PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

terça-feira, 29 de abril de 2008

Opinião: AINDA VAI A TEMPO?

Encarei com fortíssimo entusiasmo e justificada expectativa o cenário da candidatura de Alberto João Jardim à liderança do PSD, mesmo que fosse inquestionável – e o líder madeirense do PSD sabia-o e sabe-o melhor do que ninguém – que teria que enfrentar, seja em que circunstâncias for, uma pequeno pelotão de comentadores que só descansam quando o ridicularizarem, uma comunicação social hostil – por razões que eu penso terem mais a ver com um ajuste de contas em resposta aos ataques que Jardim lhe tem dirigido, do que por qualquer outro motivo político – e algumas resistência no seio do próprio partido, em termos de nomenclatura elitista, o que explica declarações desmotivantes que em determinados momentos aparecem de alguns desses figurões que se julgam conhecidos e ouvidos pelos portugueses mas que valem exactamente na exacta proporção do protagonismo que os média e particularmente a televisão lhes propicia. Esta realidade é incontornável. O que não julgo é que ela seja suficiente para travar seja quem for, muito menos na política – onde é preciso que exista a diferença e o confronto, em vez de alimentarmos o mito absurdo de consensos que envolvendo perfis pessoais ambiciosos que, por causa disso, estão sujeitos a tudo para concretizarem as suas ambições – soa sempre a falsidade porque, desde logo, quem vota na eleição dos seus líderes são as bases dos partidos e não fazedores de opinião, jornalistas ou uma casta elitista partidária, regra geral sem nada de útil para ser mostrado, mas que vagueiam numa espécie de limbo reservado aos iluminados, como eles próprios se auto-definem.
Não quero – quem sou eu para me atrever a isso – dar qualquer tipo de conselho ou definir estratégias ainda por cima quando Alberto João Jardim tem que ser conhecedor da realidade do partido a nível nacional, e que obviamente assenta em pressupostos que nada têm a ver com o PSD da Madeira, tal como foi ele a estar no Conselho Nacional do partido, a ser desafiado a candidatar-se, a recusar inicialmente tal cenário, para depois admiti-lo se reunidos determinados pressupostos, embora com pouca convicção, contactado freneticamente nos dias que antecederam esta reunião, por tudo o que era “gente”, mas também a ser confrontado com decisões que não esperaria mas que o condicionaram fortemente. Alguém de bom senso acredita que o Presidente do PSD da Madeira – que normalmente nunca participa no Conselho Nacional do seu partido, do qual faz parte por inerência do cargo partidário que desempenha na Madeira, e onde é regra geral representado por Correia de Jesus – desta vez entendeu ir a Lisboa, para discursar, apresentar as suas ideias e propostas para o partido, quanto ao que devem ser as prioridades para os próximos tempos, na expectativa delas serem depois usadas por qualquer outro candidato? Alguém acredita que Jardim foi a Lisboa, cancelou a reunião da Comissão Política Regional – a primeira depois do Congresso Regional – só para dizer num salão de hotel que não seria candidato e que apoiaria Santana Lopes se esse decidisse fazê-lo? Se fosse para isso era necessário ir a Lisboa? O que o impedia de fazê-lo no Funchal, por exemplo em declarações a jornalistas?
Neste quadro, há apenas uma questão essencial em tudo isto e que depende exclusivamente do próprio: ou aceita ou não aceita o desafio da candidatura. Não pode é fingir que vai e depois recuar, porque há toda uma estrutura dirigente distrital, concelhia ou local que tem um determinado “timing” para tomar decisões ou definir apoios (até porque não podemos ser hipócritas e “esquecer” que precisamos associar tudo isto, estes jogos de bastidores, ao ciclo eleitoral de 2009, à elaboração de listas de candidatos, etc.). Eu admito que Alberto João Jardim tenha optado por uma estratégia calculista, não aventureirista, sobretudo depois de ter percebido as movimentações de bastidores que viu acontecerem – ou que aconteceriam depois do Conselho Nacional. É natural e legítimo. Mas não acredito que seja Jardim, ou qualquer outro candidato, a impor tempos de decisão seja a quem for, muito menos a um partido com todas as especificidade se complexidades que naturalmente os caracterizam. Já nem sequer falo nas exigências e dificuldades relacionadas com a montagem de uma logística inerente a uma candidatura à liderança nacional de um partido, ainda por cima quando ela depende de “directas”, processo que eu continuo a afirmar – e mantenho – que não está isento de manipulações e de distorções, já que apenas alarga o universo dos militantes que podem participar na eleição do seu líder (deixando de ser apenas os delegados eleitos a um Congresso a fazê-lo). Acho, mas esse é o meu ponto de vista, que João Jardim tem que decidir rapidamente – se é que neste momento se mantêm as condições políticas internas que existiam há uma semana atrás – e formalizar uma candidatura para combate, para poder falar às bases, para ganhar ou para perder, já que não resultarão as suas pressões para que os demais candidatos desistam a seu favor, nem acredito que isso faça sequer sentido, atendendo aos protagonistas envolvidos. Não vejo também João Jardim envolver-se num projecto utópico de uma candidatura federadora, porque isso cheirava a falso e não tinha qualquer consistência futura como acabaríamos todos por constatar.
Mesmo perdendo as “directas” – embora qualquer candidato tenha sempre a possibilidade de desistir antes, caso entenda não existirem condições para um processo livre de manipulações ou condicionalismos e de pressões externas sobre os militantes – Jardim teria toda a legitimidade para depois, em 2009 (e 2009 é já no próximo ano), ressurgir então como uma candidatura natural, viabilizadora da mudança, uma mudança impraticável se tiver como protagonistas as mesmas figuras do passado, que falharam, de foram derrotadas e que certamente não motivam nem mobilizam as bases, nem lhes inspiram grande confiança. Porque não se iludam: o líder do PSD que for eleito agora, vai confrontar-se, imediatamente, com a incontornável e perigosa pressão, a da obrigatoriedade de ganhar eleições no próximo ano.
Neste contexto, e com base no que acabo de referir, considero que o tempo se esgota e que, indesmentivelmente, a próxima quarta-feira é o tempo limite para uma decisão. Não há mais tempo. Recordando apenas que uma coisa são os apoios das figuras do partido, por mais respeitáveis que elas sejam, outra coisa são os sentimentos existentes entre as bases, o tal PSD profundo que precisa de ser contactado directamente, para ser mobilizado de novo, ouvir a mensagem e as propostas dos candidatos, tomar uma decisão e voltar a sonhar. O que o PSD necessita, é da possibilidade de voltar a sonhar, de ter convicção e de acreditar que nada deixou de ser possível. Mas para que isso aconteça, falta-lhe um líder carismático, que seja um entre eles, que todos entendam e respeitem, não um figurão qualquer, oportunista e ambicioso, que vagueia, qual coruja desnorteada, sobre tudo e todos, à procura de protagonismo e de glórias vãs, rumo a uma nova derrota que pode ser fatal para o PSD. E é nisso que as pessoas precisam de pensar. Ou que alguém as faça pensar.

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 29 de Abril de 2008)

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast