Notas
I. O pior que nos pode acontecer é falarmos de véspera, de alguma cosia que vai acontecer, sem saber se vamos ou não bater contra a parede, embora seja esse o risco que naturalmente corremos quando antecipadamente, como é o caso, escrevemos esta coluna. Terminou mais um Congresso do PSD da Madeira, porventura o mais curto, em tempo de debate, da sua história e um dos menos mediáticos dos últimos anos. Mas um Congresso importante, porque a partir de agora, o PSD da Madeira tem renovadas linhas de actuação política, definiu novas prioridades, em grande medida devido às regionais de Maio de 2007, e percebeu que precisa de mobilizar-se e de dar a tenção ao ciclo eleitoral que se avizinha, desde logo 2009. Eu acho que já tive oportunidade de referir que não acredito em cenários paradisíacos que por aí andam a querer “vender”, sempre e quando se fala no futuro do partido, pelo simples facto de conhecer a realidade de que falo, de não ser hipócrita e de pugnar pelo pragmatismo calculista que, pelo menos até hoje, nunca me atraiçoou.
Não sei, portanto, se este Congresso do PSD da Madeira, como alguns previam (ou desejavam?) gerou brigas, se as elites andaram todas à batatada no palco, se se verificaram ajustes de contas pessoais, se os grupos mais ou menos organizados se envolveram num combate tipo “wrestling”, etc. Foi tanta a polémica em torno da decisão de não permitir o acesso da comunicação social `s fase das intervenções dos delegados e debate interno, que cheguei a desconfiar que havia qualquer ”coisa” no ar, uma espécie de encenação montada para que alguns, depois, a transformassem num facto relevante, num acontecimento tão importante como a chegada do homem à lua. E não era para menos. Presidentes de Juntas amuados com atrasos de obras e expropriações, Presidentes de Câmara chateados não se percebia bem porquê, Secretários Regionais passados dos “carretos” por causa dessas pressões todas, entrevistas mais ou menos picantes, promessas de puxões de orelhas para a direita ou de pontapés no traseiro para a esquerda, telefonemas tão patéticos que nem, vale a pena falar neles, mensageiros (as) que se prestam a atitudes reveladoras da falta de carácter de quem deveria ter outra estatuto, dignidade e comportamento para o exercício de certas responsabilidades políticas públicas, enfim, existiam os ingredientes, faltava o tacho, para meter tudo lá dentro, e um qualquer um “Óbelix” a mexer aquilo tudo aquilo à pázada. Ora como estou a escrever estas linhas de véspera o máximo a que me arrisco é ter havido sangue e feridos e eu garantir-vos, como neste momento faço, que tudo decorreu dentro da normalidade de um congresso partidário que, longe de ser um ringue de batataria, também não é nem um velório mas decididamente não tem que ser, não deve ser, nem um palco para vaidades ou para o desfile de oportunismos e oportunistas fora de moda. Aliás vou-vos fazer hoje uma confidência, que ajuda a perceber o meu enquadramento neste processo, a de que tinha solicitado, a quem de direito e em devido tempo, a dispensa de pertença de qualquer órgão partidário, o que não significaria abandonar a actividade partidária, com base numa militância coerente que não nasceu hoje, nem precisou de hipotecar a dignidade pessoal ou de vergar a espinha dorsal ao serviço de gentinha sem nível ou de estratégias e ambições pessoais que, posso garantir, a seu tempo serão denunciadas ao pormenor, desmontadas e combatidas de forma exemplar. E podem ter a certeza disso. Aliás, vem mesmo a propósito de oportunistas e paraquedismo, enquanto escrevo estas linhas, em casa, curiosamente tenho à minha frente a medalha, o emblema e o diploma que há quatro anos foram distribuídos pelo PSD nacional aos militantes com 30 anos de filiação. Decididamente não sou, nem “cristão-novo”, nem pára-quedista. Significa isto que a minha presença num órgão partidário resultou apenas do facto de ter sido o Presidente do partido a entender – dirão alguns que mal, mas a opção foi dele – que seria útil a minha continuidade, facto que explica a minha aceitação e ajuda a desmistificar, de uma vez por todas, as encenações que por aí andaram quando foi anunciada a extinção do cargo de secretário-geral adjunto, proposta que eu próprio formalizei, suposto prelúdio para um saneamento não consumado. E falo assim porque tenho, graças a Deus, a noção do que se passa, conheço bem os meandros, conheço todos os esquemas, sei como tudo “isto” gira, sei os contornos essenciais. Podem crer.
II. Furtando-me a qualquer consideração que ultrapasse o que sobre este tema já tive oportunidade de referir, acho estranho que o PS local, ou melhor dizendo, algumas figuras dos socialistas locais, continuem a falar de Jaime Gama, das declarações proferidas, da necessidade dele ser chamado ao quadro, numa pressão que parece ter como objectivo, penso eu, ou um puxão de orelhas de Sócrates ou a própria reacção mais ou menos irritada de Gama a tudo isto. Parece-me que no PS local, quer queiram ou não, que não consegue gerar factos políticos credíveis fora da banalização, reside a dúvida sobre a origem, objectivos e os contornos de tudo o que se passou, numa clara demonstração de como podem existir vários “partidos” num mesmo partido. Eu já disse que o PSD da Madeira não ganha ou perde eleições pelo que dizem ou deixam de dizer sobre a Madeira e João Jardim, Jaime Gama ou outras personalidades, sejam elas de que partido forem, Já disse também que em política temos que saber ter presente a conjuntura que em muitos momentos é determinante para acontecimentos que acontecessem aparentemente sem explicação plausível. Eu recuso aceitar o improviso na política. Porque acho que tudo acontece de uma forma pensada e calculada. Finalmente parece-me que uma coisa é o Jaime Gama deputado há 17 ou 18 anos atrás, outra coisa é o mesmo Jaime Gama, deputado, também Presidente da Assembleia da República e antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, 17 ou 18 anos depois. Acaso JC Gouveia seria nessa altura militante do PS? Recuso fazer mais comentários mas não resisto a deixar-vos a opinião de Raul Vaz, publicada num recente editorial do “Jornal de Negócios”, independentemente de concordarmos ou não com os seus pontos de vista: “Jaime Gama lélé da cuca? Pelo contrário: o “peixe de águas profundas” emergiu lúcido na análise e fino na acção. O fervoroso elogio a Alberto João Jardim – que outrora comparou ao facínora Bokassa – tem o peso e a medida de quem o produz. Gama está a seguir o fio do horizonte e age concertado com o protagonista da película em cartaz, o seu actor. Não poderia ser Sócrates a amansar Jardim; nem Silva Pereira ou outra voz com o eco do chefe. Jaime Gama era (é) o caldo ideal para o efeito: o episódio Bokassa, a condição de ilheú, a pele de segunda figura do Estado. E sabem por que é que Bokassa, ou melhor, Jardim, é “um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo” e autor de uma “obra ímpar”? Porque Jardim está de partida e procura aconchego – e é nestas circunstâncias que quem sabe dar sabe receber; porque a renovação da maioria absoluta poderá ficar presa por décimas – e quem sabe dependente do humor de um senhor das ilhas. É neste contexto que o “humor negro” de Jaime Gama deve ser entendido como uma forma de fazer política. Sem preconceitos ou estados de humor. Com a frieza de quem escolhe os meios para segurar o poder”.
Realmente há uns indivíduos que deviam fazer tudo menos andar na política. Porque não a entendem, porventura nas suas componentes mais aliciantes, por muito estranhas que pareçam e até sejam. Eu sei que é complicado, pois é. Mas política é isto!
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 07 de Abril de 2008)
Não sei, portanto, se este Congresso do PSD da Madeira, como alguns previam (ou desejavam?) gerou brigas, se as elites andaram todas à batatada no palco, se se verificaram ajustes de contas pessoais, se os grupos mais ou menos organizados se envolveram num combate tipo “wrestling”, etc. Foi tanta a polémica em torno da decisão de não permitir o acesso da comunicação social `s fase das intervenções dos delegados e debate interno, que cheguei a desconfiar que havia qualquer ”coisa” no ar, uma espécie de encenação montada para que alguns, depois, a transformassem num facto relevante, num acontecimento tão importante como a chegada do homem à lua. E não era para menos. Presidentes de Juntas amuados com atrasos de obras e expropriações, Presidentes de Câmara chateados não se percebia bem porquê, Secretários Regionais passados dos “carretos” por causa dessas pressões todas, entrevistas mais ou menos picantes, promessas de puxões de orelhas para a direita ou de pontapés no traseiro para a esquerda, telefonemas tão patéticos que nem, vale a pena falar neles, mensageiros (as) que se prestam a atitudes reveladoras da falta de carácter de quem deveria ter outra estatuto, dignidade e comportamento para o exercício de certas responsabilidades políticas públicas, enfim, existiam os ingredientes, faltava o tacho, para meter tudo lá dentro, e um qualquer um “Óbelix” a mexer aquilo tudo aquilo à pázada. Ora como estou a escrever estas linhas de véspera o máximo a que me arrisco é ter havido sangue e feridos e eu garantir-vos, como neste momento faço, que tudo decorreu dentro da normalidade de um congresso partidário que, longe de ser um ringue de batataria, também não é nem um velório mas decididamente não tem que ser, não deve ser, nem um palco para vaidades ou para o desfile de oportunismos e oportunistas fora de moda. Aliás vou-vos fazer hoje uma confidência, que ajuda a perceber o meu enquadramento neste processo, a de que tinha solicitado, a quem de direito e em devido tempo, a dispensa de pertença de qualquer órgão partidário, o que não significaria abandonar a actividade partidária, com base numa militância coerente que não nasceu hoje, nem precisou de hipotecar a dignidade pessoal ou de vergar a espinha dorsal ao serviço de gentinha sem nível ou de estratégias e ambições pessoais que, posso garantir, a seu tempo serão denunciadas ao pormenor, desmontadas e combatidas de forma exemplar. E podem ter a certeza disso. Aliás, vem mesmo a propósito de oportunistas e paraquedismo, enquanto escrevo estas linhas, em casa, curiosamente tenho à minha frente a medalha, o emblema e o diploma que há quatro anos foram distribuídos pelo PSD nacional aos militantes com 30 anos de filiação. Decididamente não sou, nem “cristão-novo”, nem pára-quedista. Significa isto que a minha presença num órgão partidário resultou apenas do facto de ter sido o Presidente do partido a entender – dirão alguns que mal, mas a opção foi dele – que seria útil a minha continuidade, facto que explica a minha aceitação e ajuda a desmistificar, de uma vez por todas, as encenações que por aí andaram quando foi anunciada a extinção do cargo de secretário-geral adjunto, proposta que eu próprio formalizei, suposto prelúdio para um saneamento não consumado. E falo assim porque tenho, graças a Deus, a noção do que se passa, conheço bem os meandros, conheço todos os esquemas, sei como tudo “isto” gira, sei os contornos essenciais. Podem crer.
II. Furtando-me a qualquer consideração que ultrapasse o que sobre este tema já tive oportunidade de referir, acho estranho que o PS local, ou melhor dizendo, algumas figuras dos socialistas locais, continuem a falar de Jaime Gama, das declarações proferidas, da necessidade dele ser chamado ao quadro, numa pressão que parece ter como objectivo, penso eu, ou um puxão de orelhas de Sócrates ou a própria reacção mais ou menos irritada de Gama a tudo isto. Parece-me que no PS local, quer queiram ou não, que não consegue gerar factos políticos credíveis fora da banalização, reside a dúvida sobre a origem, objectivos e os contornos de tudo o que se passou, numa clara demonstração de como podem existir vários “partidos” num mesmo partido. Eu já disse que o PSD da Madeira não ganha ou perde eleições pelo que dizem ou deixam de dizer sobre a Madeira e João Jardim, Jaime Gama ou outras personalidades, sejam elas de que partido forem, Já disse também que em política temos que saber ter presente a conjuntura que em muitos momentos é determinante para acontecimentos que acontecessem aparentemente sem explicação plausível. Eu recuso aceitar o improviso na política. Porque acho que tudo acontece de uma forma pensada e calculada. Finalmente parece-me que uma coisa é o Jaime Gama deputado há 17 ou 18 anos atrás, outra coisa é o mesmo Jaime Gama, deputado, também Presidente da Assembleia da República e antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, 17 ou 18 anos depois. Acaso JC Gouveia seria nessa altura militante do PS? Recuso fazer mais comentários mas não resisto a deixar-vos a opinião de Raul Vaz, publicada num recente editorial do “Jornal de Negócios”, independentemente de concordarmos ou não com os seus pontos de vista: “Jaime Gama lélé da cuca? Pelo contrário: o “peixe de águas profundas” emergiu lúcido na análise e fino na acção. O fervoroso elogio a Alberto João Jardim – que outrora comparou ao facínora Bokassa – tem o peso e a medida de quem o produz. Gama está a seguir o fio do horizonte e age concertado com o protagonista da película em cartaz, o seu actor. Não poderia ser Sócrates a amansar Jardim; nem Silva Pereira ou outra voz com o eco do chefe. Jaime Gama era (é) o caldo ideal para o efeito: o episódio Bokassa, a condição de ilheú, a pele de segunda figura do Estado. E sabem por que é que Bokassa, ou melhor, Jardim, é “um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo” e autor de uma “obra ímpar”? Porque Jardim está de partida e procura aconchego – e é nestas circunstâncias que quem sabe dar sabe receber; porque a renovação da maioria absoluta poderá ficar presa por décimas – e quem sabe dependente do humor de um senhor das ilhas. É neste contexto que o “humor negro” de Jaime Gama deve ser entendido como uma forma de fazer política. Sem preconceitos ou estados de humor. Com a frieza de quem escolhe os meios para segurar o poder”.
Realmente há uns indivíduos que deviam fazer tudo menos andar na política. Porque não a entendem, porventura nas suas componentes mais aliciantes, por muito estranhas que pareçam e até sejam. Eu sei que é complicado, pois é. Mas política é isto!
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 07 de Abril de 2008)
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