar a sobrevivência de algumas destas instituições mais vulneráveis.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 14 de Maio de 2008)

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast