Opinião: COMEMORAR O QUÊ?

Mas há mais. A crise internacional do crédito imobiliário, que tem vindo a afectar instituições bancárias mundiais e a provocar uma instabilidade grave nos mercados, cujas consequências muitos especialistas garantem não ser ainda contabilizáveis nem previsíveis, em termos de durabilidade temporal, sobretudo porque associada à instabilidade do preço do petróleo (a OPEP esta semana já veio dizer que o preço do barril pode chegar aos 200 dólares e que se está nas tintas se isso acontecer...) pode gerar em 2008 mais cinco milhões de desempregados. A OIT admite essa ameaça no seu Relatório sobre as tendências mundiais do emprego: “O número de desempregados no mundo alcançou os 189,9 milhões no final de 2007 e a perda do ritmo de crescimento económico em 2008 elevará a taxa de desemprego mundial para 6,1% contra os 6% no ano passado”.
Há dias, e a propósito deste drama mundial que é o desemprego e da falta de respostas concertas para o amenizar, li o seguinte: “Falemos hoje da dor mundial. Fala-se muito do PIB mundial. Discorre-se em palestras académicas dos avanços científicos. Propaga-se como fogo num celeiro das comodidades dos modernos meios de comunicação, computadores e telemóveis de última geração, apenas para mencionar dois exemplos tão corriqueiros. Mas no meio a tudo isso, porque não falarmos que nessa aparente situação de bem-estar planetário, existe uma imensa dor em todo o mundo? Tomemos como exemplo os países mais ricos. Será que a riqueza desses se encontra acessível a todos os seus cidadãos? Atendamos à situação das desigualdades sociais: se em 1960, 20% dos mais ricos tinham 30 vezes mais recursos que os 20% mais pobres do mundo, agora, em 2007, esses mesmos 20% mais ricos já dispõem de riquezas superiores a 82% de tudo o que possuem os 20% mais pobres do mundo. Ou seja, a desigualdade entre riqueza e pobreza cresceu de forma quase astronómica. Na Europa vivem hoje 18 milhões de seres humanos desempregados. No mundo, os desempregados já ultrapassam a casa dos mil milhões. Será possível dormir… com um barulho desses?”.
II. Que raio de país é este que estamos a deixar que andem a construir nas nossas costas, onde até as esquadras de polícia – que antes, só por isso, metiam respeito e mantinham à distância os prevaricadores - agora já nem escapam à ousadia de quem já percebeu que a bandalheira atingiu tal regabofe e que aquelas instituições que têm a responsabilidade de olhar por todos nós e garantir a segurança da sociedade em geral, já não são capazes disso, ou porque não têm recursos, ou porque lhes esvaziaram competências? Que dizer quando somos confrontados com a hilariante, no início, mas dramática logo depois, notícia de 10 a 15 energúmenos entram tranquilamente numa esquadra de polícia de Moscavide, onde apenas se encontrava um agente, deram um arraial de porrada a um tipo qualquer com 20 anos, que perseguiam (e que ali tinha entrado em busca de segurança e formalizar uma queixa!), mantiveram o polícia quietinho a um canto a assistir a tudo, saíram como se nada de anormal tivesse acontecido? E que dizer quando se fica a saber, depois, que se trata de uma esquadra com um quadro de 40 agentes (estariam todos na rua, em actividade, ou alguns estavam numa situação de baldanço?), e que o Ministério da Administração Interna foi obrigado a emitir um despacho sobre a organização do dispositivo das forças de segurança, para garantir que estejam de serviço nas instalações da PSP e da GNR mais do que uma pessoa. É público que o MAI considera que não pode haver mais esquadras ou postos apenas com um agente ou militar de serviço. O curioso é ter que ser o ministro - e bem, dada a situação criada - a obrigar tanto o comandante-geral da GNR como o director nacional da PSP a tomarem as medidas adequadas à organização de um “dispositivo e das escalas em articulação com o secretário de Estado da Administração Interna". Num país civilizado e sério, onde os políticos são obrigados pelos eleitores a assumirem as responsabilidades e a sofrerem as consequências pela incompetência, já se tinham registado demissões. Em Portugal, nada disso é possível, porque funcionamos ao contrário, já que nem os responsáveis máximos pela PSP conseguem ser eficazes, obrigando o próprio Ministro a preocupar-se com…escalas de agentes. Só visto!
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 2 de Maio de 2008)
<< Página inicial