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quinta-feira, 19 de julho de 2007

Artigo: ALBERTO JOÃO JARDIM E O DESPORTO

Assisti ontem na Assembleia Legislativa, sentando na bancada dos jornalistas (que foi a minha durante mais de 15 anos, mas eu sei que até esse “pormenor” incomoda ou é motivo de comentários tontos de alguns menores que não se preocupam, como deviam, com o facto de andarem por aí metidos em jogadas de intriga e de fabricação de falsidades, permanentemente a dizer mal de terceiros, tentando enxovalhá-los, só porque podem constituir uma “ameaça” na complicada corrida pela luta pelo poder…) a um debate sobre questões relacionadas com a politica desportiva regional – e que foi despoletado por uma iniciativa do PSD, um projecto de proposta de lei à Assembleia da República intitulado “FUNDO NACIONAL DE INTEGRAÇÃO DESPORTIVA”, que foi aprovado, o qual visa acabar com determinadas injustiças, entre as quais a de que seja Região a suportar as viagens com a deslocação de atletas chamados às selecções nacionais, um verdadeiro absurdo, escandaloso e intolerável.
Mas à volta deste tema ouvi muitos argumentos, todos eles pouco convincentes, mas que confirmaram uma ideia preconcebida, a de que o Governo Regional da Madeira tem a obrigação de olhar, de uma forma diferente para a realidade desportiva com que nos confrontamos. E só Alberto João Jardim, aliás tal como ele prometeu, pode viabilizar esse debate sério, livre e construtivo. Não se trata de discutir os direitos da Região em participar nos campeonatos nacionais, de esquecer os títulos conquistados pelos nossos jovens ao longo de todos estes anos, de espezinhar o papel do desporto numa sociedade como a madeirense, de ignorar o significado da política desportiva, desde o desporto escolar ao desporto profissional de topo, para a Autonomia regional da Madeira. Nada disso é discutível. Creio que ninguém de bom senso questiona seja o que for, a esse nível. Mas esses actos não podem branquear ou manipular e condicionar seja o que for. Temos que olhar para o outro lado da moeda, para a estrutura desportiva regional que n alguns aspectos me parece caduca, para o amadorismo reinante, para o artificialismo financeiro em que clubes e associações vivem, para uma evidente situação de hiper dependência financeira que gerou acomodamento, dada a desnecessidade de iniciativas próprias para procurar receita complementares, para o empolamento desordenado da participação em competições nacionais nalgumas modalidades, sem critérios e sem qualidade, para equipas madeirenses cuja maioria esmagadora dos praticantes nem da Região são, para o facto de haver campeonatos nacionais em determinadas modalidades, hiper valorizados pela participação madeirense, mas cujos títulos nacionais são depois conquistados pelas únicas equipas continentais presentes, com orçamentos mais reduzidos, etc.
Neste quadro, porque nem o Desporto se pode arrogar a que tudo está bem – porque não está – o meu apelo é ao Presidente do Governo, grande responsável pelo sucesso desportivo e competitivo da política desportiva regional, mas que só ele pode ser o dinamizador do debate, da reflexão e da mudança, caso seja esse o entendimento. Foi ele, aliás, quem há dois anos defendeu a realização de um Congresso do Desporto da Madeira, porque “nada poderia continuar na mesma, encontro esse destinado à reflexão, ao debate de ideias, à inventariação estatística de uma realidade tantas vezes escondida, à apresentação de propostas concretas de mudança e de melhoria. Não podemos aceitar mais um certo marasmo, um desporto transformado numa “quinta”, onde só alguns, os que por lá andam, ditam as regras e têm direito a falar e de tudo, até do que não sabem. Não se pode partir para um debate dessa natureza (e se foi Alberto João Jardim a avançar com a ideia, certamente que o fez em função de determinadas prerrogativas e não por mero acaso) sobre questões desportivas concretas, de uma forma superficial, dizendo meia dúzia de “larachas” para que tudo continue na mesma e ainda por cima julgando que descobriram o “pólo norte”, como se no desporto madeirense fossem só virtudes e não existissem problemas e futilidades.
Eu acho lamentável que o parlamento madeirense tenha que discutir a questão dos pagamentos das viagens das equipas madeirenses – não sei o que se passa com as formações açorianas – que vão às provas nacionais e que os atletas chamados às selecções regionais, insisto nesta questão, sejam pagos pelo orçamento regional para representarem o pais. Acho tudo isto uma vergonha, um atentado à nossa dignidade e que, por isso, há muito deveria ter motivado o protesto dos clubes e das federações, o que não aconteceu. A continuidade territorial não se discute nem pode ser apenas uma “coisa” que consta de meia dúzia de papéis. A continuidade territorial num Estado tão doentiamente apostado em marcar a sua soberania, é um dever desse Estado e coloca-lhe responsabilidades, deveres, compromissos, que não pode ignorar. Não podemos ter portugueses de segunda e cidadãos de primeira. Mas a verdade é que me apercebo do silêncio, porque as pessoas estão “noutra”. Duvido que os madeirenses em geral, a opinião pública, tenha cabal conhecimento do que se passa. Mas quando se cortam as verbas, até parece que o céu desaba sobre as pessoas, e aí tudo muda. Não contem comigo, já uma vez afirmei aqui, para dizer que o desporto madeirense é um ”paraíso” só porque isso seria do agradado da nomenclatura. O que eu penso é que Alberto João Jardim tem toda a legitimidade para preparar com todo o cuidado e empenho esse Congresso do Desporto, que ele anunciou, virando-o para o futuro, tendo o presente como ponto de partida. Não se vive de saudosismos nem de chauvinismos. UM Congresso que realize fora do “esquema” montado, sem uma intervenção controleira e castradora do “establishment” desportivo. O sistema não fomenta o debate sobre si próprio, muito menos em iniciativas que exigem seriedade e a coragem de “chamar os bois pelos nomes”. Se a Região diz que não tem recursos financeiros para determinadas situações, não creio que deva continuar a insistir na manutenção de certos estatutos, ainda por cima assentes nos apoios financeiros que certamente não podem continuar na mesma, como se as limitações orçamentais da Região fosse para umas “coisas” mas passassem ao lado do desporto.
Uma nota final: estou-me borrifando – repito, borrifando – para as habituais “aves de rapina” que por aí andam à procura de confusão, ou que se limitam a atacar quem aponta o dedo seja o que for, de forma construtiva. O Presidente do Governo e líder do PSD foi o primeiro a chamar a atenção para a necessidade de combater a arrogância, o autoritarismo, o auto-convencimento, etc. E foi ele, também, o primeiro a dizer que nada pode continuar na mesma…
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 19 de Julho 2007

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