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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Artigo: ABSTENCIONISMOS

Quando anteontem escrevi que o PS – pelos depoimentos que ouvi nas televisões – teve que recorrer a militantes socialistas de outras paragens, nomeadamente do Norte e do Sul do país, para ter a garantia que fazia uma festa de vitória, pretendi acima de tudo colocar em evidência a dimensão do desinteresse, mesmo entre os vencedores, que estas eleições intercalares em Lisboa junto dos cidadãos, e nada mais, até porque sei como é que o sistema partidário funciona no que a isso diz respeito”! Esta situação ajuda a perceber a vergonhosa taxa de abstenção que não pode ser escamoteada, tal como questiona, não a legitimidade dos eleitos, como é óbvio, mas a sua representatividade.
De facto, um dos aspectos politicamente mais graves das eleições para a Câmara de Lisboa, em meu entender - e isto nada tem a ver nem com a vitória do PS, nem com a penalização e a derrota sofrida pelo PSD - tem a ver com a elevada abstenção registada num acto eleitoral realizado como epílogo do acumular de diversas situações e de factos que em nada abonaram a favor dos políticos ou dos partidos. Vamos aos números de 2007:
Inscritos, 524.248 eleitores
Votantes, 196.041 (37.39%)
Abstenção, 328.207 (62,6%)
Votos em Branco, 4.549 (2.32%)
Votos Nulos, 3.096 (1.58%)
PS, 57.907 votos (29.54% e 6 mandatos)
Lista de Carmona Rodrigues, 32.734 (16.70% e 3 mandatos)
PPD/PSD, 30.855 (15.74% e 3 mandatos)
Lista de Helena Roseta, 20.006 (10.21% e 2 mandatos)
PCP-PEV, 18.681 (9.53% e 2 mandatos)
Bloco de Esquerda, 13.348 (6.81% e 1 mandato)
Se recusarmos a 2005, e compararmos estes resultados deste ano com esses, temos que recordar o que então se passou:
Inscritos, 536.450 eleitores
Votantes, 282.443 (52.65%)
Abstenção, 254.007 (47,4%)
Votos em Branco, 7.538 (2.67%)
Votos Nulos, 4.733 (1.68%)
PPD/PSD, 119.837 votos (42.43%, 8 mandatos)
PS, 75.022 (26.56%, 5 mandatos)
PCP-PEV, 32.254 (11.42%, 2 mandatos)
Bloco de Esquerda, 22.342 (7.91%, 1 mandato)
CDS-PP, 16.723 (5.92%, 1 mandato)
Deste acto eleitoral ressalta não só a gravidade do alheamento das urnas, como também a inconveniência de realização de eleições em pleno Verão – espero que os apologistas da junção das europeias com as legislativas para a Assembleia da República, no Verão de 2009, tenham retirado as ilações quanto aios perigos desse calendário e que o PSD nacional, de uma vez por todas de deixe de asneiradas e recuse tal cenário – e a abertura de um precedente em torno das chamadas candidaturas independentes. Basta ver que Carmona Rodrigues, a causa próxima de tudo isto, acabou por ser o segundo mais votado numa demonstração de como se consegue branquear nas urnas, responsabilidades que não podem ser escamoteadas com resultados eleitorais em contextos como este. Para mim, Carmona Rodrigues beneficiou essencialmente do facto do PSD nunca ter sido capaz de explicar porque provocou (ou acelerou apenas?) a queda do executivo autárquico anterior na sequência de vários casos presentemente na justiça, um dos quais entretanto arquivado. Carmona acabou por beneficiar dessa “ignorância” a que PS e PSD em relação à sua pessoa lhe dedicaram, pelo que quase passou “ao lado” da disputa entre socialista e social-democratas, acabando por ser um dos principais responsáveis pela derrota destes últimos.
Uma nota final: há dois ganhadores (Abstenção e PS) e diversos perdedores. Provavelmente todos os que, hipocritamente, reclamam vitórias porque elegeram mandatos. Por isso, vamos aos números, porque é com eles que eu gosto de opinar: entre 2005 e 2007, ressalvando que os valores de Carmona e de Roseta não podem ser contabilizados para efeitos comparativos, estavam inscritos menos 12.202 eleitores, votaram menos 86.402 eleitores, a abstenção aumentou em 328,207 eleitores (!!!), os votos brancos e nulos baixaram 4.626 boletins, o PS perdeu 17.115 votos, o PSD levou uma “cacetada” de 88.982 votos a menos, o PCP perdeu 13.573 votos, o Bloco de Esquerda perdeu 8.994 votos e o CDS perdeu 9.465 votos. Perante esta realidade, como se pode dar credibilidade à hipocrisia de “vitórias” que, salvo a da abstenção e a do PS, ninguém vê? Só se for debaixo do “tapete”...
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madedira, 20 de Julho 2007

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