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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Opinião: REFORMAS…

Li num jornal nacional na semana passada, que “os portugueses estão mais preocupados com as suas pensões de reformas do que em 2006, o que pode ser uma consequência das alterações no regime de Segurança Social que entraram em vigor no ano passado”. Esta parece ser, segundo o jornal, uma das conclusões de um inquérito feito por uma empresa de estudos de mercado para uma gestora de fundos de pensões Fidelity Internacional. A segunda "vaga" do estudo, apresentado em Lisboa, indica que “mais de um terço dos inquiridos – 36% - já começou a preparar financeiramente a sua reforma, 11% mais do que no inquérito anterior, realizado há pouco mais de um ano. Os valores registados em Portugal são idênticos aos da França, mas a Suécia, onde 81% da população se preocupa mais a sério com complementos de pensão, lidera o grupo”. Estes resultados estão na linha dos constantes de num outro estudo, anterior, divulgado no início deste ano.
De facto, a seguradora AXA realizou um estudo sobre as reformas em 2008 que concluiu que elas não cobrem as despesas dos beneficiários. O estudo, divulgado em Janeiro deste ano, fala na existência de um "défice de 109 euros entre a pensão e os gastos dos reformados portugueses, na medida em que o valor médio da pensão dos reformados portugueses em 2007, situou-se no montante de 646 euros mensais, valor insuficiente para cobrir as despesas que se situaram nos 755 euros, gerando um défice de 109 euros".
Segundo o estudo que tenho feito alusão, Portugal é o país europeu com o mais baixo valor da pensão de reforma, logo depois da República Checa (331 euros) e da Hungria (300 euros), embora a diferença necessária para cobrir a despesa mensal seja inferior no nosso país do que a de países como a Bélgica (271 euros) ou a França (362 euros). Estas conclusões do “Barómetro Reforma 2008” daquela seguradora, realizado pelo quarto ano consecutivo, “com o objectivo de analisar e comparar as atitudes e comportamentos de activos e reformados face à reforma”, comparam os resultados de Portugal com os de países como a Austrália, Bélgica, Canadá, China, República Checa, França, Alemanha, Hungria, Itália, Japão, Marrocos, Espanha, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos da América, Polónia e Eslováquia, entre outros. Diz a seguradora que o inquérito realizado em Portugal “envolveu 608 pessoas, das quais 309 no activo, com mais de 25 anos, e 299 reformados ou em situação de reforma antecipada, com menos de 75 anos”. Curiosamente constata-se que, “quatro em cada dez portugueses começou a preparar a reforma”, apesar do estudo concluir que no caso do nosso país “apenas 40% dos activos iniciou o processo de preparação da sua reforma, uma percentagem que, entre os checos, os primeiros da lista, é de 79%”. Os indicadores do nosso país estão abaixo da média da Europa Ocidental (55%) e do próprio estudo (54%), mas não somos os piores pois em Espanha e em Itália a percentagem de activos que antecipadamente preparou a sua reforma varia entre os 30 e os 38%. Outro dado interessante, segundo o estudo desta seguradora, é que a média de idade dos portugueses que antecipadamente iniciaram a preparação da sua reforma, logo aos 34 anos, “é das mais altas, apenas ultrapassados pelos húngaros (38 anos), pelos checos (36) e dos chineses (35), mostrando os espanhóis, franceses e os suíços indicadores iguais aos dos portugueses”.
Estes dados apenas desmistificam a ideia de que o governo socialista de Lisboa anda a fazer tudo o que pode, quer pelos reformados, quer em matéria de incentivo da poupança e do recurso a soluções que o mercado coloca á disposição das pessoas para garantirem antecipadamente uma reforma sem problemas. Obviamente que é sabido que as famílias não têm possibilidade de poupança, que os níveis de endividamento têm aumentado – e voltaram a aumentar mais de 10% em2007 – pelo que nada resta para ser investido noutras opções, por exemplo nestas. Mas, por favor, se assim é, e julgo que ninguém de bom senso e sério negará esta evidência, então deixem de andar a vender a ideia, outra propaganda, de que os reformados estão hoje melhor do que no passado. Não estão, e ponto final. O estudo da seguradora AXA, que venho citando, revela, por exemplo, que 60 por cento dos portugueses activos que reconhecem que ainda não se preocuparam com isso, que só vão encetar diligências para a preparação da sua reforma aos 45 anos. E só 16% dos activos conhecem o valor da sua reforma futura, o que explica que Portugal seja o segundo país onde os activos menos conhecem esse montante da sua futura reforma. E diz o estudo que, “mesmo entre os que estão mais próximos da reforma (mais de 55 anos), menos de 3 em cada 10 activos conhece o valor da sua reforma futura” (os mais informados são os alemães, 54%, os norte-americanos e os suíços, ambos com 44%. Refira-se, finalmente, que mais do que uma “visão negativa da Segurança Social”, ao portugueses reconhecem o seu pessimismo quanto à reformulação do sistema, embora “mais de metade dos activos (55%) espera uma reformulação do sistema de reformas nos próximos dez anos, traduzida no aumento do número de anos de trabalho e na redução do valor da pensão de reforma”.

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 25 de Fevereiro de 2008)

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