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Opinião e coisas do nosso mundo...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Opinião: PONDERAÇÃO

É inquestionável, até por uma questão de princípio, que estarei sempre ao lado de Alberto João Jardim nesta questão da sua pretensa candidatura ao PSD – nenhuma decisão foi tomada até ao momento, recordo - seja qual for a opção que ele tome. Concordo, tentando-me colocar no lugar do Presidente do PSD da Madeira, que o desafio não é fácil, que há um partido desmotivado, farto desta instabilidade interna quase permanente, desta luta de vaidades e de vaidosos, um partido refém de iluminados elitistas, e das suas manobras tontas, mas que olham para o seu umbigo e julgam que ali está o centro do mundo. Um desafio que não é fácil, porque estamos a falar de um partido armadilhado por interesses, oportunismos e mediatismos diversos, situação que exige que as coisas devem ser devidamente ponderadas, pensadas, fundamentadas. Não podemos ter certezas do que pensam as bases do partido, sem tentar saber o que elas realmente pensam. Na certeza de que as estruturas dirigentes ao contrário do que muitos julgam, não têm hoje a influência persuasiva sobre as pessoas que tiveram, no passado assim como a colagem de “nomes” aos candidatos há muito que deixou de constituir qualquer atractivo, ou, se quiserem, ”alpista” para atrair a passarada. Julgo que não seria bom para Alberto João Jardim, nem sequer para o PSD da Madeira e em primeira instância para a Madeira, um envolvimento aventureirista, precipitado e ditado mais por emotividade do que por calculismo pragmático, em que um candidato se limitaria a caminhar alegremente rumo a uma derrota, logo das “directas” que não deixaria de constituir um enxovalho público desnecessário, muito menos para quem lidera há mais de 30 anos, e com sucesso (que nada tem a ver com perfeição ou isenção total de erros) uma Região e um partido.
Neste contexto, entendo que não devo abordar durante algum tempo, quaisquer aspectos relacionados com a eventual candidatura de Alberto João Jardim à liderança do PSD, na medida em que recomenda o bom senso que se aguarde em primeiro lugar uma tomada de decisão definitiva do próprio sobre este tema. Tenho uma opinião pessoal sobre toda esta “novela”, que admito, seja, nalguns aspectos, diferente da que Alberto João Jardim defende. Mas não nos devemos esquecer que é ele o principal interessado e que, para haver uma candidatura protagonizada por ele, será apenas Alberto João Jardim, e mais ninguém, a decidir o que vai fazer. Por isso, por precaução, para evitar a especulação e porque o líder madeirense já estabeleceu uma data para uma decisão, que esta é a melhor opção. Uma coisa é certa, o assunto está a ser devidamente acompanhado e preparado, sem pressões, sem qualquer ansiedade, visando apenas que a decisão a ser tomada, quando for tomada, esteja devidamente fundamentada e com base em indicadores reais e não manipulados.
Telefonava-me ontem de Lisboa pessoa amiga que se (e me) interrogava sobre a aparente disponibilidade de Alberto João Jardim para se meter “neste saco de gatos”, embora convencido – e não se trata sequer de um militante social-democrata – que com os actuais candidatos a vida do PSD andaria ainda mais para trás, porque as pessoas estão “fartas” de ouvir falar nos mesmos nomes e de ver as mesmas caras. Dizia-me ele – e juro-vos que não estou a inventar nenhuma história de circunstância apenas para almofadar o que aqui escrevo – que o eleitorado, mesmo o que se afirma insatisfeito - nalguns casos desiludido, traído e irritado com as medidas de Sócrates, e com as promessas por ele feita se depois não cumpridas - perante a alternativa oferecida pelo PSD, seria forçado a escolher entre a abstenção ou até mesmo o voto contrariado no PS (visto como um “mal menor”), as quais acabariam por constituir as únicas alternativas. Esta perspectiva das coisas, concretamente do que se passa no PSD, vista de uma forma muito mais distante do que eu, e sem a emotividade que porventura possa utilizar, fez-me concluir, se dúvidas porventura existissem, que o grande desafio do PSD é o da mudança. Por isso, não acredito, ninguém acredita (?) que as bases social-democratas, o chamado “PSD mais profundo” - que já cometeu o grave erro de ter aceite, em 2004, a imposição de um mau cenário, para liderança do partido e para a chefia do governo (!), com todas as consequências negativas daí resultantes - voltem por absurdo a aceitar “comer tudo o que lhe colocarem na mesa”, sem resistência, sem indignação, ignorando a reclamada mudança, só para fazerem o frete a pessoas que não entendem o estado a que chegou o PSD. E mais, não perceberam que não se muda seja o que for, mantendo tudo na mesma, incluindo a continuidade na liderança das mesmas caras, por muito respeito que algumas delas nos mereçam. A que se associa o desplante descarado de sair e voltar quando se quer, por ser esse o cenário que melhor serve os nossos interesses ou ambições. Um absurdo que pode conduzir o PSD para o descalabro, pelo simples facto de ter faltado às bases, aos militantes que decidem, a responsabilidade, a força e a coragem de recusarem às pressões e de mandarem à fava alguns “barões”, “condes” e “viscondes” que se julgam donos de um partido, porque o vêm como uma espécie de “coutada” de acesso restrito e onde apenas meia dúzia pode mandar e manipular, e não como um colectivo alargado e multifacetado, construído na diferença, um projecto que congrega pessoas com liberdade de pensarem de forma diferente uma das outras, mas que devem estar unidas nos momentos onde provavelmente é a sobrevivência que se joga, muito mais do que o sucesso eleitoral, legítimo a quem acredita que as suas ideias e propostas são as que melhor servem o país. Neste cenário, alguém duvida que todo o cuidado nunca é demasiado e que o aventureirismo pode ser fatal?
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 30 de Abril de 2008)

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