Opinião: HOTELARIA…

Há dias li na imprensa nacional que o mercado nacional poderá sofrer de excesso de oferta hoteleira e imobiliária a partir de 2010, sendo esta uma “das preocupações levantadas por alguns investidores e analistas do sector que alertam para uma eventual quebra de preços, caso esta previsão se concretize”. O alerta consta de um estudo de uma empresa da especialidade, segundo a qual “analisando o mercado hoteleiro nacional nos últimos anos, podemos concluir que quando a procura é grande, a política sucessiva de baixar os preços entra numa espiral negativa". Por me parecer que na Madeira já há uma espécie de “guerra surda”, entre hoteleiros locais, os novos e os mais antigos, que disputam entre si mercados e níveis de ocupação susceptíveis de rentabilizar os negócios, julgo que esta questão não poderá ser marginal ao turismo madeirense. Não podemos ter a mania que não corremos o risco de nos confrontarmos, a prazo, com uma situação semelhante, só porque em determinados meses do ano mantemos uma ocupação hoteleira que ultrapassa valores que noutras regiões turísticas nacionais dificilmente são alcançados.
Recordo alguns indicadores oficiais, divulgados pelo INE, e reportados a Outubro passado: no mês de Outubro de 2007, os estabelecimentos hoteleiros registaram 3,5 milhões de dormidas, representando um crescimento homólogo de 5,8%, para o qual contribuíram tanto os residentes (7,3%), como os não residentes (5,2%). No período de Janeiro a Outubro de 2007, os estabelecimentos hoteleiros licenciados acolheram 11,6 milhões de hóspedes, a que corresponderam 35,3 milhões de dormidas. Comparativamente com o período homólogo, estes resultados traduzem-se em variações positivas de 7,4% e 5,4%, respectivamente. Em Outubro de 2007, a hotelaria registou 1,2 milhões de hóspedes e 3,5 milhões de dormidas, apresentando igualmente uma evolução positiva, com acréscimos de 9,2% e 5,8%, respectivamente, face ao mesmo mês do ano anterior. No que respeita à desagregação regional para o total de dormidas, observam-se variações homólogas positivas no Centro (18,6%), no Norte (10,6%), no Algarve (6,6%), na Madeira (2,8%), no Alentejo (2,3%) e em Lisboa (1,1%). Pelo contrário, a Região Autónoma dos Açores apresentou uma redução de 4,4% no número de dormidas.
Em Outubro de 2007, a hotelaria registou 173,6 milhões de euros de proveitos totais e 115,5 milhões de euros de proveitos de aposento, equivalendo a variações homólogas positivas de 10,1% e 14%, respectivamente, face a 2006. Neste mês, o rendimento médio por quarto foi de 31,6 euros, o que corresponde a um crescimento de 11,6%, em comparação com o período homólogo de 2006. No 3º trimestre de 2007, registaram-se 9,2 milhões de entradas de visitantes não residentes, ou seja, mais 12,0% face a idêntico período de 2006, sendo a Espanha o principal mercado emissor. Também as saídas de visitantes residentes, que ascenderam a quase 6,8 milhões, aumentaram 13,4% em termos homólogos, mantendo-se a Espanha como o principal destino dos visitantes residentes. Já no final de Novembro ficamos a saber que a TAP transportou mais 530 mil passageiros na Europa entre Janeiro e Novembro de 2007, o que se traduziu num crescimento de 27,7% nas rotas europeias da companhia, quando comparado com igual período do ano passado. Estes dados de tráfego revelam também que, nos valores acumulados de 2007, a TAP já ultrapassou a barreira dos sete milhões de passageiros transportados, o que passa a constituir um novo recorde anual absoluto, quando ainda falta contabilizar o mês de Dezembro.
Analisando a evolução dos principais mercados emissores nos três primeiros trimestres de 2007, verifica-se que o mercado inglês manteve a sua posição de liderança, representando cerca de 30% das dormidas de não residentes. O contributo deste mercado traduziu-se por um movimento de 1,3 milhões de hóspedes a que corresponderam cerca de 7 milhões de dormidas, apresentando, face ao período homólogo do ano anterior, variações positivas de 6,8% e 6,4%, respectivamente. Os destinos de maior procura por parte dos britânicos foram o Algarve, que concentrou 71,4% do total das dormidas deste mercado e a Região Autónoma da Madeira (17,6%). No Algarve os ingleses alojaram-se principalmente nos hotéis (35,7%), nos apartamentos turísticos (28,2%) e nos hotéis-apartamentos (23,4%). Na Madeira, a grande maioria preferiu os hotéis (49%) e os hotéis-apartamentos (41,1%). A estada média dos ingleses foi de 5,5 noites, tendo-se observado valores mais elevados na Madeira (6,5 noites) e no Algarve (6,2).
Por hábito nosso, os erros estão sempre na casa do lado. Nunca na nossa. Ora ninguém com um mínimo de inteligência ousará afirmar que o turismo na Madeira é um sector imaculado ou que os hoteleiros não olham com preocupação e algum stress para a problemática da taxa de ocupação e sobretudo para um fenómeno novo que embora ainda algo escondido, aos poucos tem vindo a caracterizar os negócios nalgumas áreas da hotelaria nacional, inclusivé em regiões turísticas pretensamente de qualidade superior: o crescimento do “time sharing” e o dumping, regra geral uma porta aberta para a concorrência que nalgumas épocas do ano chega a ser desenfreada entre operadores e hoteleiros.
Os analistas do sector, citados pelo estudo da “Cushman & Wakefield Hotels”, dizem os jornais onde li esta informação, “recordam o crescimento de oferta registado nas décadas de 80 e 90, nomeadamente nalguns segmentos e regiões que não especificam, situação que pode voltar a acontecer. No entanto, a mesma análise explica que o excesso, por exemplo, de hotéis de cinco estrelas na cidade, não quererá dizer excesso de hotéis boutique de cinco estrelas, ou unidades com um conceito diferente”. Os especialistas sugerem aos investidores que “procedam a uma análise criteriosa do mercado, com o propósito de investir em hotéis com procura” e deixam um dado novo que não me parece tenha sido considerado até hoje pelas diferentes regiões de turismo: “As novas unidades projectadas também poderão ser encaradas como forma de se substituir hotéis já ultrapassados, face às novas exigências da procura turística”. Finalmente mais um dado que me parece interessante por que retrata um dos aspectos mais importantes da hotelaria: no período de Janeiro a Outubro de 2007, os proveitos totais atingiram 1 702,6 milhões de euros e os de aposento 1 155,1 milhões de euros, representando acréscimos homólogos de 10,4% e 12%, respectivamente. Neste período, o rendimento médio por quarto foi de 32,6 euros, equivalendo a uma variação homóloga igualmente positiva de 9,4%.

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 02 de Janeiro de 2008)