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Opinião e coisas do nosso mundo...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Opinião: REFLEXÃO (II)

Dando continuidade à divulgação de alguns dos 25 principais destaques do Relatório de Desenvolvimento Humano 2006, recentemente publicado pelas Nações Unidas, e que apostou na denúncia para determinadas situações, que todos conhecemos, mas que persistem em continuar sem solução devido à incúria e à incompetência de povos, países e instituições, lembro mais alguns alertas deixados pela ONU:

· “As alterações climáticas representam hoje o que podemos considerar uma ameaça sem paralelo ao desenvolvimento humano. Elas poderão elevar entre 15% a 26% o total de subnutridos no mundo, aumentando entre 75 milhões a 125 milhões o número absoluto de pessoas subnutridas até 2080. O risco de pobreza sistémica vai afectar um número de pessoas bem mais elevado, até por que as quebras na produção agrícola vão gerar efeitos múltiplos que vão repercutir em economias inteiras, alastrando a pobreza das zonas rurais para as áreas urbanas;
· No século XX, a acção do homem aumentou em cerca de 30% a presença de gases do efeito estufa na atmosfera — principalmente dióxido de carbono, metano e ozono — em comparação à era pré-industrial. O impacto já se está a tornar evidente. A temperatura da Terra elevou-se em 0,7º C ao longo do século passado, mas a velocidade da mudança está aumentando. Os dez anos mais quentes ocorreram de 1994 para cá. A década de 90 foi a mais quente desde o século XIV;
· Os países ricos precisam de fazer mais para “descarbonizar” suas economias. Ao mesmo tempo, o aprofundamento do impacto ambiental nos países em desenvolvimento não pode ser ignorado. É por isso que qualquer sucessor do Protocolo de Quioto terá de abranger não apenas todo o mundo desenvolvido, mas também os principais países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia;
· A gestão dos recursos hídricos partilhados pode constituir um pretexto para a paz ou para a guerra, mas cabe aos políticos decidirem qual a direcção seguir. As bacias hidrográficas internacionais — represas ou reservas, incluindo lagos e lençóis de água subterrânea pouco profundos, partilhados por mais de um país — cobrem quase metade da superfície da Terra. Ao todo, 145 países situam-se em bacias hidrográficas partilhadas, englobando mais de 90% da população mundial”.

Basta ter presente que falamos de um mundo no qual em cada minuto que passa morrem à fome 12 crianças. Isso mesmo é confirmado no documento da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), sobre o “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, segundo o qual morrem de fome, anualmente, pelo menos 5 milhões de crianças no mundo, um óbito em cada 5 segundos. Mas a realidade de um mundo que continuamos a pensar que é “paradisíaco” não se fica por aí: “mais de 20 milhões de crianças nascem com o peso abaixo dos padrões mínimos, correndo maior risco de morte durante a infância e as que sobrevivem, revelam incapacidade física e mental permanentes”. A FAO lembrou um seu anterior relatório, denunciando que perto de 850 milhões de pessoas passavam fome no final de 2002, quase 20 milhões a mais do que os valores registados no final de 1992: “Além do sofrimento humano, que é um escândalo, a fome tem como consequência, também, importantes perdas económicas”. Talvez por isso um alto responsável pela FAO tenha afirmado recentemente ser “incompreensível a escassez de esforços da comunidade internacional”, quando, dizem os especialistas, por cada dólar investido na luta contra a fome pode-se registar uma multiplicação por cinco e até por mais vezes em matéria de benefícios. Combater a fome, segundo a FAO, custa de 30 mil milhões de dólares anuais, pouco mais de 1/5 do valor prometido em anteriores cimeiras internacionais, a última das quais realizada em Roma há dois anos, e que nem chega, por exemplo, a 10% do orçamento militar anual dos EUA, que é de 450 mil milhões de dólares. A FAO insiste, por isso, na necessidade da comunidade internacional olhar de uma outra forma para esta realidade, de apostar fortemente no desenvolvimento da agricultura capaz de gerar o crescimento rural.
A FAO alerta sobretudo para a situação da África sub-saariana, onde o número de pessoas subalimentadas passou para mais de 210 milhões de pessoas. Na África central (Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, República democrática do Congo e Gabão) existiam mais de 50 milhões de pessoas subalimentadas, 56% da população. Na África sub-saariana, a SIDA, as guerras e as catástrofes naturais impedem qualquer sucesso das medidas tomadas para lutar contra a fome. A Ásia e o Pacífico, bem como a América Latina e as Caraíbas são as únicas zonas que registaram uma redução do número absoluto: a FAO “coloca nomeadamente a tónica sobre o círculo vicioso da fome e a pobreza, afirmando que a fome não é só uma consequência da pobreza mas igualmente um das suas causas, porque "prejudica gravemente a saúde e a produtividade d as pessoas e obstrui os esforços que realizam para escapar" ao seu destino”.

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 03 de Janeiro de 2008)

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