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quinta-feira, 12 de julho de 2007

Artigo: Lisboa

Quem chega a Lisboa e vê espalhados pela cidade cartazes, de todas as formas e cores, facilmente se apercebe que não se trata de nenhuma passagem de moda, nem de um concurso de eleição de misses ou misteres. Se assim fosse, ainda andaríamos mais fundo do que se julga. Tenho a sensação que as pessoas, concretamente os lisboetas, estão-se borrifando para estas eleições, o que não significa que as abstenções possam atingir os níveis “escandalosos” de que alguns candidatos (e partidos) falam. Uma cosia é a atenção dada pelas pessoas ao debate e á demagogia eleitoralista que caracteriza qualquer campanha eleitoral, outra coisa é a percepção dos cidadãos de Lisboa de que a cidade precisa urgentemente de que façam por ela alguma coisa. Confesso-vos que das coisas que mais me têm irritado nesta campanha eleitoral – para além de continuar a não perceber como é que o PSD foi buscar Fernando Negrão a Setúbal, e para quê, onde foi candidato derrotado à respectiva Câmara, em 2005, estava a realizar paulatinamente um trabalho que em 2009 provavelmente lhe daria outras possibilidades de sucesso, para o “queimar” e o trazer para Lisboa onde claramente anda aos “caídos”, graças a um processo politicamente mal gerido e que, por isso, terá inevitáveis consequências partidárias como veremos a curto prazo – prendem-se com o facto da candidatura de António Costa, do PS, assumir claramente uma postura governamentalista, por mero oportunismo, tentando aproveitar as alegadas vantagens de uma relação directa entre uma vitória do PS na Câmara da capital com o governo socialista da República (afinal esse pecado não era só madeirense?...). António Costa, que é politicamente habilidoso, sabe que precisa de adoptar um discurso político contundente para com os opositores e distante do governo de Sócrates, para tentar livrar-se de uma penalização eleitoral, furtando-se assim à possibilidade do eleitorado de Lisboa decidir penalizar o governo de Sócrates e, nessa onda, penalizar a candidatura socialista à capital. Vamos a ver o que acontecerá a Costa que continua longe, e provavelmente sem nunca a alcançar, da pretendida maioria absoluta. O segundo facto prende-se com Carmona Rodrigues, um indivíduo que se rotula a si próprio de “independente”, mas que foi ministro de um governo do PSD, que foi candidato do PSD à Câmara de Lisboa, que antes disso fez parte de uma equipa camarária apoiada pelo PSD e liderada por Santana Lopes. “Independente”? Como? É preciso ter vergonha para insistir nessa treta. O curioso é que quem ouve falar Carmona Rodrigues, até parece que não era ele o Presidente da Câmara de Lisboa, que não foi ele a causar confusão com o vereador do CDS/PP de onde resultou a perda de maioria absoluta, que não foi ele ou os seus colaboradores mais próximos a aparecerem todos os dias na comunicação social por alegado envolvimento em “casos” e em suspeições, alguns dos quais estão ainda a decorrer nos tribunais (e não me refiro ao processo relativo aos pagamentos indevidos de chorudos prémios aos administradores de uma empresa municipal, pagamentos esses que levaram ao processo contra um dos vereadores por força das suas funções na edilidade), etc. Mas estamos a falar de uma cidade que, muitas vezes, corresponde a uma realidade que não é a que muitas vezes as pessoas vão construindo em grande medida apenas por se tratar da capital. De facto, Lisboa perdeu mais de 135 mil eleitores nos últimos dez anos, 13 mil dos quais desde as eleições autárquicas de Outubro de 2005. Se em 1997 existiam 658.700 eleitores, para estas intercalares do próximo domingo estão recenseados apenas 523.302 indivíduos. De acordo com indicadores oficiais, nas últimas eleições autárquicas estavam recenseados em Lisboa 536.450 cidadãos (estamos a falar da chamada grande Lisboa, não do distrito de Lisboa na sua totalidade, dado que apenas se realizam eleições intercalares na capital e não nas restantes autarquias da área metropolitana), o que significa que só num espaço de quase dois anos a capital perdeu 13 148 eleitores. Após o 25 de Abril, o número máximo de eleitores lisboetas ocorreu em 1985, com 675.033 pessoas. Desde então, este número tem vindo a decrescer até os 523.302 de 2007. A maioria dos votantes será do sexo feminino - as mulheres representam 55% do total de eleitores (285.966) contra 237.336 homens (45%). O retrato eleitoral da capital mostra que maioria dos eleitores (175.770) está na faixa etária dos 30 aos 49 anos, com os jovens (18 aos 29) a totalizarem apenas 61.347 votantes. Com cada vez menos eleitores, Lisboa é ainda uma cidade com elevado número de idosos – só 159.049 eleitores têm mais de 65 anos, enquanto 127.136 representam a faixa etária entre 50 e os 64 anos. A abstenção é uma das maiores preocupações nestas eleições, dada a época do ano em que se realizam e ao facto de muitos lisboetas estarem de férias. Nas autárquicas de 2005, a abstenção ascendeu a 47,5%.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 11 de Julho 2007

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