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segunda-feira, 23 de abril de 2007

Artigo: Finanças Regionais: a dimensão da hipocrisia (II)

“A vingança é uma espécie de justiça bárbara, de tal maneira que quanto mais a natureza humana se inclinar para ela, tanto mais deve a lei exterminá-la. Porque a primeira injúria não faz mais que ofender a lei, ao passo que a vingança da injúria põe a lei fora do seu ofício. De certo, ao exercer a vingança, o homem iguala-se ao inimigo; mas, passando sobre ela, é-lhe superior; porque é próprio do príncipe perdoar. E tenho a certeza que Salomão disse: «É glorioso para um homem desdenhar uma ofensa». O que passou, passou, e é irrevogável; os homens prudentes já têm bastante que fazer com as coisas presentes e vindouras; não devem, portanto, preocupar-se com bagatelas como o trabalhar em coisas pretéritas.
Não há homem que faça o mal pelo mal, mas apenas na perseguição do lucro, do prazer ou da honra, etc. Porque hei-de ficar ressentido com alguém, apenas pela razão de que ele mais ama a si próprio do que a mim? E se alguém me fez mal, apenas por pura maldade, então, esse é unicamente como a roseira e o cardo que picam e arranham apenas porque não podem de outra forma proceder. A espécie mais tolerável de vingança ainda é aquela que vai contra ofensas que na lei não encontram remédio; mas, por isso, acautelai-vos, investigando se realmente não haverá para cada ofensa uma punição legal; caso contrário, o vosso inimigo ganhará vantagem, porque aliado à lei, terá dois votos contra vós. Alguns, quando exercem vingança, desejam que a pessoa saiba donde partiu o golpe. Isso é mais generoso, porque o prazer parece estar não tanto em arremessar o golpe como em obrigar o inimigo a arrepender-se, mas os covardes, baixos e vis, são como a seta que voa na escuridão”. Limitei-me a citar Francis Bacon (Ensaios — da Vingança), na medida em que este excerto reflecte uma realidade comportamental que se cola perfeitamente aos socialistas locais.
É público que a redução das transferências do Orçamento de Estado para a Região Autónoma das Madeira, já em 2007, significa menos 34 milhões de euros comparativamente a 2006. O PS nunca assumiu isso, pelo contrário, tentou insinuar que Jardim se demitiu pelos tais 34 milhões de euros e, não satisfeito, foram mais longe sustentando que essa verba corresponde a apenas 2% do orçamento regional para o corrente ano;
É público que entre 2007 e 2014, período de vigência da actual lei de finanças regionais, a Madeira perde cerca de 450 milhões de euros e que os Açores apenas ganharão 107 milhões de euros (por isso não se percebe bem este “negócio” entusiasticamente aplaudido por Carlos César). O PS nunca assumiu isso, pelo contrário, defendeu sempre a sua “dama”, sustentando que a lei de finanças regionais era uma boa lei para a Madeira;
É público que entre 2007 e 2014, a Madeira entre custos de insularidade e de desenvolvimento e fundo de coesão nacional, perderá 1.192,8 milhões de euros em transferências do Orçamento de Estado, enquanto que os Açores auferirão 1.1787,5 milhões de euros. Tenho para mim que estes cortes financeiros às regiões Autónomas indiciam, além de um comportamento persecutório no caso da Madeira, um sentimento socialista anti-autonomista e anti-descentralizador que certamente vai influenciar a posição do PS quando nova discussão nacional em torno da regionalização do Continente for retomada a curto prazo. Basicamente sabe-se que o Estado vai poupar 2.980,3 milhões de euros. Para quê e porquê? Para ajudar a combater o défice e o despesismo estatal socialista? Nada disso. A essa poupança resultante da redução das transferências para Madeira e os Açores corresponderão gastos desnecessários e polémicos em projectos como a OTA e o TGV, cuja lógica empresarial muita gente duvida. Ninguém sabe mais se a localização da OTA será a mais recomendável e se o projecto no qual o POS insiste tanto, será o mais barato. Ninguém sabe como é que o projectado TGV, obrigado como está a efectuar várias paragens no percurso — para que tenha passageiros!… — será um comboio de alta velocidade” (!)
O que eu recomendo às pessoas, peço a todos, é que não se deixem enganar pelo facilitismo de 8 mil postos de trabalho, de mais 350 novas empresas, da redução das taxas dos aeroportos sem dizer que isso passa por uma negociação com a União Europeia, em sistemas regionais de educação quando nem um nacional conseguiram idealizar e implementar, em sistemas fiscais próprios que apenas visam cortar mais receitas a Jardim e não ajudar as empresas ou as pessoas, etc. Reflictam sempre, quando estes “profetas” outrora da desgraça, agora vencedores de ilusões, que não podem ser levados a sério, porque apostados em vender “gato por lebre”. Não acreditem em promessas de solidariedade vindas daqueles que sempre primaram pela ausência de qualquer forma de solidariedade política ou institucional, quando isso era o mínimo que deles se poderia esperar.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 19 de Abril 2007

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