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segunda-feira, 14 de abril de 2008

Opinião: CAVACO SILVA

O Presidente da República inicia hoje uma visita oficial de quase uma semana à Madeira, num reencontro com a realidade autonómica madeirense que, exceptuando os princípios constitucionais e alguns estatutários mais elementares, é necessariamente diferente daquela que ocorre nos Açores, pese o facto de estarmos a falar de duas regiões insulares e autónomas portuguesas. Não tenhamos, nem a veleidade, nem a ilusão de julgar que, por se tratarem de regiões unidas pela sua insularidade e ultraperiferia, e por ambas dependerem fortemente da solidariedade do Estado, mas sobretudo dos apoios comunitários – os quais foram essenciais para o desenvolvimento registado na Madeira – que a realidade económica, política, social, orçamental e financeira de uma tem que corresponder necessariamente à existente na outra. Significa isto, e melhor do que eu Cavaco Silva sabe que vai encontrar na Madeira uma autonomia diferente da açoriana que recentemente visitou, que o Presidente conhece bem a realidade madeirense nas suas múltiplas vertentes, pelo que não será surpreendido, nem pela oratória inflamada ou calculista do poder, nem pela dialéctica sistematicamente repetitiva, há 30 anos que é repetitiva, da oposição local que, provavelmente também por isso, nunca logrou qualquer sucesso eleitoral.
Cavaco Silva visita uma região que continua a ter problemas, ninguém os nega, e que precisa de dar uma redobrada atenção à problemática social, aliás temática que o Presidente tem vindo a privilegiar. Mas visita também uma região que mudou muito, que ele próprio quando a visitou nos idos anos de oitenta, então como ministro das Finanças de Sá Carneiro, facilmente constatará por comparação. Não estará, pode ter a certeza disso, no paraíso, mas pode acreditar que andará muito longe da imagem “infernal”W que a oposição dela traça. O Presidente não deve, por isso, espantar-se que possa ouvir hoje o mesmo discurso que ouvia nos anos oitenta, com pequenas “nuances” sem expressão, porque mantém no essencial a ideia de que 30 anos depois, nada foi feito pela Madeira, numa miopia que os leva, no caso do PS, a apresentar, por mero oportunismo político saloio, um voto de congratulação pela visita presidencial, como que a tentar atenuar o facto de que, quer queiram, quer não queiram, os socialistas serão sempre “marginais” a uma visita oficial protagonizada por um Presidente que, sendo hoje de todos os portugueses não foi o que eles apoiaram.
Como pode um partido político da oposição regional, de um momento para outro, dois anos depois de ter andado diária e sistematicamente a atacar o então candidato Cavaco Silva, um partido que dividia, numa rebaldaria interna infernal, entre o apoio oficialista a Soares e o apoio quase clandestino a Alegre, aparecer agora como uma espécie de arauto da visitas de Cavaco Silva, chamando a si o papel de tocar as trompetas anunciadoras da chegada?
Estou absolutamente convencido que durante a estada de Cavaco Silva na Madeira, vários “factos” políticos serão despoletados, essencialmente porque – e “isso vem nos livros”… – é nestes momentos que os partidos mais pequenos e de menor expressão política e eleitoral, conseguem o mediatismo que em situações normais, e ainda por cima numa realidade política regional mergulhada numa rotina e fortemente condicionada por uma bipolarização (recentemente atenuada…), não se alcança facilmente.
Por outro lado, é mais do que óbvio que aproveitando a visita de Cavaco Silva vão ser retomadas, com origens e intenções diferentes, as referências às divergências que existiram no passado – e não podemos ser hipócritas e despudoradamente querer passar sobre tudo isso uma esponja, porque a História não se apaga – entre o actual Presidente, o PSD da Madeira e particularmente Alberto João Jardim. Foram divergências que existiram em determinadas conjunturas políticas nacionais, que tiveram o seu tempo e causas próximas ou mais remotas, mas que não foram permanentemente alimentadas. O apoio do PSD da Madeira a Cavaco Silva nas últimas presidenciais foi inquestionável, aliás como o próprio teve oportunidade de constatar na sua visita ao Funchal.
Teremos certamente oportunidade de falar ao longo desta semana mais vezes no Presidente – na semana passada destaquei neste meu espaço de opinião pessoal, o discurso sobre os problemas que se colocam a Portugal por causa do envelhecimento da população e, mais do que isso, a forma como a sociedade portuguesa de uma maneira geral encara os idosos – na certeza de que, por coerência com as minhas ideias, e por razões que me dizem respeito, não renego que não fiz parte da estrutura regional de apoio a Cavaco Silva, nem fui eleitor de nenhum dos candidatos presidenciais em Janeiro de 2006. Mas isso não me dá autoridade moral para questionar a sua legitimidade democrática e reconhecer, aceitando no fundo a ideia, que não é nova, de que o Presidente pode muito bem vir a ser uma importante “ponte” viabilizadora do diálogo e da aproximação que entre a República e a Região Autónoma, é fundamental que exista, sem desconfianças, sem partidarismos manipuladores, sem visões pessoais redutoras desse diálogo institucional, sem vinganças revanchistas, preferencialmente acabando com excesso e com erros que naturalmente foram cometidos nos últimos anos

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira, 14 de Abril de 2008)

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