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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Opinião: SONDAGENS

Eu não acredito - e torna-se um lugar comum estar permanentemente a dizê-lo sempre que se aborda esta temática - que algum partido político aceite definir a sua estratégia ou estabelecer as suas prioridades políticas em função de resultados de sondagens, particularmente de oscilações por elas reveladas, na medida em que isso revelaria fragilidades inconcebíveis e, pior do que isso, uma deplorável dependência institucional relativamente a factores exógenos nem sempre credíveis, que valem o que valem, mesmo quando, como tem acontecido neste caso concreto, eles possam (e devam) ser olhados como uma referência a ser tida em consideração.
O que é facto, é que existem sondagens que apresentam valores consistentes e constantes, barómetro que, no caso do PS, comporta (?) uma nova ameaça, à esquerda. Falo concretamente da tendência de subida eleitoral, conjunta, do PCP e do Bloco de Esquerda – aliás na linha da advertência (ou do alerta?) deixado recentemente por Mário Soares, quando recomendou a Sócrates e ao PS o retomar do discurso social (e a consequente atenção governativa a essa área de intervenção) e ao facto do agravamento dos sinais de crise social, poder colocar os socialistas - caso se confirme um cenário, hoje mais do que previsível, de não obtenção de maioria absoluta em 2009, terem que recorrer, caso ganhem as eleições, o que também não é adquirido, a negociações à esquerda – na dependência de um entendimento com os dois partidos à sua esquerda, ou mesmo com um deles.
Mais do que duvidar, como efectivamente duvido, que em 2009 a realidade política, parlamentar e governativa tenha qualquer semelhança com a actual – até porque, perante o inevitável agravamento da crise mundial, confirmada por indicadores de instituições internacionais, o governo revelará cada vez mais uma crescente incapacidade de enfrentar o impacto daí resultante na economia, nas empresas e nas famílias, deixando de ser capaz de suster a revolta dos cidadãos e a penalização eleitoral da imagem do PS junto dos portugueses – acho que este cenário de um entendimento político e parlamentar, viabilizador de uma maioria absoluta de esquerda, envolvendo o PS de José Sócrates e o PCP ou o Bloco, caso os socialistas mesmo assim consigam resistir, não se apresenta com grandes probabilidades de concretização.
Acontecimentos ocorridos ao longo desta Legislatura, o radicalismo do discurso do Bloco de Esquerda contra o PS e contra o governo de Sócrates, as reacções deste, na Assembleia da República ou no âmbito de iniciativas partidárias, por vezes com uma contundência surpreendente, a sistemática mobilização de contestação de rua, promovida pelo do PCP que para o efeito recorre a todos os recursos de manipulação – particularmente alguns dos sindicatos que ainda controla a par de uma máquina operacional e de logística que, apesar da renovação nos últimos anos, continua a ser eficaz e mobilizadora - em certa medida explicam esta minha dúvida quanto à receptividade de Sócrates a par do frenesim em torno da personagem em questão e da disponibilidade evidenciada por Manuela Alegre para participar em iniciativas de uma tal “nova esquerda alargada” que ninguém sabe muito bem do que se trata. Estou convencido que a maioria das pessoas que acompanharam esta “novela” que vale o que vale, interiorizaram a ideia de que a iniciativa do Bloco de Esquerda no teatro da Trindade – e que assumiu proporções na comunicação social determinadas pela capacidade de penetração que o BE consegue nalguns sectores jornalísticos continentais - visou sobretudo o PS, ou seja, foi claramente direccionada contra Sócrates, na tentativa de obrigar os socialistas e o seu líder a inflectirem n uma certa sobranceria e a abrirem mais à esquerda, concretamente, envolvendo mais o PCP e Bloco de Esquerda em determinados processos decisórios.
Há que ter presente, neste contexto que admito seja mais especulativo e opinativo do que realista, duas questões importantes: por um lado o facto do PS continuar hoje a não perdoar o facto de ter sido Manuel Alegre e prejudicar a candidatura oficial do PS nas últimas presidenciais, protagonizada por Mário Soares (uma opção obviamente errada, mas que acabou por dar a Alegre os fundamentos para a cisão e ajudam a perceber os resultados eleitorais, inclusive na Madeira, onde Alegre superou Soares!). Há uma espécie de ajuste de contas entre o PS e Alegre que eu admito continue latente, à espera da oportunidade devida, tal como não acredito que Sócrates esqueça esses acontecimentos. Por outro lado, PCP e Bloco de Esquerda, por causa da disputa numa área eleitoral comum, não escondem divergências insanáveis que em meu entender afastam qualquer cenário de envolvimento comum dos dois partidos em projectos políticos mais a sério, salvo as manifestações de rua contra o governo socialista, nas quais obrigatoriamente têm que aparecer. Veja-se a ânsia de Louça em estar presente em todo o lado, desde que haja contestação ou greves, sempre próximo das equipas de reportagem das televisões, para nelas ganhar espaço de antena que explica a sua disponibilidade para falar de tudo, sobre tudo, sempre contra o governo e contra o PS. Curiosamente contra o mesmo PS – e este o terceiro aspecto que pretendo evidenciar – que se coligou ao Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa e que garante aos socialistas (a troco de quê?) a maioria absoluta que em circunstâncias normais António Costa não disporia.
Enfim, a procissão vai ainda no adro como é costume referir. Mas não podemos deixar de acompanhar, com particular atenção, alguns factos políticos que poderão ser, a curto e médio prazo determinantes numa nova configuração política em Portugal. Neste contexto, nos meus próximos textos abordarei a estratégia do PSD - o primeiro erro de Manuela Ferreira Leite (votação da moção de censura do PP) que poderá indiciar outras questões políticas Maios complicadas e que não podem ser branqueadas no congresso de Guimarães – e os resultados de sondagens publicadas na semana passada que revelam alguns aspectos curiosos.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 11 de Junho de 2008)

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