Artigo: FLEXI QUÊ?

Há dias dizia o Presidente da Comissão Europeia – preocupadíssimo como anda com a possibilidade de se realizar um referendo em Portugal sobre a versão, seja ela qual for, do Tratado Europeu que foi imposto pelos grandes na última Cimeira de Bruxelas, em grande medida à custa de chantagens, políticas ou financeiras sobre países como a Polónia e o Reino Unido que estavam claramente relutantes em aceitar essas propostas – que a Europa precisa de adoptar a flexisegurança para que se torne mais competitiva. De tanto falar em flexisegurança, o tema já enjoa. E dou comigo a pensar o que não seria, que festanças não teríamos por esse país fora, se não tivéssemos estes pouco menos de 500 mil desempregados, se ninguém soubesse qual a dimensão do sub-emprego e dos emprego precário, se o Governo não insistisse em afastar 75 mil funcionários públicos até final do seu mandato, em 2009, etc!...
A fobia é tal que a própria Comissão foi esta semana obrigada a vir desmentir que tivesse feito qualquer cálculo de custos da aplicação de políticas específicas de flexisegurança nos diferentes Estados-membros. A porta-voz do comissário europeu do Emprego sublinhou não ser possível fazer quaisquer cálculos de custos, uma vez que "cada Estado-membro é livre de fazer as combinações que quiser, de acordo com os seus sistemas de segurança social e tradições laborais". Isto porque notícias anteriores davam conta que Portugal seria encorajado pela União Europeia a flexibilizar “os contratos de trabalho de duração indeterminada de modo a permitir-lhes assegurar progressivamente níveis adequados de segurança dos trabalhadores e reduzir os elevados níveis de contratação a prazo. Ao mesmo tempo, o país deverá combater o abandono escolar precoce, melhorar os níveis gerais de ensino das escolhas e aumentar a formação da mão-de-obra, sobretudo da menos qualificada, em áreas como a informática e as línguas”.
Ou seja, mistura-se a formação e a obrigação de aumentar os níveis de qualificação da nossa população activa – e tenho que reconhecer que o governo socialista da República desencadeou um conjunto de medidas interessantes, úteis e que parecem estar a encontrar o retorno pretendido – outra coisa são modelos de relacionamento laboral, numa conjuntura onde, todos sabemos, a velha teoria do “emprego para toda a vida” foi definitivamente enterrada, e que faz depender a competitividade de propostas que ninguém consegue avaliar qual será o ser verdadeiro impacto social e económico.
O que é facto, e é isso que importa, é que por estes dias foi revelado que Portugal “gastaria 4,2 mil milhões de euros por ano, mais do que o custo estimado do aeroporto da Ota, para ter níveis de protecção dos trabalhadores semelhantes aos países nórdicos, segundo uma estimativa da Comissão Europeia. Os cálculos da Direcção-Geral do Emprego e Assuntos Sociais da Comissão Europeia revelam que aos 1,3% da riqueza nacional já gastos entre 1997 e 2004 com medidas passivas de emprego (subsídios), Portugal teria que juntar outros 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) para atingir os níveis de protecção da Dinamarca, Suécia e Holanda, os países que mais gastam com estas políticas”.
Eu não tenho ilusões quanto ao que o futuro nos reserva. Nem sequer tenho ilusões quanto à incapacidade que o movimento sindical continuará a revelar, sobretudo aquele onde a dependência de partidos é mais acentuada, relativamente aos novos desafios, ao avanço das teorias favoráveis à mobilidade, à flexisegurança a novas formas de relacionamento laboral entre empregador e trabalhador, etc. E nem falo sequer na questão, associada a esta, dos direitos sociais...
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 29 de Junho 2007
<< Página inicial