Opinião: ACORDOS?
Passado um período em que PS e PSD pareciam mais interessados em construir pontes viabilizadoras de pactos de regime a pataco, por tudo e por nada – Filipe Meneses quando substituiu Marques Mendes, também vinha com esse discurso consensualista, embora tenha refreado essas ânsias… – do que em sublinhar as diferenças existentes, naturalmente, entre os dois partidos, parece que agora andam socialistas e social-democratas de candeias às avessas, tudo por causa do recuo laranja em relação ao acordo em matéria de justiça que chegou a ser assinado, e do acordo sobre legislação eleitoral autárquica que chegou a ser negociado. No primeiro caso, o PSD quer outro mapa judiciário para o país, substancialmente diferente do que foi proposto pelo governo socialista. No segundo caso, depois de ter negociado com o PS, os social-democratas de Meneses, pressionado pelos autarcas, exige alterações, na medida em que quer agora devolver às Juntas de Freguesia os poderes e a representatividade que presentemente têm, enquanto membros das Assembleias Municipais. Pessoalmente, e digo-o sinceramente, estou-me borrifando para estes acordos, porque acho que a pouco mais de um ano de eleições legislativas, os portugueses querem saber o que é que diferencia os partidos e não o que os une (?), regra geral por causa de pressões de interesses manipuladores de alguns grupos corporativistas que não querem perder poder e influência.
Acho um absurdo que o PSD – salvo se este partido de Meneses, em que me parecem ser cada vez menos os que nele acreditam, não quer ganhar as legislativas de 2009 - se ponha agora a negociar seja o que for. Se o governo socialista diz que não altera o mapa judiciário, se os socialistas dizem que não recuam na legislação autárquica (embora neste caso pareça existir ainda uma réstia para algum entendimento, - então esqueçam os pactos de regime e preparem mas é a estratégia política para 2009, porque é disso que precisamos, é isso que se exige ao PSD, a progressiva construção de uma imagem consistente de competência, de coerência, de seriedade, porque sem esses atributos ninguém lhe atribui crédito, n em olha para os social-democratas como a alternativa que dizem ser e querer (?) ser. Portanto, acho que não vale a pena dramatizar o assunto: se houver acordo, há que cumpri-lo, caso não seja possível um entendimento, partamos para outra.
Mas, e este é o reverso da medalha, o PSD não pode dar, seja em que circunstâncias for, a ideia de ser um partido instável, de avanços e recuos, que tanto dá dois passos em frente, como depois, pressionado pelos seus múltiplos interesses corporativistas internos, dá o dito por não dito e recua dois ou passos atrás. Numa expressão, o PSD não pode dar uma imagem – ou deixar que a construam na comunicação social – de que é um partido pouco sério, que não cumpre acordos, que tem uma liderança que vagueia ao sabor de pressões ou de interesses próprios de quem tudo faz para manter-se no poder, porque poder significa sobrevivência, e porque sobrevivência significa o usufruto de mordomias ou outras vantagens inerentes.
Uma segunda questão (e não vou falar no crescente número de figuras social-democratas que acham que o partido precisa urgentemente, ainda em 2008, caso não haja uma grande mudança interna, de procedimentos, de discurso e de estratégia, de medidas preventivas extremas) que me irritou profundamente – porque, em certa medida, pode ser reveladora (oxalá me engane) do carácter de quem se encontra hoje na liderança do maior partido da oposição – tem a ver com a rápida tentativa, ainda por cima de forma contraditória (o seu secretário-geral tinha dito, nesse mesmo dia, que o partido assumiria a penalização), de Meneses em demarcar-se da multa que foi imposta ao PSD pelo Tribunal Constitucional, por alegado financiamento ilegal por parte de uma empresa de construção (estamos a falar de procedimentos no cumprimento da lei vigente), pretendendo com isso dizer que o “seu” partido terá outro procedimento e que não correrá tais riscos. Ainda bem, oxalá que assim seja, porque todos estes casos em torno do financiamento dos partidos, funcionam sempre como implacáveis ”pregos no caixão” dos partidos cuja credibilidade entre os portugueses está muito por baixo. Mas para além disso, Meneses tem que perceber que não há reinados nos partidos, que existe uma continuidade que apenas conhece, esporadicamente, protagonistas, uns mais competentes que outros (alguns não passam de páraquedistas caídos em tachos, não se sabe bem de onde, como, para quê e porquê, para os quais não estão minimamente preparados). Se em 2009 o PSD perder as eleições legislativas e Meneses for rapidamente posto a andar, ninguém vai andar a falar dele daqui a uns anos. Foi apenas mais um erro que, por não ter dado nada de útil ao partido e ao país, cairá rapidamente no implacável esquecimento da História, regra geral caracterizada por uma tremenda memória curta…
Acho um absurdo que o PSD – salvo se este partido de Meneses, em que me parecem ser cada vez menos os que nele acreditam, não quer ganhar as legislativas de 2009 - se ponha agora a negociar seja o que for. Se o governo socialista diz que não altera o mapa judiciário, se os socialistas dizem que não recuam na legislação autárquica (embora neste caso pareça existir ainda uma réstia para algum entendimento, - então esqueçam os pactos de regime e preparem mas é a estratégia política para 2009, porque é disso que precisamos, é isso que se exige ao PSD, a progressiva construção de uma imagem consistente de competência, de coerência, de seriedade, porque sem esses atributos ninguém lhe atribui crédito, n em olha para os social-democratas como a alternativa que dizem ser e querer (?) ser. Portanto, acho que não vale a pena dramatizar o assunto: se houver acordo, há que cumpri-lo, caso não seja possível um entendimento, partamos para outra.
Mas, e este é o reverso da medalha, o PSD não pode dar, seja em que circunstâncias for, a ideia de ser um partido instável, de avanços e recuos, que tanto dá dois passos em frente, como depois, pressionado pelos seus múltiplos interesses corporativistas internos, dá o dito por não dito e recua dois ou passos atrás. Numa expressão, o PSD não pode dar uma imagem – ou deixar que a construam na comunicação social – de que é um partido pouco sério, que não cumpre acordos, que tem uma liderança que vagueia ao sabor de pressões ou de interesses próprios de quem tudo faz para manter-se no poder, porque poder significa sobrevivência, e porque sobrevivência significa o usufruto de mordomias ou outras vantagens inerentes.
Uma segunda questão (e não vou falar no crescente número de figuras social-democratas que acham que o partido precisa urgentemente, ainda em 2008, caso não haja uma grande mudança interna, de procedimentos, de discurso e de estratégia, de medidas preventivas extremas) que me irritou profundamente – porque, em certa medida, pode ser reveladora (oxalá me engane) do carácter de quem se encontra hoje na liderança do maior partido da oposição – tem a ver com a rápida tentativa, ainda por cima de forma contraditória (o seu secretário-geral tinha dito, nesse mesmo dia, que o partido assumiria a penalização), de Meneses em demarcar-se da multa que foi imposta ao PSD pelo Tribunal Constitucional, por alegado financiamento ilegal por parte de uma empresa de construção (estamos a falar de procedimentos no cumprimento da lei vigente), pretendendo com isso dizer que o “seu” partido terá outro procedimento e que não correrá tais riscos. Ainda bem, oxalá que assim seja, porque todos estes casos em torno do financiamento dos partidos, funcionam sempre como implacáveis ”pregos no caixão” dos partidos cuja credibilidade entre os portugueses está muito por baixo. Mas para além disso, Meneses tem que perceber que não há reinados nos partidos, que existe uma continuidade que apenas conhece, esporadicamente, protagonistas, uns mais competentes que outros (alguns não passam de páraquedistas caídos em tachos, não se sabe bem de onde, como, para quê e porquê, para os quais não estão minimamente preparados). Se em 2009 o PSD perder as eleições legislativas e Meneses for rapidamente posto a andar, ninguém vai andar a falar dele daqui a uns anos. Foi apenas mais um erro que, por não ter dado nada de útil ao partido e ao país, cairá rapidamente no implacável esquecimento da História, regra geral caracterizada por uma tremenda memória curta…
Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 26 de Fevereiro de 2008)
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