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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Artigo: PARTIDOS E AUTONOMIA

É mais do que evidente que tudo o que se passa no PS local diz respeito sobretudo aos seus militantes e simpatizantes, numa expressão aos eleitores socialistas. Em política é normal a disputa entre partidos, mal andaríamos se tal não acontecesse. Obviamente que há partidos de projecto e partidos de demagogia, partidos de poder e partidos de sistema, que não sendo, nem nunca chegando a ser, partidos de poder, acabam por assumir, alguns deles, e em determinadas circunstâncias, uma posição charneira que lhes dá uma importância acrescida. Veja-se o que aconteceu ao CDS/PP de Paulo Portas, na última coligação com o PSD. Tudo porque os social-democratas precisavam dos populares para garantirem a maioria absoluta o que garantiu aos centristas uma visibilidade governamental, empolada relativamente á sua real dimensão eleitoral e parlamentar.
No caso concreto da Madeira, é sabido, porque isso não constitui surpresa nem novidade para ninguém, que as ”coisas” entre PSD e PS nunca funcionaram bem. Houve sempre uma bipolarização que teve (tem) nos dois partidos os seus principais pólos e protagonistas e pólos de uma disputa que conheceu alguns e baixos, que aos poucos se foi acentuando e radicalizando, transformando-se numa bipolarização praticamente assumida por socialistas e social-democratas. Portanto, é lógico pensar que ao PS pouco ou nada interesse o que acontece no PSD, assim como para os social-democratas, seja indiferente o que se relacione com o PS pouco.
Vem isto a propósito do último Congresso do PS local no qual foi eleito João Carlos Gouveia, uma candidatura longe de ser consensual, que surpreendeu por ter sido a única a resistir à onda de desistência e a pressões diversas para que abandonasse a corrida. Estamos a falar de um líder surpreendente, sem um percurso histórico e tradicional nos socialistas, e que durante muito tempo personificou o radicalismo que o próprio PS hesitava entre adoptar ou renegar. O caso do processo judicial movido pelo Presidente do Governo e do qual resultou a condenação do agora líder socialista, por declarações proferidas ainda na campanha eleitoral de 2004, antes de ter sido eleito pela primeira vez deputado regional ou as suas declarações sobre a justiça, são dois exemplos de uma agressividade deslocada, que são certamente a sua imagem de marca, mas que podendo ser toleradas no deputado João Carlos Gouveia, tenho a convicção que deixam de o sem, naturalmente, no João Carlos Gouveia Presidente do PS.
Embora possa pensar da mesma maneira – e certamente que o fará – Gouveia tem que perceber que há uma mudança de estatuto pessoal no seio do PS. Mas quando se constata que Gouveia manterá Vítor Freitas, líder parlamentar – correndo este o risco de sair do parlamento em 20089 quando Bernardo Trindade e Jacinto Serrão reassumirem os seus lugares na Assembleia Legislativa – assim como insiste na inadequada candidatura de Bernardo Martins, ignorando os anti-corpos, não só políticos, como também pessoais, que certamente impedem que o deputado de Machico seja eleito, pelo menos com os votos do PSD e creio mesmo que pelo MPT, seja hoje, em Outubro ou daqui a cem anos, Gouveia dá uma ideia penalizadora, de pretender ser “mais do mesmo” e, pior do que isso, de estar refém do sistema que porventura o levou transitoriamente ao poder. Admito que vários sectores socialistas locais exijam a Gouveia um discurso mais radicalizado, mais contundente, mais agressivo, que certamente não constituirá nenhuma mais-valia política e eleitoral para o PS. Mas daí o que resultará de certeza absoluta será o desgaste pessoal de Gouveia, porventura o que esperam os seus “apoiantes” quando lhe dão o “gás” todo. Quando deixar de interessar, quando for “descartável”, Gouveia aperceber-se-á então do logro de tudo isto.
Depois de 6 de Maio, certamente que o PS não tem dificuldades em concluir que precisa de mudar de discurso, de se reorganizar, de ter um aparelho liberto de condicionalismos, de se posicionar a pensar em 2011 e de escolher, entre uma submissão política quase permanente face a Lisboa, e um certo grito de libertação que signifique que coloca os interesses da Madeira em primeiro plano, sem temer que em determinados momentos, quando o interesse regional o justifique e exija, tenha posições comuns às do PSD e dos outros partidos, sem que daí venha qualquer perda de identidade e autonomia própria. Quando se trata de defender a Madeira, existirão sempre visões diferentes dos problemas e propostas de resolução desses problemas que naturalmente serão divergentes. Mas o cerne da questão, é que a defesa da Madeira e dos interesses do seu Povo, tem que estar, sempre, acima dessas formas diferentes de encarar os problemas ou de resolvê-los.
João Carlos Gouveia - que tem dado provas de que vai deixar que tudo continue na mesma, talvez devido à sua própria vulnerabilidade interna - tem certamente a noção de que é considerado um líder a prazo, que não pode dar a ideia de que anda “amarrado de curto”, que não pode pisar o risco, que não deve permitir que o PS da Madeira possa pensar e comportar-se de forma diferente do que aconteceu no passado. Não se trata de ter um PS ”vira-casadas” que ninguém está à espera disso, nem ficaria bem aos socialistas uma situação dessas. Trata-se apenas de reposicionar-se, de procurar e ocupar um espaço próprio, de deixar que as tácticas, as estratégias, os programas de governo, sejam “impostos” de fora ou por pessoas quem, tanto “fogem” quando a derrota acontece, como tentam a meio caminho neutralizar as candidaturas que se foram esboçando, para que fossem elas as alternativas pretensamente consensuais.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 08 de Agosto 2007

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