Opinião: DESILUSÕES
Há dias ficamos a saber – e eu acho que esta questão é preocupante e que não deve ser olhada com a leviandade com que alguns não-políticos sugerem – que existem na Madeira quase 500 licenciados desempregados, inscritos no Centro de Emprego, oriundos de licenciaturas que provavelmente ou não encontrarão resposta adequada no mercado de trabalho, ou aguardam por ma mudança de mentalidades na estrutura empresarial regional de uma maneira geral (que olhe a contratação de licenciados não como um ónus “desnecessário” mas antes como uma potencial mais-valia para as empresas e os seus objectivos e valorização), ou simplesmente porque as opções livremente tomadas por cada um dos licenciados desempregados, não teve em consideração factores que podiam determinar eventuais novas opções.
E acho muito bom que tenha sido o “JM” a revelar o facto porque as realidades são para ser noticiada se assumida, sem complexos, sem esconder a verdade, porque só assim há uma consciencialização colectiva de que é preciso fazer alguma coisa. Foi o “JM” que revelou que o número de licenciados no desemprego na Madeira atingiu, no final do mês de Janeiro deste ano, 577 casos, “sendo os formados nos cursos de economia e gestão, engenharias e serviço social e educação social os mais castigados”. Citando dados estatísticos do Instituto Regional de Emprego, o JM revela que no curso de economia e gestão havia, no início deste ano, 81 licenciados desempregados, seguido das engenharias (65), do Serviço Social e Educação Social (43) e da biologia e bioquímica (36). Pouco me importa saber se estes números mostram que a percentagem de licenciados desempregados na Região é inferior à registada ao nível nacional. Há um problema humano e económico que tem vindo a crescer, e que precisa de ser resolvido. Tudo o resto, nomeadamente comparações, são questões acessórias que dispensamos.
Contudo, é sabido, o problema não é regional, bem pelo contrário, de nada valendo por isso, nem as falsidades de alguns movidos por razões políticas ou partidárias, nem a tentativa de intoxicação da opinião pública, por via da manipulação, com que alguns políticos tentam circunscrever este problema complicado, como se de apenas uma realidade meramente regional. É certo que cada região tem que procurar resolver os meios e os recursos seu alcance, os seus próprios problemas, mas há uma contextualização que é preciso fazer e há, por assim dizer, uma realidade nacional – não apenas regional – que provavelmente exige respostas articuladas a uma escala global, ou seja, a uma escala nacional.
Ainda recentemente foi noticiado na imprensa nacional: “Pelo menos 43 mil licenciados desempenhavam em 2007 trabalhos de baixa qualificação ou não qualificados, como limpezas ou construção civil, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Sem emprego nas suas áreas, dizem-se "dispostos a tudo" para sobreviver. De acordo com números estimados pelo INE com base no Inquérito ao Emprego, no ano passado 7.200 pessoas com formação académica superior estavam empregadas em trabalhos não qualificados. Vendedores por telefone ou ao domicílio, pessoal de limpeza, lavadeiras e engomadores de roupa, empregadas domésticas ou estafetas são alguns dos exemplos constantes da lista de trabalhos não qualificados, segundo a classificação nacional de profissões. A estes, somam-se mais de 35.800 licenciados em trabalhos de baixa qualificação, que o INE integra em categorias como "operadores de máquinas e trabalhadores de montagem", "operários, artífices e trabalhadores similares" ou "pessoal dos serviços e vendedores". Seguranças, metalúrgicos, mecânicos, motoristas ou empregados de loja são algumas das profissões. No total são pelo menos 43 mil os diplomados nestas situações, mais cinco mil do que em 2006. No entanto, o verdadeiro número de pessoas com excesso de formação para o trabalho que desempenham pode ser muito superior, uma vez que aquele conjunto não abrange os 46 mil licenciados que integram o "pessoal administrativo e similares", uma categoria que inclui empregados de recepção, telefonistas ou cobradores de portagem, por exemplo, além de funções mais qualificadas como escriturários ou gestores de conta bancária”.
Julgo que não precisamos de perder muito mais tempo com comentários adicionais, que valem o que valem, e que não resolvem o essencial do problema, assim como alguns políticos e partidos, que procuram retirar dividendos políticos à custa da desgraça alheia –da qual são co-responsáveis – deveriam sentir vergonha desse tipo de comportamento descarado e perfeitamente hipócrita e absurdo. Dirão alguns deles que na Madeira, sendo o PSD o partido responsável pela governação, a existência de desemprego qualificado é da responsabilidade política de que governa, e não da oposição. Mas quando essa oposição é poder, por exemplo, nos Açores ou no Continente, e também não consegue resolver nada, pelo contrário, cruza os braços perante o crescimento do desemprego qualificado entre licenciados, ela perde a moral de querer apontar o dedo para a frente tentando esconder o rabo debaixo da capa.
E acho muito bom que tenha sido o “JM” a revelar o facto porque as realidades são para ser noticiada se assumida, sem complexos, sem esconder a verdade, porque só assim há uma consciencialização colectiva de que é preciso fazer alguma coisa. Foi o “JM” que revelou que o número de licenciados no desemprego na Madeira atingiu, no final do mês de Janeiro deste ano, 577 casos, “sendo os formados nos cursos de economia e gestão, engenharias e serviço social e educação social os mais castigados”. Citando dados estatísticos do Instituto Regional de Emprego, o JM revela que no curso de economia e gestão havia, no início deste ano, 81 licenciados desempregados, seguido das engenharias (65), do Serviço Social e Educação Social (43) e da biologia e bioquímica (36). Pouco me importa saber se estes números mostram que a percentagem de licenciados desempregados na Região é inferior à registada ao nível nacional. Há um problema humano e económico que tem vindo a crescer, e que precisa de ser resolvido. Tudo o resto, nomeadamente comparações, são questões acessórias que dispensamos.
Contudo, é sabido, o problema não é regional, bem pelo contrário, de nada valendo por isso, nem as falsidades de alguns movidos por razões políticas ou partidárias, nem a tentativa de intoxicação da opinião pública, por via da manipulação, com que alguns políticos tentam circunscrever este problema complicado, como se de apenas uma realidade meramente regional. É certo que cada região tem que procurar resolver os meios e os recursos seu alcance, os seus próprios problemas, mas há uma contextualização que é preciso fazer e há, por assim dizer, uma realidade nacional – não apenas regional – que provavelmente exige respostas articuladas a uma escala global, ou seja, a uma escala nacional.
Ainda recentemente foi noticiado na imprensa nacional: “Pelo menos 43 mil licenciados desempenhavam em 2007 trabalhos de baixa qualificação ou não qualificados, como limpezas ou construção civil, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Sem emprego nas suas áreas, dizem-se "dispostos a tudo" para sobreviver. De acordo com números estimados pelo INE com base no Inquérito ao Emprego, no ano passado 7.200 pessoas com formação académica superior estavam empregadas em trabalhos não qualificados. Vendedores por telefone ou ao domicílio, pessoal de limpeza, lavadeiras e engomadores de roupa, empregadas domésticas ou estafetas são alguns dos exemplos constantes da lista de trabalhos não qualificados, segundo a classificação nacional de profissões. A estes, somam-se mais de 35.800 licenciados em trabalhos de baixa qualificação, que o INE integra em categorias como "operadores de máquinas e trabalhadores de montagem", "operários, artífices e trabalhadores similares" ou "pessoal dos serviços e vendedores". Seguranças, metalúrgicos, mecânicos, motoristas ou empregados de loja são algumas das profissões. No total são pelo menos 43 mil os diplomados nestas situações, mais cinco mil do que em 2006. No entanto, o verdadeiro número de pessoas com excesso de formação para o trabalho que desempenham pode ser muito superior, uma vez que aquele conjunto não abrange os 46 mil licenciados que integram o "pessoal administrativo e similares", uma categoria que inclui empregados de recepção, telefonistas ou cobradores de portagem, por exemplo, além de funções mais qualificadas como escriturários ou gestores de conta bancária”.
Julgo que não precisamos de perder muito mais tempo com comentários adicionais, que valem o que valem, e que não resolvem o essencial do problema, assim como alguns políticos e partidos, que procuram retirar dividendos políticos à custa da desgraça alheia –da qual são co-responsáveis – deveriam sentir vergonha desse tipo de comportamento descarado e perfeitamente hipócrita e absurdo. Dirão alguns deles que na Madeira, sendo o PSD o partido responsável pela governação, a existência de desemprego qualificado é da responsabilidade política de que governa, e não da oposição. Mas quando essa oposição é poder, por exemplo, nos Açores ou no Continente, e também não consegue resolver nada, pelo contrário, cruza os braços perante o crescimento do desemprego qualificado entre licenciados, ela perde a moral de querer apontar o dedo para a frente tentando esconder o rabo debaixo da capa.
Luís Filipe Malheiro (in"Jornal da Madeira", 25 de Março de 2008)
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