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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Opinião: JUSTIÇA, FUTEBOL E OUTRAS “GUERRAS”…

Não é novidade para ninguém esta “guerra” entre o Norte e o Sul, envolvendo agora o futebol – aliás, o “caso” FC Porto que ainda corre na justiça, caso conheça novos contornos, por exemplo a inibição do clube em participar na próxima edição da Liga dos Campeões, poderá originar graves tumultos, exactamente porque dois clubes de Lisboa (Benfica e Belenenses) seriam os grandes beneficiados com esse cenário ainda meramente hipotético e sem qualquer confirmação oficial pela UEFA – tem também uma forte componente política que transcende a mera rivalidade regional entre os nortenhos e os “mouros”. Aliás, eu não tenho dúvida que esta justiça desportiva que agora se vangloria e que reclama um estatuto de exemplaridade que não tem, conheceria decisão diferente e tomaria caminhos substancialmente opostos se, por exemplo, os seis pontos que retirou ao Porto, penalizando por actos de corrupção, lhe retirassem o título. Aí sim, é que eu queria ver a força da justiça desportiva e a capacidade de decisão e a coerência de todos os que a administraram. É muito fácil retirar 3 pontos a uma equipa (Leiria) que já tinha descido, irremediavelmente de divisão, e retirar outros 6 pontos a uma equipa (Porto) que era e continuaria a ser, irremediavelmente também, campeã nacional, dada a larguíssima vantagem pontual que desfrutava para o segundo classificado.
O problema, que subsiste, é esta ideia, que aos poucos se foi construindo à volta do fenómeno do futebol nacional, que ele simboliza a impunidade total em relação à ilegalidade, a suspeição crescente que circunda todas as decisões, futebol português que se transformou numa espécie de “antro de perdição”, onde tudo é permitido, onde se cruzam cumplicidade várias, mas que continuar a precisar de uma limpeza a sério, de gente séria no seu comando, de combater actos de corrupção, de esclarecer todas as dúvidas, de responder a todas as dúvidas, de combater os dirigentes, todos sem excepção, que se agarram aos lugares quais lapas, impedindo a renovação e a introdução de novas ideias e de novos modelos de gestão, tem que substituir pessoas que apenas se usar do futebol para mediatismos e protagonismo pessoal que nada tem a ver com a modalidade em si mesma, mas que se direccionam para outras frentes, políticas incluídas, precisa de castigar e afastar clubes que não cumpram as suas obrigações, de impedir que dirigentes condenados se mantenham em postos-chave, enfim, precisa de ser uma instituição exemplar, só possível com uma revolução que nunca poderá acontecer com quem se preocupa apenas em sobreviver e manter-se nos lugares e tem uma quota-parte de grande responsabilidade no estado a que as coisas chegaram.
Por isso quando me tentam agora dizer que as coisas mudaram, que agora temos processos judiciais, que há clubes penalizados, que temos “apitos” de todas as cores e todos os gostos, limito-me a rir. Porque na realidade, no essencial, tudo continua na mesma, porventura com mudanças pontuais, aqui ou acolá, que em nada beliscam o sistema, porque a revolução que, doa a quem doer, tem que ser feita para sobrevivência do próprio futebol, como a seu tempo teremos oportunidade de constatar. Basta que proliferem, como na próxima época vai acontecer, estou convencido, casos de clubes sem dinheiro para pagar salários e despesas salários em atraso ou mais casos de corrupção, para que tudo isto seja posto em causa e a bagunça continue, sem que a tal “justiça desportiva” que agora pomposamente por aí anda histérica e euforicamente saltitante, possa fazer seja o que for.
Neste quadro, futebóis à parte, registei há dias uma notícia curiosa, na medida que ajuda a perceber, assim espero, o essencial desta ”guerra” entre o Norte e o Sul, notícia que teve a ver com declarações de Rui Rio, o polémico Presidente da câmara do Porto mas que retratam um certo estado de espírito, se quiserem, uma maneira de estar, que ultrapassa, no plano político, o sentimento reinante nas bases de um ou de outro partido, pelo contrário, encontra fácil um grande consenso que transversalmente une partidos e personalidades de quadrantes diferentes, e que se repete sempre que se trata de defender o Norte e, mais particularmente o Porto. Uma realidade que, infelizmente, não podemos constatar exista noutras paragens (regiões) e que nem sequer se me afigura pensável, por razões que neste momento não vou desenvolver nem evidenciar.
De facto, o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, criticou recentemente o "excessivo investimento por parte do Estado em Lisboa, alegando que o mesmo atingiu um "patamar de exagero. Acho que isto atingiu um patamar muito para lá do que seria razoável", disse o autarca. Rio salientou que o limite do investimento na capital portuguesa foi ultrapassado com a verba de 400 milhões de euros destinados à reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa, lembrando ainda que "ao longo da história tem havido um excessivo investimento em torno da capital do país, com o consequente esquecimento" do restante território nacional”.
Serão precisas mas palavras?


Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 23 de Maio de 2008)

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