Milhões de documentos secretos vão ser divulgados
Ao bater da meia noite do dia 31, em Washington, milhões de páginas de documentos secretos foram desclassificados e tornados públicos. Quando, em 1995, uma inspecção descobriu que os contribuintes ainda pagavam todos os anos milhões de dólares para que fossem protegidos documentos secretos da guerra fria, o então presidente Bill Clinton assinou uma ordem executiva estabelecendo um prazo de cinco anos para que os documentos fossem analisados e separados, e desclassificados os que, com mais de 25 anos, o pudessem ser. As agências envolvidas protestaram que o prazo era curto e este foi alargado para 2003. Nessa data, houve novo protesto e o presidente George W. Bush alargou-o para 31 de Dezembro de 2006. Esperava-se que o prazo fosse de novo alargado. Mas não: no fim deste ano vai mesmo haver uma enxurrada de documentos "ex-secretos".
Ou não? Anna K. Nelson, historiadora na American University que estuda o papel da CIA no Irão e a documentação sobre os acordos israelo-palestinianos de Camp David na era Jimmy Carter, lembra que "eles podem desclassificar os documentos, mas os arquivos não têm o pessoal necessário para os processar".
Nem todos os documentos vão ser tornados públicos. O FBI concordou em desclassificar 270 milhões de páginas de documentos, mas pediu que fiquem isentos dessa obrigação outros 50 milhões de páginas referentes a espionagem, contra-espionagem e terrorismo.
A CIA estudou mais de cem milhões de páginas, desclassificou 30 milhões e tornou-as acessíveis numa base de dados (Crest) a partir dos terminais nas salas do Arquivo Nacional podendo ser também pedidas cópias ao abrigo da Lei de Liberdade de Informação.
A Agência Nacional de Segurança vai tornar públicas 35 milhões de páginas de documentos. A partir de agora, todos os documentos são automaticamente desclassificados passados 25 anos sobre a data de emissão. Outras pergunta que se põe é quanto de verdadeiramente importante estará nessa montanha de documentação. Se a leitura de todo um processo é importante para saber o contexto em que foi tomada certa decisão, o facto é que para os investigadores as linhas gerais do processo são conhecidas e só lhes interessam dele poucas páginas. Como diz Britt Snider, ex-operacional de informações que hoje dirige o Conselho de Desclassificação de Interesse Público, "em vez da abordagem em massa, gostaria de ver as agências concentrarem-se primeiro no que é interessante e importante”.
Fonte: Manuel Ricardo Ferreira, Publico, Nova Iorque
<< Página inicial