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Opinião e coisas do nosso mundo...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Opinião: QUE BAGUNÇA!

Só me faltava esta!
Depois da estranha bagunça causada pelas reacções às alterações introduzidas em vários regulamentos internos do partido - e que geraram um mal-estar antecipado por todos os anteriores secretários-gerais do PSD, expressa numa carta (excepto o actual Chefe da Casa Civil de Cavaco, Nunes Liberato, que por razões óbvias não assinou…) – bem como a polémica quanto às mudanças no esquema de pagamento das quotas, por muitos contestado (pelos vistos sem razão como hoje confirma o constitucionalista-mor, Jorge Miranda), fiquei ontem quase KO quando li a notícia de que o PSD até se prepara para mudar de cor (do laranja para o azul) e de símbolo (das três tradicionais setas, duas vão pelo esgoto abaixo, ficando apenas uma). Já antes disso pessoa amiga me tinha telefonado a perguntar-me se ia também ia mudar de cor. Como não tinha lido nada fiquei baralhado. Depois percebi do que se trata. Cada vez mais estou convencido que agi da forma mais correcta – embora o tivesse efeito por convicção – quando recusei votar nas “directas” do PSD nacional, porque não estava disposto a ser cúmplice de qualquer solução que viesse a ser encontrada, na medida em que ambas se revelavam fracas, sem garantias de ganharem 2009 e sem possibilidade de serem instrumentos mobilizadores de um partido desmotivado, desencantado e desiludido. No fundo era de credibilidade junto das pessoas que precisávamos e continuamos a precisar.
Estou certo que haverá reacções, de pessoas que até acham que o partido deve mudar de tudo, que deve passar a ter nova imagem, novas cores, novo logótipo, novo programa, novo discurso, novo posicionamento ideológico, etc. E, portanto, como é chique tudo isso, aqui o “escriba” é que será o mentecapto que não percebe patavina disto, que não entende a evolução das coisas, que não entende o fenómeno político, que não sabe associar o colorido aos votos - já agora porque não foram para o cor de rosa choque?! Mas serão certamente essas pessoas, as primeiras, traiçoeiramente, perante um eventual desaire, a apontarem o dedo acusador, com a irresponsabilidade acrescida de não o terem feito quando o deveriam ter feito, quando ainda havia tempo para emendar. Isto faz-me lembrar há uns anos – não vou entrar em pormenores – numas eleições autárquicas, quando os resultados começaram a surgir e não eram favoráveis, o coitado do candidato passou a ser o culpado de tudo e, pior do que isso, toda a gente tinha dito que ela não deveria ter sido candidato. Ninguém abriu os queixos, pura e simplesmente. Só quando as coisas correram mal é que falaram, porque era muito fácil disparar mais uns quantos tiros de bazuca sobre um indivíduo que já estava “cadáver”.
Será que alguém acredita que o PSD alguma vez se pode desligar da sua cor tradicional, que persiste desde Sá Carneiro, a cor que une quase automaticamente o partido aos seus militantes, simpatizantes e eleitores, bem como se deixa de rever nas três – pela simbologia que elas transportam desde a fundação e que constam inclusivamente de programas e de outros documentos internos – só porque uma direcção a prazo entende que essa é a prioridade ou julga que ganha eleições aceitando o que os fazedores de imagem ou supostos marketeiros políticos recomendam - regra geral pessoas mais habilitadas a tentar vender uma pedra de calhau como se fosse uma barra de ouro? Fica-me a esperança de que tudo isto será passageiro e que estamos apenas perante tontices de elitismos sem categoria que não conseguem contaminar negativamente a fidelidade basista e eleitoral com que o PSD sempre conta nos momentos decisivos.
Por muito que se diga, e com absoluta razão, que o objectivo político do PSD é, tem que ser, o de combater o PS, porque as eleições de 2009 se aproximam e os portugueses precisam de saber, finalmente, se existe ou não uma alternativa política, credível, competente e consistente, começo a temer pelo que possa suceder aos social-democratas nesse ciclo eleitoral. E pode Meneses tentar associar, oportunisticamente, uma eventual perda da maioria absoluta pelo PS, reflectida em diversas sondagens, ao seu trabalho político, porque isso é uma grosseira mentira. Meneses, tal como outros partidos da esquerda, têm andado a reboque do impacto negativo que certos acontecimentos sociais têm gerado, na governação e, por via desta, no PS. Não há, oxalá pudesse dizer o contrário, um mérito do PSD e de outros partidos da oposição. Há, quanto muito, um demérito do PS e do governo socialista, pelos seus erros, pela conflitualidade, pela dureza de exigências impostas aos portugueses, pela teimosia, pelo autismo, pelo autoritarismo, pela persistência em decisões contestadas e que exigem um repensar, uma renegociação uma reflexão mais aprofundada, mas que são mantidas deliberadamente.
E não pensem que digo isto satisfeito, pelo contrário, digo-o com a amargura com uma enorme frustração, mas com a esperança de que se possa ir a tempo ainda de fazer alguma coisa, quando for caso disso. A minha frustração resulta do facto de ser do PSD na Madeira, desde os primórdios, dos tempos em que a sede deste partido era na Rua da Carreira, frente á “Lua”. Tempos em que muitos dos notáveis que hoje gravitam por aí, ou por lá nem sequer andavam, ou andavam por outras bandas. Isso não me dá o direito a nada nem a superioridade de quer ser mais que outros. Mas dá-me a legitimidade de recusar quer moralismos qualquer a treta dos ”históricos” porque a esses eu conheço-os a todos. Serei, por isso, um reles fundamentalista, intratável quanto baste, no que ao apego, à coerência e à fidelidade ao laranja e às três setas diz respeito. E lamentar que o artigo de Alberto João Jardim, esta semana publicado no “Jornal da Madeira”, dirigido claramente para o PSD, desafiando vários sectores, não tenha tido uma maior projecção nacional., Assim como fiquei com pena de não ter ouvido, na íntegra a entrevista do Presidente do Governo Regional à Lusa. Apenas uma ou outra frase isolada.


Luís Filipe Malheiro (publicado no "Jornal da Madeira" de 13 de Março de 2008)

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